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Quando diz respeito à aquisição de linguagem, que realmente se inclui na categoria mais ampla da aquisição de conhecimento, é impossível para uma pessoa aprender o significado de uma palavra pela sensação. Um pai pode tentar ensinar seu filho o que a palavra “carro” significa apontando para um carro. Antes de tudo, sobre a base do empirismo, a criança não pode nem mesmo ver ou conhecer o pai, o carro e o ato de apontar, mas nós ignoraremos isso por ora. A criança ainda deve fazer uma inferência a partir do ato de apontar do pai. Se o pai tenta ensinar ao seu filho o significado da palavra “carro” apontado para um carro, então, para a criança, a palavra “carro” pode significar o ato de apontar, o dedo usado para apontar, a cor do carro, qualquer parte do carro, o carro juntamente com a rua e a paisagem de fundo, qualquer objeto maior, o significado de “ali” ou “deixa pra lá”, e um número infinito de outros significados possíveis. O ponto é que o ato de apontar para um carro não produz a inferência necessária de que “carro” signifique o que queremos dizer pela palavra. Se alguém tenta sobrepujar o problema apontando para muitos carros, então o significado da palavra pode, na melhor das hipóteses, se tornar um “transporte”, que pode ser um elefante ou camelo em algumas partes do mundo. Mas até mesmo o conceito de transporte não é uma inferência necessária do ato de apontar para muitos carros.
Além disso, ensinar a alguém o significado de uma palavra repetidamente apontando para seu objeto correspondente, juntamente com a menção da palavra, é um método que depende de exemplos limitados de apontar com a intenção de produzir uma definição de uma idéia universal (tal como “carro”) na mente de outra pessoa. Mas a indução sempre é uma falácia formal. Mesmo se limitarmos grandemente as possíveis inferências falsas a partir da observação de repetidos atos de apontamento, como o observador sabe que tipo de carros é pretendido pela pessoa que está apontando — somente aqueles feitos dentro das últimas duas ou três décadas? Se a pessoa quer incluir carros mais velhos, então ela deve encontrá-los, e apontar para eles também. É uma inferência inválida pensar que a palavra “carro” pode se referir a qualquer carro na história simplesmente porque alguém apontou para diversos carros.
Em adição, aquele que aponta deve mexer sua mão ou sua cabeça para o mesmo objeto que a palavra não pode designar, incluindo itens que não tenham sido ainda feitos; de outra forma, nada impede o observador de inferir que “carro” possa se referir a objetos que são realmente excluídos pela palavra. Portanto, para validamente definir uma palavra pelo mero apontamento, a pessoa deve apontar cada objeto passado, presente e futuro pretendido pela palavra, e mexer sua mão ou cabeça para cada objeto passado, presente e futuro excluído pela palavra. Mas em primeiro lugar, como o observador sabe o que o apontamento e a sacudidela significam? Se ele não sabe ainda, então como podemos ensiná-lo? Se tentarmos ensiná-lo o significado desses gestos por uma epistemologia empírica, então enfrentaremos todos os problemas acima novamente, e muitos outros que eu não tenha mencionado.
Se uma pessoa pergunta a outra pessoa o que “andar” significa, a segunda pessoa pode se levantar e começar a andar na tentativa de mostrar à primeira pessoa o que andar significa. Mas então, a primeira pessoa deve fazer inferências a partir do que ela observa, e como temos mencionado, todas essas inferências são inevitavelmente falaciosas. Desse exemplo, alguém pode inferir que “andar” significa ficar de pé, sair, ficar de pé e sair, ficar de pé e andar, e uma série de outras coisas. Antes de tudo, como o observador sabe que essa pessoa está tentando responder sua pergunta mostrando-lhe o que “andar” significa? Se a segunda pessoa disser à primeira pessoa que ela estará lhe mostrando o que “andar” significa andando de fato, então podemos perguntar, antes de tudo, como elas aprenderam as palavras para comunicar isso. Como temos mostrado, elas não podem ter aprendido as palavras por meios empíricos. Se as duas pessoas já estão andando juntas, a que está sendo questionada pode andar mais rápido para enfatizar o ato de andar, mas então como o observador pode distinguir entre andar, acelerar, caminhar ou correr? Ainda mais perplexante é como uma pessoa pode aprender as palavras “Deus”, “fé”, “é”, e “justiça” sobre a base do empirismo.
Se uma pessoa tenta responder a questão do que “andar” significa dando uma definição verbal, então ela deve usar palavras. Mas como essa pessoa aprende as palavras que ela está para usar? Também, para entender a definição, o ouvinte deve também conhecer as palavras que compõem a definição, mas como isso é possível sobre a base do empirismo? Além do mais, se ambos deles pensam que eles entendem as palavras na definição, como eles podem saber que seu entendimento das palavras é o mesmo? Se eles tentam assegurar que eles têm as mesmas definições para as palavras usadas na definição da palavra em questão, discutindo o que elas pensam que as palavras significam, então eles precisam usar palavras novamente, de forma que todos os problemas anteriores ocorrem novamente.
Mesmo se assumirmos que os sentidos podem perceber os sons das palavras, o acima exposto mostra que a mente já deve saber os significados das palavras antes que ela possa entender os sons transmitidos à mente pela audição ou sensação da pessoa. Mas nós temos mostrado também que a mente nunca pode aprender os significados das palavras pela sensação. Portanto, o conhecimento não pode vir de fora, mas se ele for possível de alguma forma, ele
deve vir de dentro. Na epistemologia cristã, algo desse conhecimento é inato, de forma que “Cristo ilumina todo homem já nascido por tendo-os criando com um dom intelectual e moral... Esse conhecimento é uma parte da imagem de Deus com a qual Deus criou Adão”.[48]
Embora não iremos sumarizar aqui os argumentos detalhados do De Magistro de Agostinho, reproduziremos sua conclusão:
Por meio de palavras, portanto, aprendemos somente palavras ou, antes, o som e a vibração de palavras. Pois se aquelas coisas que não são sinais não podem ser palavras, mesmo que eu tenha ouvido uma palavra, eu não sei que essa é uma palavra até que eu saiba o que ela signifique. Assim, quando coisas são conhecidas, a cognição das palavras também é realizada, mas por meio de ouvir palavras elas não são aprendidas. Pois nós não aprendemos as palavras que sabemos, nem podemos dizer que aprendemos aquelas que não sabemos a menos que seu significado tenha sido percebido; e isso acontece não por meio de ouvir palavras que são pronunciadas, mas por meio de uma cognição das coisas que são significadas. Pois é o raciocínio verdadeiro e mais corretamente dito que quando as palavras são expressas, ou nós já conhecemos o que elas significam ou não conhecemos. Se conhecemos, então relembramos antes do que aprendemos, mas se não conhecemos, então nem mesmo relembramos...
Mas, referindo agora às coisas que entendemos, consultamos, não o locutor que expressa palavras, mas o guardião da verdade dentro da própria mente, pois temos talvez sido relembrados pelas palavras para assim o fazer. Além do mais, aquele que é consultado ensina; pois aquele que é dito residir no homem interior é Cristo, isto é, a excelência imutável de Deus e sua eterna sabedoria, que toda alma racional deveras consulta. Mas ali é relevado a cada um tanto quanto ele possa apreender através de sua vontade, segundo ela seja mais perfeita ou menos perfeita. E se algumas vezes alguém é enganado, isso não é devido a um defeito da luz externa, pois os olhos do corpo são frequentemente enganados... [49]
NOTAS DE RODAPÉ:
[48] Gordon H. Clark, The Johannine Logos; The Trinity Foundation, 1989 (original: 1972); p. 27.
[49] Augustine, De Magistro; Prentice-Hall Publishing Company, 1938. Aqui nós temos chegado ao assunto de lingüística e sua relação para com a epistemologia e metafísica, mas não gastaremos tempo desenvolvendo-a aqui.
[...] ".
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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Questões Últimas. ed. 2004. pp. 38-40.
Traduzido por:
Felipe Sabino, em agosto de 2005.
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