quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O ARGUMENTO TELEOLÓGICO — Vincent Cheung

O ARGUMENTO TELEOLÓGICO também pode ser chamado de argumento do projeto. É historicamente associado ao trabalho de William Paley, [6] que argumentou da seguinte forma:

     Ao cruzar uma charneca, supondo que eu tropece numa pedra, e fosse perguntado como ela veio a estar ali, eu possivelmente poderia responder, que, por qualquer coisa que eu sei ser o contrário, ela sempre estivesse ali; nem seria, talvez, muito fácil mostrar o absurdo de tal resposta. Mas suponha que eu
encontrasse um relógio no chão, e fosse inquirido sobre como ocorreu de o relógio estar naquele lugar: dificilmente deveria eu pensar na reposta dada antes — que, por qualquer coisa que eu sei, o relógio pudesse haver estado sempre ali.

Todavia, por que não deveria essa resposta servir tanto para o relógio quanto para a pedra? Por que ela não é admissível no segundo caso e o é no primeiro? Por essa razão, e por nenhuma outra, a saber, que, quando vamos inspecionar o relógio, percebemos (o que não poderíamos descobrir na pedra) que suas várias partes estão planejadas e postas juntamente para um propósito, e.g., que estão assim formadas e ajustadas para produzirem movimento, e que tal movimento está assim regulado para fornecer a hora; que, se as diferentes partes houvessem sido talhadas diferentemente do que elas são, se tivessem um tamanho diferente daquele que têm, ou fossem colocadas de qualquer outra maneira, ou em qualquer outra ordem que não aquela em que estão postas, ou movimento nenhum pode ser levado adiante pela máquina, ou ninguém que tivesse respondido se beneficia então de seu uso...

     ...a inferência, concluímos, é inevitável, o relógio deve ter tido um fabricante; deve haver existido, em algum tempo, e em algum lugar ou outro, um artífice ou artífices que o construíram com o propósito que descobrimos ser a resposta verdadeira; que compreendeu sua construção, e intentou seu uso...

     Toda indicação de invenção, toda manifestação de projeto, que existia no relógio, existe nas obras da natureza; com a diferença, pelo lado da natureza, de ser maior e em maior quantidade, e isso em um grau que excede todo cálculo. Quero dizer que as invenções da natureza ultrapassam as da arte, na complexidade, sutileza, e peculiaridade do mecanismo; e mais ainda: se possível, vão além em número e variedade; todavia, em inúmeros casos, não são menos evidentemente mecânico, não menos evidentemente invenções, não menos evidentemente acomodados aos seus fins, ou adequados ao seu ofício, do que o são as mais perfeitas produções da genialidade humana... [7]

A alegação é que tanto observações ordinárias quanto estudos científicos indicam que o universo físico exibe uma estrutura intrincada e uma ordem complexa; apresenta-se como um produto de um projeto deliberado. Muitos aspectos do universo parecem estar bem ajustados para permitir a existência de vida. Um grande número de condições exatas deve estar simultaneamente presente. Se esses fatores fossem levemente diferentes do que são, a vida seria impossível.

Uma vez que o que é projetado requer um projetista, o projeto do universo implica a existência de um projetista. Este ser exibe as características de uma mente racional, capaz de pensar e planejar, e possui tal poder para executar suas intenções que criou o universo sem nenhuma matéria preexistente disponível. Esta descrição é consistente com o que a Bíblia ensina sobre Deus. A magnitude e complexidade de sua criação demonstram seu poder e sabedoria:

     Mas foi Deus quem fez a terra com o seu poder, firmou o mundo com a sua sabedoria e estendeu os céus (Jeremias 10.12)

     Eu fiz a terra, os seres humanos e os animais que nela estão, com o meu grande poder e com meu braço estendido, e eu a dou a quem eu quiser. (Jeremias 27.5)

     Quantas são as tuas obras, SENHOR! Fizeste todas elas com sabedoria! (Salmo 104.24)

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010


Traduzido por:
Cristiano Lima








    

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O ARGUMENTO COSMOLÓGICO – Vincent Cheung

O ARGUMENTO COSMOLÓGICO argumenta a partir de efeitos contingentes para a primeira causa, ou o Deus Criador. O argumento pode começar a partir da autoconsciência ou a partir da existência do universo físico.[3]
Tudo o que tem um começo – tudo que tem surgido – é um efeito e, portanto, deve ter uma causa. Se o universo tem um começo, então deve ter uma causa. O universo, de fato, tem um começo e, portanto, deve ter uma causa. Uma regressão infinita de causas é impossível; portanto, deve haver uma causa primeira que não seja um efeito e que não tenha começo, mas que seja necessária e eterna. Esta causa ou ser reconhecemos ser Deus. Esta é a essência do argumento.

O argumento começa com a existência do universo ou com autoconsciência. É auto-refutável duvidar da própria existência, uma vez que a pessoa deve primeiro existir antes de poder negar sua própria existência. Quem não existe não pode afirmar a proposição "eu não existo". Além disso, uma pessoa que nega sua própria existência se retira do debate e, portanto, não representa uma ameaça ao argumento cosmológico.

Seres e eventos contingentes e não causados ​​são impossíveis, uma vez que algo não pode surgir do nada. Como nada não é algo, ele não pode produzir nada. Apenas um ser que não tem começo pode ser não causado. Não é possível haver seres e eventos auto-causados. Uma causa deve preceder um efeito, pelo menos logicamente, se não cronologicamente. Assim, a causa existe antes do seu efeito. Se um ser ou evento já existe, então ele não causa sua própria existência, uma vez que já existe. Este ser ou evento deve então ou ser não causado, ou produzido por uma causa anterior.

Embora uma progressão infinita de causas seja possível, uma regressão infinita de causas não é. Uma progressão infinita pode ocorrer, pois as causas podem continuar a levar a novos efeitos sem contradição, e é logicamente possível que esse processo nunca termine. No entanto, se assumíssemos uma regressão infinita de causas, seria impossível termos alcançado o presente, uma vez que é impossível viajar através de um infinito real. Assim como é impossível chegar ao fim de uma progressão infinita, nosso presente é um "fim" visto do passado. Qualquer momento em particular é um "fim" ou ponto de parada visto do passado, de modo que, se o passado fosse infinito, nunca poderíamos ter chegado ao presente; caso contrário, o passado não seria infinito, mas finito.

Para ilustrar, se uma pessoa começasse a contar segunda-feira ao meio-dia e decidisse que ele pararia ao meio-dia da sexta-feira, ele chegaria ao ponto de parada quando a hora chegasse. Mas se há um tempo infinito entre seu ponto de partida e seu ponto de parada, então ele
nunca alcançaria o ponto de parada. Da mesma forma, se um homem corre em direção a uma linha de chegada – um "fim" designado como análogo ao nosso presente – ele nunca o alcançaria se houvesse uma distância infinita entre o ponto de partida e o ponto de parada; caso contrário, a distância entre os dois pontos não seria infinita, mas finita.

Portanto, uma regressão infinita de causas passadas é impossível, uma vez que se o passado é infinito, nunca teríamos alcançado o presente; caso contrário, o passado não seria infinito, mas finito. Por outro lado, se o universo tem um ponto de partida no passado finito, então seria possível chegar ao presente. Mas se o universo tem um ponto de partida, então deve ter uma causa. Algumas pessoas objetam: "Por que essa causa deve ser Deus?" Mas Deus é apenas o nome ou título desta causa primeira. O argumento mostra que deve haver um criador que fez esse universo.

Tomás de Aquino (1224-1274) é mais conhecido por suas "Cinco Vias" de demonstração da existência de Deus.[4] Aqui iremos reproduzir a segunda e a terceira da sua Summa Theologica:

     A segunda via é a da natureza da causa eficiente. No mundo do sentido descobrimos que há uma ordem de causas eficientes. Não há nenhum caso conhecido (nem é ele, de fato, possível) em que uma coisa foi achada como sendo a causa eficiente de si mesma, pois assim seria ela anterior a si mesma, o que é impossível. Ora, em causas eficientes não é possível prosseguir até o infinito, porque em todas as causas eficientes seguindo-se em ordem, a primeira é a causa da causa intermediária, e a intermediária é a causa da última causa, sejam várias as causas intermediárias, ou uma apenas. Ora, tirar a causa é tirar o efeito. Por conseguinte, se não há primeira causa alguma entre as causas eficientes, não haverá nenhuma última, nem qualquer causa intermediária. Mas se em causas eficientes é possível prosseguir ao infinito, não haverá nenhuma primeira causa eficiente, nem um efeito final, nem quaisquer causas eficientes intermediárias; tudo isso é claramente falso. Portanto, é necessário admitir uma primeira causa eficiente, à qual todos dão o nome de Deus.

     A terceira via é tomada da possibilidade e necessidade, e se dá assim. Encontramos na natureza coisas que são possíveis que sejam e que não sejam, visto que são achadas para serem geradas, e corromperem-se, e consequentemente, são possíveis de serem e de não serem. Mas é impossível para as tais sempre existirem, pois aquilo que é possível não ser em algum tempo não é. Logo, se tudo é possível de não ser, então em algum tempo não poderia haver nada existindo. Ora, se tal fosse verdade, agora mesmo não haveria nada em existência, porque aquilo que não existe somente começa a existir por alguma coisa já existente. Por conseguinte, se em algum tempo nada esteve em existência, teria sido impossível para alguma coisa ter começado a existir; e, desse modo, precisamente agora nada estaria em existência — o que é absurdo. Portanto, todos os seres não são meramente possíveis, mas deve haver alguma coisa para a qual a existência seja necessária. Porém, toda coisa necessária ou tem sua necessidade causada por uma outra, ou não. Ora, é impossível prosseguir infinitamente em coisas necessárias que têm sua necessidade causada por uma outra, como já foi provado com respeito às causas eficientes. Logo, não podemos senão postular a existência de algum ser tendo de si mesmo sua própria necessidade, e não a recebendo de outro, mas antes causando em outros suas necessidades. Todos os homens falam disso como sendo Deus.

Algumas pessoas afirmam que um universo não causado ou eterno é possível com base na teoria quântica, mas seus argumentos, na melhor das hipóteses, apenas empurram a questão um passo para trás, de modo que a existência do universo ainda requer uma explicação ou uma causa. Eles não conseguem mostrar que o universo é incausado ou eterno, ou que algo pode surgir do nada. Além disso, há fortes divergências entre os cientistas quanto às implicações da teoria quântica, e argumentos desse tipo frequentemente aplicam especulações científicas. Além disso, como a ciência em si não tem nenhum contato racional com a realidade, não importa se a teoria quântica é ou não aplicada adequadamente, porque tudo isso é falso em primeiro lugar.

Se a causa imediata do próprio universo requer uma causa, então ainda não chegamos à primeira causa. Deve haver uma causa para explicar cada causa que também é um efeito, mas a regressão infinita é impossível, então deve haver uma causa primeira sem causa que é eterna, que sempre existiu. Como nenhum efeito pode ser não causado, essa primeira causa não tem começo e, portanto, não é um efeito. Portanto, o argumento é invulnerável à objeção: "Se tudo tem uma causa, então Deus também deve ter uma causa". A objeção revela uma falta de atenção, uma vez que o argumento declara apenas que todo efeito, ou tudo o que passa a existir, deve ter uma causa. Ele mostra que Deus não é um efeito, mas é a primeira causa não causada.

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010

Traduzido por:
Cristiano Lima