domingo, 22 de julho de 2018

A SUPREMACIA DE CRISTO – Vincent Cheung

[...] Jesus chamou a si mesmo de “o caminho” — não há muitos caminhos para Deus. Ele se autodenomina “a verdade” — a verdade não é relativa ou mutável. Há somente um ser eterno que é a verdade, e os escritores do Novo Testamento identificam Cristo como esse logos, ou o eterno e imutável princípio de razão e ordem no universo (João 1.1; Colossenses 1.17; Hebreus 1.1-3, 13.8). Por conseguinte, Jesus chama a si mesmo de “a vida” — todas as outras opções levam à morte e ao tormento eternos. Ninguém pode rejeitar a Jesus Cristo e ao mesmo tempo encontrar Deus e a vida; fora dele só há desespero, morte e condenação.

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Em Cristo estão “ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”. Certamente, isso tem quer ser verdadeiro se Jesus é o Deus onisciente. Cristo possui toda sabedoria e conhecimento, e ele “se tornou sabedoria de Deus para nós” (1 Coríntios 1.30).

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A reivindicação cristã é que toda a Bíblia é verdadeira, e se toda a sabedoria e conhecimento estão em Cristo, então tudo o que é verdade nas outras religiões e cosmovisões foi roubado do cristianismo. Se os não-cristãos alegarem então que tal informação vem da própria cosmovisão deles, eles se tornam plagiários e hipócritas, mesmo se partindo de uma perspectiva humana. Mas isso é muito mais sério da perspectiva divina:

     Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou... Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos (Romanos 1.18,19, 21,22).

Paulo afirma que todos os seres humanos tem um conhecimento inato e inescapável do Deus cristão, mas os não-cristãos recusam reconhecê-lo. Eles não o glorificam ou o agradecem como Deus e criador. Pelo contrário, eles pervertem seus conhecimento e tendências inatos, resultando em idolatria. Então, creditam qualquer coisa que seja verdadeira no sistema de pensamento deles aos ídolos que adoram. Romanos 1.25 diz:
     “Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador”. Essa condenação se aplica igualmente aos cientistas não-cristãos, bem como aos budistas e aos mórmons.

Portanto, dizer que as religiões e cosmovisões não-cristãs possuem alguma verdade serve apenas para condená-los, e não faz nada para apoiar a credibilidade ou utilidade delas de forma alguma.

Todavia, o reconhecimento de que as falsas religiões têm algo de verdadeiro a dizer não implica que devemos respeitá-las, mas somente quer dizer que nós os pegamos “em flagrante” no crime de roubo espiritual contra Deus. Eles receberam dele e, todavia, o negam.

Não estamos dizendo que Deus se revela de uma forma limitada pelas religiões nãocristãs, enquanto o faz mais plena e verdadeiramente através da cristã. Antes, estamos dizendo que ele não se revela por meio de nenhuma religião ou cosmovisão não-cristã, de forma alguma. Cada pessoa nasce com um conhecimento inato do Deus cristão mas, desafiando a ele, os não-cristãos suprimem esse conhecimento e constroem suas próprias cosmovisões baseadas sobre premissas não-cristãs. Contudo, eles não podem suprimir completamente todos os traços da verdade cristã e, assim, vemos que todas as religiões e cosmovisões não-cristãs se apropriam de princípios cristãos que são impossíveis de se justificarem sobre a base de premissas não-cristãs. Isto é, os princípios cristãos nas suas religiões e cosmovisões não podem ser deduzidos de seus princípios primeiros não-cristãos. Logo, qualquer “verdade” nelas é evidência de engano e impiedade, e não de genuína orientação divina.

Eles erigem seus “bezerros de ouro” e declaram em alta voz:
“Eis aí os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!” (Êxodo 32.4)!
Entretanto, Deus disse: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome! Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor” (Isaías 42.8). Em vez de dar a glória devida ao Deus da Bíblia cristã, suprimem o seu conhecimento desse Deus verdadeiro e, no lugar desse, dão glória aos ídolos.
Portanto, adeptos de religiões e cosmovisões não-cristãs são “indesculpáveis” (Romanos 1.20).

Deus “faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5.45). Um idólatra não consegue dar a glória a quem ela é devida, visto que ele não recebe chuva e outras provisões de seu ídolo, mas do Deus cristão. Embora esse tenha lhe dado um conhecimento inato com respeito a si mesmo, a pessoa suprime a verdade por causa de sua impiedade (Romanos 1.18), e prefere honrar um ídolo em vez disso (Romanos 1.21). Da mesma forma, um ateu recebe chuva e outras provisões de Deus mas, em vez disso,credita-as às causas naturais. Por essa razão, a ira divina está derramada sobre todos os não-cristãos.

Se Cristo possui toda sabedoria e conhecimento, então o fato de que qualquer não-cristão pode saber que 1 + 1 = 2 significa que Cristo, que é “a verdadeira luz, que ilumina todos os homens” (João 1.9), lhe deu esse conhecimento. Esse não se origina ou reside em sua religião ou cosmovisão não-cristãs, mas é uma parte integral do sistema cristão. Se não dá graças ao Deus cristão por esse conhecimento, então está cometendo roubo espiritual e intelectual ao falhar em dar o crédito à fonte apropriada de seu conhecimento.

Por outro lado, os cristãos recebem conhecimento livremente daquele a quem eles adoram: “É, porém, por iniciativa dele [de Deus] que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós” (1 Coríntios 1.30). Visto que Cristo tem um monopólio sobre a verdade, qualquer pessoa que conhece algo, seja o que for, deve seu conhecimento a Cristo, e um fracasso em adorá-lo e dar-lhe graças é um pecado que merece o castigo derradeiro.

Portanto, segue-se que é pecaminoso para os cristãos dizerem que podem aprender algo das religiões e cosmovisões não-cristãs. Suponha que uma religião não-cristã tenha dentro de si um pedaço de informação verdadeira. A partir de nossa premissa que Cristo é o possuidor de toda sabedoria e conhecimento, esse pedaço de informação deve necessariamente ser uma verdade “cristã” que essa outra religião furtou e, portanto, é primeiro uma parte da revelação cristã. Tentar aprender uma verdade cristã a partir de uma fonte não-cristã é irreverente e tolo. Somente a revelação bíblica apresenta a verdade sem mistura ou distorção.

Voltando a uma questão mencionada anteriormente, se um sistema religioso é apenas parcialmente, mas não inteiramente verdadeiro, seria impossível distinguir o verdadeiro do falso sobre a base dessa própria religião. Os cristãos que dizem que outras religiões contêm algumas verdades são capazes de reconhecer a essas pelo que elas são, precisamente porque eles já as aprenderam a partir da cosmovisão cristã, a qual eles afirmam ser inteiramente verdadeira; de outra forma, não há forma de dizer o verdadeiro e o falso.

Suponha um determinado sistema de pensamento que inclua as seguintes proposições: (1) X é um homem, e (2) X é um contador. Se na realidade (1) é verdade, mas (2) é falso, como alguém afirmará (1) e negará (2), a menos que ele já conheça X? A menos que uma determinada cosmovisão A seja verdadeira em sua inteireza, não há forma alguma de dizer qual proposição é verdadeira sem introduzir o conhecimento obtido fora do sistema, tal como uma determinada cosmovisão B, em cujo caso o sistema na questão (A) seria avaliado pelo sistema a partir do qual a pessoa obteve o dito conhecimento introduzido (B). Mas se alguém já obteve esse conhecimento a partir de outro sistema de pensamento (B), como ele está aprendendo a partir desse sistema em questão (A)? Ele está julgando-o, não aprendendo a partir dele.

Não há nada para aprender a partir de uma religião ou cosmovisão que não seja inteiramente verdadeira. Alguém pode aprender somente a partir de um sistema de pensamento se o mesmo for verdadeiro em sua inteireza, e então pode usar o conhecimento adquirido para avaliar outro sistema não inteiramente verdadeiro, mas
não aprender dele. Dizer que uma determinada religião ou cosmovisão possui “alguma verdade” é, pois, condená-la como inapropriada para crença, e não louvá-la ou honrá-la em hipótese nenhuma.

Não há nada verdadeiro que alguma religião ou cosmovisão não-cristã possa ensinar que não seja primeiramente uma parte do sistema cristão. Toda informação verdadeira e conhecível já está declarada ou subentendida na cosmovisão cristã; qualquer informação verdadeira não declarada ou subentendida pela revelação bíblica é incognoscível. Dizer outra coisa seria negar nossa premissa básica de que toda sabedoria e conhecimento estão em Cristo, em cuja caso podemos questionar, antes de tudo, se a pessoa que está fazendo a negação é um cristão.

Portanto, eu concluo que não há nada que os cristãos possam aprender dos nãocristãos que já não esteja incluído ou subentendido na cosmovisão cristã, só que a Bíblia revela essas verdades sem impureza ou mistura, e de um modo que é completo e coerente. Para mim, dizer que outras religiões têm “alguma verdade” é insultá-las — eu estou pressupondo que os profetas delas são ladrões ímpios, certamente não dignos da confiança e do respeito de ninguém.

Paulo diz: “A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais” (Efésios 3.10). Deus pretende que a igreja o glorifique manifestando sua sabedoria no contexto da proclamação de uma mensagem exclusiva. Ele certamente não tencionou que a igreja louvasse religiões e cosmovisões não-cristãs pela sabedoria e conhecimento que elas têm roubado de nós, e menos ainda que a igreja afirmasse a falsidade nas outras religiões e cosmovisões como verdades. As religiões e cosmovisões não-cristãs podem conter diversas proposições verdadeiras — sempre suficientes para fazê-las culpadas, mas nunca para tornar a salvação possível.

A mesma crítica contra as religiões não-cristãs se aplicam às cosmovisões que reivindicam ser não-religiosas.
Por exemplo, os cristãos não podem aprender nada a partir da cosmovisão ateísta, a menos que o ateísmo seja verdadeiro sem sua inteireza. O ateu não pode conhecer nada, de forma alguma, se não for por Cristo, o logos, que facilita o conhecimento e a comunicação entre os homens. Não há nada na cosmovisão não-cristã que possa oferecer alguma verdade ao cristão que já não esteja na cosmovisão cristã.

Por exemplo, um cristão pode obter um gole de água de um ateu, que a tem para oferecer através da coleta de chuva. Mas a chuva não vem de, e não pode ser definitivamente explicada por nada inerente à cosmovisão ateísta; antes, a chuva vem do Deus cristão. A diferença é que o cristão dá graças a Deus pela água, mas o ateu não, e não consegue reconhecer o verdadeiro Deus que é a fonte última da chuva; o ateu peca e compromete sua alma à condenação eterna.

Da mesma forma, um estudante cristão pode aprender que 1 + 1 = 2 a partir de um tutor ateu, mas esse pedaço de informação pertence a Cristo, que tem toda sabedoria e conhecimento. O ateu está simplesmente ensinando ao cristão algo que é inerente à cosmovisão cristã, que ele aprendeu de Cristo, o logos, sem dar as devidas graças a Deus. Por outro lado, o cristão reconhece que todo conhecimento pertence a Cristo, e dá graças a Deus por esse pedaço de informação.

Para falar em termos de proposições, todas as proposições verdadeiras são, na verdade, proposições cristãs — elas são a propriedade de Cristo; portanto, são muito mais apropriada e corretamente expressas dentro do contexto da cosmovisão cristã. Assim, dizer que os cristãos podem, de fato, aprender o verdadeiro conhecimento a partir dos não-cristãos, tal como 1 + 1 = 2, não significa que é desejável assim o fazer, visto que algum grau de distorção e limitação inevitavelmente ocorrerá por causa das pressuposições não-cristãs daqueles que ensinam.

Até mesmo o conhecimento que é aparentemente não-religioso em natureza é mais bem expresso e ensinado dentro de um contexto explicitamente cristão. Por exemplo, se Deus é o governador e planejador da história, então um livro-texto sobre as civilizações ocidentais que deixa de mencionar a providência divina não é um bom texto de história de forma alguma, visto que negligencia o próprio fator que determina todos os eventos e progressos históricos. Se o que a Escritura diz sobre a criação é verdade, então “No princípio Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1.1) é uma explicação superior para a existência do universo do que qualquer sistema sofisticado de cosmologia que falhe em reconhecê-lo como a causa primeira e sustentadora de tudo o que existe (Colossenses 1.17; Hebreus 1.3). Coisas similares podem ser ditas nos campos de economia, literatura, música e até mesmo esporte.

Aquele que insiste em pensar independentemente das proposições bíblicas reveladas por Deus, deve refutar a cosmovisão desafiadora apresentada pelo sistema cristão. Se todas as coisas foram criadas e são agora sustentadas pelo divino logos, Jesus Cristo, então o próprio pensamento não tem justificação última sem primeiro se pressupor a cosmovisão cristã. O raciocínio não pode nem mesmo ser inteligível sem a existência de uma mente eterna, onipotente, onisciente e racional, de quem nós, que somos feito à imagem divina, e, assim, modelados segundo a mente dele, recebemos as leis da lógica e da gramática. O não-cristão deve mostrar baseado em sua cosmovisão, sem tomar emprestadas pressuposições cristãs, que as leis da lógica não são regras arbitrárias nem meras convenções; de outra maneira, qualquer argumento que ele faça pode ser descartado enquanto baseado sobre regras arbitrárias ou meras convenções. Não conseguindo sobrepujar tal obstáculo, o não-cristão não pode nem mesmo debater com o cristão sobre nenhum assunto antes de pressupor a cosmovisão cristã inteira. [...]

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Teologia Sistemática. ed. 2003. pp. 141, 142, 144-148.

Traduzido e revisado por: Felipe Sabino de Araújo Neto e Vanderson Moura da Silva.

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