DEUS
Enquanto a doutrina da Escritura é o fundamento epistemológico da fé cristã, a doutrina de Deus é o fundamento metafísico. As duas doutrinas são de suprema importância porque todas as outras doutrinas bíblicas dependem delas. Portanto, os cristãos devem prestar especial atenção a esses aspectos da teologia. Tendo discutido a doutrina da Escritura no capítulo anterior, iremos considerar a existência, atributos e obras de Deus.
A EXISTÊNCIA DE DEUS
A Bíblia diz que aquele que vem a Deus deve crer que Ele existe (Hebreus 11: 6). Uma pessoa que nega a existência de Deus não pode desenvolver um relacionamento com Ele ou conscientemente servi-lo.[1] Existem dois tipos de argumentos para a existência de Deus. O primeiro pode ser chamado de argumento tradicional ou clássico. Embora vários teólogos e filósofos os tenham favorecido ao longo da história, eles não são necessariamente válidos ou suficientes.
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO argumenta a partir da ideia de Deus para a sua existência necessária. Por definição, Deus é o ser do que nada maior pode ser concebido, e uma vez que o ser do que nada maior pode ser concebido não pode ser concebido como necessitando da propriedade de ser, visto que de outro modo ele não seria o ser do que nada maior pode ser concebido, Deus deve existir por necessidade.
Sucedendo Lanfranco, Anselmo (1033-1109) tornou-se arcebispo de Canterbury em 1093. Seu Cur Deus Homo e outras obras têm exercido profunda influência no desenvolvimento da teologia cristã. No entanto, talvez ele seja mais famoso por seu argumento ontológico como articulado em seu Proslogion. O que se segue reproduz em parte o argumento:
Agora cremos que Tu és algo do que nada maior pode ser pensado. Ou pode ser que uma coisa de uma tal natureza não exista, uma vez que "o Néscio disse em seu coração, não há Deus"? Mas certamente, quando esse mesmo Néscio ouve a respeito do que estou falando, ou seja, "aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado", ele compreende o que ouve, e o que ele compreende está em sua mente, mesmo que ele não compreenda que isso realmente exista. ...
Mesmo o Néscio, então, é forçado a concordar com o fato de que aquilo-do-que-não-maior-pode-ser-pensado existe na mente, visto que ele compreende isto quando o ouve, e tudo que é compreendido está na mente.
E certamente aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado não pode existir apenas na mente. Pois se existe apenas na mente, pode-se pensar que exista também na realidade, a qual é maior. Se, então, aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado existe apenas na mente, esse mesmo aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado é aquilo-do-que-algo-maior-pode-ser-pensado. Mas isso é obviamente impossível. Portanto, não há absolutamente nenhuma dúvida de que aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado existe tanto na mente quanto na realidade.
E certamente esse ser tão verdadeiramente existe que não se pode imaginar que ele não exista. Pois não há como se pensar em algo que pode ser pensado como existente e que não exista. Logo, se se pode pensar que aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado não exista, então aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado não é o mesmo que aquilo-do-que-algo-maior-pode-ser-pensado, o que é absurdo. Aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado verdadeiramente existe, então, visto que não pode mesmo se pensar que não exista.
E Tu, Senhor nosso Deus, és esse ser. É tão verdadeiro que Tu existes, Senhor meu Deus, que não se pode mesmo pensar o contrário... Na verdade, tudo o mais, exceto Tu somente, pode ser pensado como não tendo existência. Tu somente, então, tens a existência mais verdadeira dentre todas as coisas e, portanto, possui a existência no grau máximo; pois tudo o mais não existe tão verdadeiramente, e assim existe em grau menor. Por que então “diz o Néscio em seu coração: Não há Deus”, quando é tão evidente a qualquer mente racional que Tu, em relação às outras coisas, é o que existe em máximo grau? Por que, de fato, a menos por ser ele estúpido e louco?
...Ninguém, de fato, compreendendo o que Deus é pode pensar que Ele não exista, mesmo se pode dizer tais palavras em seu coração, seja sem um significado ou com algum significado particular. Pois Deus é aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado. Todos o que realmente compreendem isso entendem claramente que esse mesmo ser é de tal existência que não se pode imaginar não existir. Assim, todos os que compreendem que Ele existe de uma tal maneira não pode imaginá-Lo como não existente.[2]
Uma objeção inicial é que só porque um ser é concebível, ou apenas porque existe na mente, não significa que ele também deva existir na realidade. Uma pessoa pode conceber um carro perfeito, mas isso não significa que exista outro senão em sua mente. Um cavalo voador é concebível, mas isso não nos diz nada sobre se ele existe na realidade.
Mas isso revela um mal-entendimento. O argumento ontológico não afirma que tudo o que é concebível também existe na realidade, mas que Deus não pode ser concebido exceto como alguém que existe; caso contrário, o que é concebido não seria Deus. Se uma pessoa concebe em sua mente um ser do que nada maior pode ser concebido, mas que não existe, então ela não está, de fato, pensando em um ser do que nada maior pode ser concebido. Uma vez que o argumento se refere a um ser do que nada maior pode ser concebido, e não apenas a qualquer objeto concebível pela mente, a objeção é irrelevante.
Há ambiguidade em relação ao que significa que algo exista "na realidade". O que existe na mente não existe necessariamente no mundo físico, mas isso é irrelevante porque Deus é incorpóreo. Quando o argumento ontológico sugere que, uma vez que a ideia de Deus esteja presente na mente, ela também deve ser entendida como existindo, isso não significa que ela deva ser entendida como um objeto físico.
Assim, a ideia da existência em si representa um problema. Em certo sentido, qualquer coisa pode ser dito existir – até mesmo unicórnios, sonhos e equações matemáticas existem, embora não existam como objetos físicos. Contudo, unicórnios não criaram o universo, sonhos não ordenaram alguns homens à salvação e outros à condenação, e equações matemáticas não se fizeram carne humana para morrer como resgate por muitos.
Talvez não devêssemos está perguntando: "Deus existe?" Uma questão mais inteligível é: "O que é Deus?" Mesmo Zeus "existe", mas apenas na mitologia. O Deus cristão não é um objeto físico, mas também não é como sonhos, equações ou Zeus. Em vez disso, Ele é o criador e governante do universo, que decreta nossa história e decide nosso destino, e quem tem direito e exige nossa adoração. Certamente devemos dizer que Deus "existe" ou que Deus "é" (Hebreus 11: 6), na medida em que isso representa uma afirmação de tudo o que a Bíblia diz sobre Ele, e não que Ele seja um objeto físico ou de caráter mitológico.
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO argumenta a partir de efeitos contingentes para a primeira causa, ou o Deus Criador. O argumento pode começar a partir da autoconsciência ou a partir da existência do universo físico.[3]
Tudo o que tem um começo –tudo que tem surgido – é um efeito e, portanto, deve ter uma causa. Se o universo tem um começo, então deve ter uma causa. O universo, de fato, tem um começo e, portanto, deve ter uma causa. Uma regressão infinita de causas é impossível; portanto, deve haver uma causa primeira que não seja um efeito e que não tenha começo, mas que seja necessária e eterna. Esta causa ou ser reconhecemos ser Deus. Esta é a essência do argumento.
O argumento começa com a existência do universo ou com autoconsciência. É autorrefutável duvidar da própria existência, uma vez que a pessoa deve primeiro existir antes de poder negar sua própria existência. Quem não existe não pode afirmar a proposição "eu não existo". Além disso, uma pessoa que nega sua própria existência se retira do debate e, portanto, não representa uma ameaça ao argumento cosmológico.
Seres e eventos contingentes e não causados são impossíveis, uma vez que algo não pode surgir do nada. Como nada não é algo, ele não pode produzir nada. Apenas um ser que não tem começo pode ser não causado. Não é possível haver seres e eventos autocausados. Uma causa deve preceder um efeito, pelo menos logicamente, se não cronologicamente. Assim, a causa existe antes do seu efeito. Se um ser ou evento já existe, então ele não causa sua própria existência, uma vez que já existe. Este ser ou evento deve então ou ser não causado, ou produzido por uma causa anterior.
Embora uma progressão infinita de causas seja possível, uma regressão infinita de causas não é. Uma progressão infinita pode ocorrer, pois as causas podem continuar a levar a novos efeitos sem contradição, e é logicamente possível que esse processo nunca termine. No entanto, se assumíssemos uma regressão infinita de causas, seria impossível termos alcançado o presente, uma vez que é impossível viajar através de um infinito real. Assim como é impossível chegar ao fim de uma progressão infinita, nosso presente é um "fim" visto do passado. Qualquer momento em particular é um "fim" ou ponto de parada visto do passado, de modo que, se o passado fosse infinito, nunca poderíamos ter chegado ao presente; caso contrário, o passado não seria infinito, mas finito.
Para ilustrar, se uma pessoa começasse a contar segunda-feira ao meio-dia e decidisse que ele pararia ao meio-dia da sexta-feira, ele chegaria ao ponto de parada quando a hora chegasse. Mas se há um tempo infinito entre seu ponto de partida e seu ponto de parada, então ele
nunca alcançaria o ponto de parada. Da mesma forma, se um homem corre em direção a uma linha de chegada – um "fim" designado como análogo ao nosso presente – ele nunca o alcançaria se houvesse uma distância infinita entre o ponto de partida e o ponto de parada; caso contrário, a distância entre os dois pontos não seria infinita, mas finita.
Portanto, uma regressão infinita de causas passadas é impossível, uma vez que se o passado é infinito, nunca teríamos alcançado o presente; caso contrário, o passado não seria infinito, mas finito. Por outro lado, se o universo tem um ponto de partida no passado finito, então seria possível chegar ao presente. Mas se o universo tem um ponto de partida, então deve ter uma causa. Algumas pessoas objetam: "Por que essa causa deve ser Deus?" Mas Deus é apenas o nome ou título desta causa primeira. O argumento mostra que deve haver um criador que fez esse universo.
Tomás de Aquino (1224-1274) é mais conhecido por suas "Cinco Vias" de demonstração da existência de Deus.[4] Aqui iremos reproduzir a segunda e a terceira da sua Summa Theologica:
A segunda via é a da natureza da causa eficiente. No mundo do sentido descobrimos que há uma ordem de causas eficientes. Não há nenhum caso conhecido (nem é ele, de fato, possível) em que uma coisa foi achada como sendo a causa eficiente de si mesma, pois assim seria ela anterior a si mesma, o que é impossível. Ora, em causas eficientes não é possível prosseguir até o infinito, porque em todas as causas eficientes seguindo-se em ordem, a primeira é a causa da causa intermediária, e a intermediária é a causa da última causa, sejam várias as causas intermediárias, ou uma apenas. Ora, tirar a causa é tirar o efeito. Por conseguinte, se não há primeira causa alguma entre as causas eficientes, não haverá nenhuma última, nem qualquer causa intermediária. Mas se em causas eficientes é possível prosseguir ao infinito, não haverá nenhuma primeira causa eficiente, nem um efeito final, nem quaisquer causas eficientes intermediárias; tudo isso é claramente falso. Portanto, é necessário admitir uma primeira causa eficiente, à qual todos dão o nome de Deus.
A terceira via é tomada da possibilidade e necessidade, e se dá assim. Encontramos na natureza coisas que são possíveis que sejam e que não sejam, visto que são achadas para serem geradas, e corromperem-se, e consequentemente, são possíveis de serem e de não serem. Mas é impossível para as tais sempre existirem, pois aquilo que é possível não ser em algum tempo não é. Logo, se tudo é possível de não ser, então em algum tempo não poderia haver nada existindo. Ora, se tal fosse verdade, agora mesmo não haveria nada em existência, porque aquilo que não existe somente começa a existir por alguma coisa já existente. Por conseguinte, se em algum tempo nada esteve em existência, teria sido impossível para alguma coisa ter começado a existir; e, desse modo, precisamente agora nada estaria em existência — o que é absurdo. Portanto, todos os seres não são meramente possíveis, mas deve haver alguma coisa para a qual a existência seja necessária. Porém, toda coisa necessária ou tem sua necessidade causada por uma outra, ou não. Ora, é impossível prosseguir infinitamente em coisas necessárias que têm sua necessidade causada por uma outra, como já foi provado com respeito às causas eficientes. Logo, não podemos senão postular a existência de algum ser tendo de si mesmo sua própria necessidade, e não a recebendo de outro, mas antes causando em outros suas necessidades. Todos os homens falam disso como sendo Deus.
Algumas pessoas afirmam que um universo não causado ou eterno é possível com base na teoria quântica, mas seus argumentos, na melhor das hipóteses, apenas empurram a questão um passo para trás, de modo que a existência do universo ainda requer uma explicação ou uma causa. Eles não conseguem mostrar que o universo é incausado ou eterno, ou que algo pode surgir do nada. Além disso, há fortes divergências entre os cientistas quanto às implicações da teoria quântica, e argumentos desse tipo frequentemente aplicam especulações científicas. Além disso, como a ciência em si não tem nenhum contato racional com a realidade, não importa se a teoria quântica é ou não aplicada adequadamente, porque tudo isso é falso em primeiro lugar.
Se a causa imediata do próprio universo requer uma causa, então ainda não chegamos à primeira causa. Deve haver uma causa para explicar cada causa que também é um efeito, mas a regressão infinita é impossível, então deve haver uma causa primeira sem causa que é eterna, que sempre existiu. Como nenhum efeito pode ser não causado, essa primeira causa não tem começo e, portanto, não é um efeito. Portanto, o argumento é invulnerável à objeção: "Se tudo tem uma causa, então Deus também deve ter uma causa". A objeção revela uma falta de atenção, uma vez que o argumento declara apenas que todo efeito, ou tudo o que passa a existir, deve ter uma causa. Ele mostra que Deus não é um efeito, mas é a primeira causa não causada.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO também pode ser chamado de argumento do projeto. É historicamente associado ao trabalho de William Paley, [6] que argumentou da seguinte forma:
Ao cruzar uma charneca, supondo que eu tropece numa pedra, e fosse perguntado como ela veio a estar ali, eu possivelmente poderia responder, que, por qualquer coisa que eu sei ser o contrário, ela sempre estivesse ali; nem seria, talvez, muito fácil mostrar o absurdo de tal resposta. Mas suponha que eu
encontrasse um relógio no chão, e fosse inquirido sobre como ocorreu de o relógio estar naquele lugar: dificilmente deveria eu pensar na reposta dada antes — que, por qualquer coisa que eu sei, o relógio pudesse haver estado sempre ali.
Todavia, por que não deveria essa resposta servir tanto para o relógio quanto para a pedra? Por que ela não é admissível no segundo caso e o é no primeiro? Por essa razão, e por nenhuma outra, a saber, que, quando vamos inspecionar o relógio, percebemos (o que não poderíamos descobrir na pedra) que suas várias partes estão planejadas e postas juntamente para um propósito, e.g., que estão assim formadas e ajustadas para produzirem movimento, e que tal movimento está assim regulado para fornecer a hora; que, se as diferentes partes houvessem sido talhadas diferentemente do que elas são, se tivessem um tamanho diferente daquele que têm, ou fossem colocadas de qualquer outra maneira, ou em qualquer outra ordem que não aquela em que estão postas, ou movimento nenhum pode ser levado adiante pela máquina, ou ninguém que tivesse respondido se beneficia então de seu uso...
...a inferência, concluímos, é inevitável, o relógio deve ter tido um fabricante; deve haver existido, em algum tempo, e em algum lugar ou outro, um artífice ou artífices que o construíram com o propósito que descobrimos ser a resposta verdadeira; que compreendeu sua construção, e intentou seu uso...
Toda indicação de invenção, toda manifestação de projeto, que existia no relógio, existe nas obras da natureza; com a diferença, pelo lado da natureza, de ser maior e em maior quantidade, e isso em um grau que excede todo cálculo. Quero dizer que as invenções da natureza ultrapassam as da arte, na complexidade, sutileza, e peculiaridade do mecanismo; e mais ainda: se possível, vão além em número e variedade; todavia, em inúmeros casos, não são menos evidentemente mecânico, não menos evidentemente invenções, não menos evidentemente acomodados aos seus fins, ou adequados ao seu ofício, do que o são as mais perfeitas produções da genialidade humana... [7]
A alegação é que tanto observações ordinárias quanto estudos científicos indicam que o universo físico exibe uma estrutura intrincada e uma ordem complexa; apresenta-se como um produto de um projeto deliberado. Muitos aspectos do universo parecem estar bem ajustados para permitir a existência de vida. Um grande número de condições exatas deve estar simultaneamente presente. Se esses fatores fossem levemente diferentes do que são, a vida seria impossível.
Uma vez que o que é projetado requer um projetista, o projeto do universo implica a existência de um projetista. Este ser exibe as características de uma mente racional, capaz de pensar e planejar, e possui tal poder para executar suas intenções que criou o universo sem nenhuma matéria preexistente disponível. Esta descrição é consistente com o que a Bíblia ensina sobre Deus. A magnitude e complexidade de sua criação demonstram seu poder e sabedoria:
Mas foi Deus quem fez a terra com o seu poder, firmou o mundo com a sua sabedoria e estendeu os céus (Jeremias 10.12)
Eu fiz a terra, os seres humanos e os animais que nela estão, com o meu grande poder e com meu braço estendido, e eu a dou a quem eu quiser. (Jeremias 27.5)
Quantas são as tuas obras, SENHOR! Fizeste todas elas com sabedoria! (Salmo 104.24)
O ARGUMENTO MORAL argumenta a partir de leis morais objetivas para um legislador moral. Immanuel Kant (1724-1804) escreve em sua Critique of Practical Reason: [8]
Duas coisas enchem a mente com uma sempre nova e crescente admiração e temor reverente, e com cada vez mais frequência e mais firmeza refletimos nelas: os céus estrelados acima de mim e a lei interna dentro de mim.[9]
Para as leis morais objetivas fazerem sentido, deve haver justiça. Desde que observamos que a justiça muitas vezes não é executada nesta vida, deve haver uma vida após a morte, onde a justiça exata seja executada. Além disso, para haver justiça, deve haver um juiz que faça justiça. Mas para este juiz julgar corretamente, ele deve ser onisciente, conhecendo todo pensamento e ação. E para executar a justiça, o juiz deve ser onipotente.
Kant defendeu a ideia de Deus como um princípio heurístico em ética, e não pretendia que o argumento servisse como uma prova no sentido clássico:
Por um postulado de razão prática pura, entendo uma proposição teórica que não é, enquanto tal, demonstrável, mas que é um corolário inseparável de uma lei incondicionalmente válida a priori. [10]
No entanto, se uma pessoa nega que há uma vida após a morte em que todos devem enfrentar esse juiz onisciente e todo-poderoso, ela não pode mais explicar o objeto da moralidade. No entanto, os homens em todos os lugares falam e se comportam como se houvesse moralidade objetiva. Mesmo aqueles que negam a moralidade objetiva reagem como se tal coisa existisse, especialmente quando seu próprio padrão é ofendido, ou quando seu próprio bem-estar é ameaçado.
Uma pessoa não pode afirmar a moralidade objetiva, seja por palavra ou ação, e rejeitar sua precondição necessária. Hastings Rashdall escreve:
A crença em Deus... é a pressuposição lógica de uma Moralidade “objetiva” ou absoluta. Uma ideia moral não pode existir em lugar algum e de nenhum modo senão na mente; uma ideia absoluta pode existir apenas numa Mente da qual toda Realidade seja derivada. Nossa ideia moral pode somente declarar a realidade objetiva até o ponto que possa ser racionalmente considerada como a revelação de um ideal moral eternamente existente na mente de Deus. [11]
O ARGUMENTO TRANSCENDENTAL, às vezes chamado de argumento abdutivo, argumenta a partir de um conhecido ou reconhecido Y para uma precondição necessária X. Ou, como Robert Stern explica:
Como uniformemente apresentado, geralmente se diz que os argumentos transcendentais são distintos ao envolver um certo tipo de afirmação, a saber: "Para Y ser possível, X deve ser o caso" onde Y é um fato indisputável sobre nós e nossa vida mental (por exemplo, que temos experiências, usamos a linguagem, fazemos certos julgamentos, temos certos conceitos, realizamos certas ações, etc.), mas exatamente o que é substituído por X, é onde está aberto a debate nesse estágio. [12]
Um aspecto do sistema bíblico de apologética envolve discutir que dado qualquer Y, a precondição necessária X é a cosmovisão bíblica.
Por exemplo, a ciência assume a uniformidade da natureza (Y), mas ela não pode provar esse princípio — ele é assumido irracionalmente. A cosmovisão bíblica (X) é a precondição necessária para tornar essa suposição inteligível.[13] Agora, a cosmovisão bíblica, na verdade, nega a uniformidade da natureza, mas afirma a doutrina da providência ordinária. Ou seja, é Deus quem controla o mundo, e Ele o faz de maneira regular, embora Ele seja livre para se desviar de sua prática usual sempre que desejar. Em todo caso, uma vez que a cosmovisão bíblica é a precondição necessária para a suposição de qualquer regularidade no mundo, ela é um pressuposição necessária que torna a ciência inteligível. Isso não significa que a ciência seja racional ou que suas teorias e conclusões sejam verdadeiras, mas significa que ninguém pode sequer dar sentido à ciência, a menos que os princípios bíblicos sejam pressupostos. A implicação é que a ciência nunca pode refutar a Escritura ou até mesmo argumentar contra ela.
A revelação bíblica gera um tipo particular de argumento transcendental que é irrefutável, uma vez que no processo de argumentação ela mostra que a cosmovisão bíblica (X) é aplicável a todo e qualquer Y. O que quer que seja afirmado como verdadeiro ou inteligível no contexto do debate, a cosmovisão bíblica é sua precondição necessária.
Isso é verdade até mesmo em relação a argumentos contra o cristianismo — sem que a cosmovisão bíblica seja a pressuposição, nenhuma objeção contra o cristianismo sequer é inteligível.[14]
Isso ocorre porque qualquer argumento, seja lá o que for que ele prove, é necessariamente precedido por princípios sobre epistemologia, metafísica, lógica, linguística e assim por diante — coisas que, em primeiro lugar, tornam o argumento possível ou inteligível. E podemos argumentar que apenas a Bíblia fornece esses princípios necessários. Mas uma vez que a Bíblia é reconhecida como verdadeira, então obviamente nenhuma objeção contra ela pode ser verdadeira.
O movimento transcendental na apologética bíblica é, estritamente falando, mais uma estratégia ou método do que um argumento. Embora ele seja popularmente creditado a Cornelius Van Til e Greg Bahnsen, suas tentativas é um completo fracasso. Mesmo quando alegam defender a fé cristã, eles tentam proteger muitos princípios não cristãos, e o método deles é de colocá-los em uma base cristã para que eles possam "dar conta" deles.
Assim, eles fazem Deus e as Escrituras cúmplices da falsidade, e fundem Cristo e Satanás em um matrimônio profano. Eles, juntamente com seus seguidores, até mesmo têm tornado o argumento contra a fé cristã pela insistência de que algumas pressuposições não cristãs, incluindo a confiabilidade da sensação, fornecem a precondição necessária para nosso conhecimento da Escritura.[15] Esse sistema sincrético equivale a um ataque à fé cristã forçando juntos princípios cristãos e não cristãos, muitas vezes a favor dos últimos.
Além disso, é questionável que eles tinham produzido apenas palpites e sugestões da aplicação do método transcendental, e certamente nada perto de uma demonstração suficiente. Por outro lado, Gordon H. Clark realizou essa tarefa com admirável sucesso e eficácia:
"Os problemas da história, da política e da ética, como tem sido argumentado, exigem para sua solução certos pressupostos teístas. Aparentemente, o melhor procedimento geral para quem deseja recomendar o teísmo cristão é mostrar que outras formas de teísmo são misturas inconsistentes. Se algumas de suas proposições deveriam ser levadas às suas conclusões lógicas, naturalismo e eventualmente ceticismo resultariam; enquanto que, se justiça deve ser feita à possíveis interpretações de suas outras afirmações, o cristianismo teria que ser assumido.[16]
O ARGUMENTO PRESSUPOSICIONALISTA é um método direto e positivo para promover a verdade e a necessidade da fé cristã. É em essência uma forma de dogmatismo.
A palavra "dogmático" carrega conotações desfavoráveis no discurso coloquial. Um dicionário define "dogmatismo" como "positividade na afirmação de opinião, especialmente quando injustificável ou arrogante; um ponto de vista ou sistema de ideias baseado em premissas insuficientemente examinadas"; e um "dogma" é "um ponto de vista ou princípio posto como autoritário sem motivos adequados."[17] Embora essas definições reflitam o uso não acadêmico popular, queremos dizer algo muito diferente.
"Dogmático" pode significar simplesmente "doutrinário"[18] ou "baseado em princípios a priori, não em indução."[19] Ambas as definições são aplicáveis em nosso contexto. Os sinônimos dessa palavra incluem "ditatorial, autoritativo, magisterial" e, em outro sentido, "dedutivo, a priori, dedutível, derivável e fundamentado".[20] A Bíblia cristã é uma revelação de Deus, e como Deus fala por uma autoridade absoluta e "ditatorial"[21], sua revelação é a precondição de todo pensamento e vida, e o conhecimento vem de deduções válidas dela.
Em God and Reason, Ed. L. Miller explica o significado de dogmatismo como uma posição filosófica:
Uma das características da tradição judaico-cristã é sua crença em uma autorrevelação divina: Deus intervém na história humana e fala; Ele desvenda a Si mesmo em uma “revelação especial”. E o conhecimento de Deus extraído de Sua revelação é um exemplo de teologia revelada. Tal teologia é algumas vezes chamada de “dogmática” (no melhor sentido da palavra) ou “confessional”, porque busca elucidar os artigos de fé (dogmas) divinamente concedidos, que toma como seus dados fundamentais e inegociáveis. O teólogo dogmático não é diferente do matemático, pois começa com certas suposições, ainda que em tal caso suposições reveladas; o sistema é limitado pela revelação, é completo e é oferecido como um package deal [grupo de coisas juntamente agrupadas, e que devem ser reunidas sempre dessa forma].[22]
O sistema cristão toma a revelação bíblica como seu primeiro princípio autoautenticador. Por autoautenticação, não estamos nos referindo a que a Bíblia se confirma em nossa experiência. Ela pode muito bem ser consistente com nossa experiência, mas se considerarmos a Bíblia verdadeira porque é consistente com nossa experiência, ou porque é consistente com nossa interpretação de nossa experiência, então ela não seria autoautenticadora. Antes, nossa experiência, ou o padrão ou princípio pelo qual interpretamos nossa experiência, seria o verdadeiro primeiro princípio. Tampouco estamos nos referindo ao testemunho interior do Espírito Santo de que a Bíblia é uma revelação de Deus, embora isso realmente aconteça com aqueles que foram escolhidos para a salvação. Pelo contrário, por autoautenticadora, queremos dizer que a Bíblia verifica e se apóia pela excelência e suficiência de seu próprio conteúdo, e que não precisa depender de premissas externas a si mesma.
A partir desse primeiro princípio da revelação bíblica, o restante do sistema segue por necessidade através de deduções válidas.
Uma vez que o primeiro princípio se confirma como verdadeiro, todas as proposições validamente deduzidas dele também são verdadeiras. Uma vez que a revelação bíblica condena todos os outros sistemas de pensamento, e tudo o que ela diz é verdade, a fé cristã é, portanto, o único sistema de pensamento verdadeiro e o padrão pelo qual toda proposição é julgada.
O método é semelhante ao racionalismo, mas há diferenças importantes. Embora o uso da dedução no racionalismo não cristão a torne superior às filosofias não cristãs que favorecem a indução, a sensação e a experimentação, ela falha como as outras porque seus primeiros princípios são arbitrários e injustificados. Por outro lado, a Bíblia possui o conteúdo para justificar a si mesma como o primeiro princípio infalível da fé cristã.
Seja como for, o dogmatismo é talvez um nome melhor do que o racionalismo despretensioso, já que transmite mais prontamente a ideia de que a cosmovisão bíblica consiste, nas palavras de Miller, de dados revelados autocontidos oferecidos como um pacote.
Alternativamente, podemos acrescentar a qualificação necessária e chamar o método de, racionalismo bíblico, fundacionalismo bíblico ou pressuposicionalismo bíblico, desde que seja claro que o pressuposicionalismo bíblico não é mo pseudopressuposicionalismo de Van Til e Bahnsen. Seu método também pode ser chamado pressuposicionalismo sincrético, pois, contrariamente à sua afirmação, ele pressiona a síntese entre o pensamento cristão e o não cristão, e oferece aos princípios não cristãos a prioridade.
Toda pessoa tem uma cosmovisão. Uma cosmovisão consiste em uma rede de proposições inter-relacionadas, cuja soma forma "uma concepção abrangente ou uma compreensão do mundo"[23]. Uma dada cosmovisão pode ser chamada de "religião" ou "filosofia" por causa de seu conteúdo específico, mas é, no entanto, uma cosmovisão. Por cosmovisão, nos referimos a qualquer religião, filosofia ou sistema de pensamento.
Toda cosmovisão tem um ponto de partida ou primeiro princípio do qual o resto do sistema é derivado. Algumas pessoas afirmam que uma cosmovisão pode ser uma rede de proposições mutuamente dependentes sem um primeiro princípio. No entanto, mesmo que um milhão de mentirosos ateste um ao outro, todos eles ainda são mentirosos. Pelo menos um homem confiável teria que testemunhar por eles. Mas se todos eles são mentirosos, um homem confiável não testifica por eles os atende e sua credibilidade se desfaz. Do mesmo modo, uma rede de proposições ainda precisaria de um primeiro princípio que sustentasse a todos. Um primeiro princípio verdadeiro não produziria uma rede de falsas proposições, e uma rede de falsas proposições não seria apoiada por um verdadeiro primeiro princípio. Portanto, o primeiro princípio continua sendo a questão crucial.
Em uma rede de proposições, algumas proposições são mais centrais para a rede, cuja destruição também aniquilaria as proposições que são mais remotas. Mas mesmo as reivindicações mais centrais requerem justificação, e uma cosmovisão em que as proposições dependam umas das outras de uma maneira que careça de um primeiro princípio é, em última análise, exposta como não tendo qualquer justificação. A afirmação de que uma cosmovisão pode ser uma teia de proposições mutuamente dependentes sem a necessidade de um primeiro princípio é realmente uma tentativa de esconder o fato de que todas as proposições em tal teia carecem de justificação.
Portanto, permanece que toda cosmovisão requer um primeiro princípio ou autoridade última. Sendo primeiro ou último, tal princípio não pode ser justificado por nenhuma autoridade anterior ou maior; caso contrário, não seria o primeiro nem o último. Isso significa que o primeiro princípio deve possuir o conteúdo para justificar-se. Por exemplo, a proposição "Todo conhecimento vem da experiência sensorial", falha em ser um primeiro princípio sobre o qual uma cosmovisão pode ser construída. Isso porque, se todo conhecimento vem da experiência sensorial, então este primeiro princípio proposto também deve ser conhecido apenas pela experiência sensorial, mas a confiabilidade da experiência sensorial não foi estabelecida. Assim, o princípio gera um círculo vicioso e se autodestrói. Não importa o que possa ser validamente deduzido de tal princípio – se o sistema não pode sequer começar, o que decorre do princípio é sem justificação.
Também é impossível começar uma cosmovisão com um primeiro princípio autocontraditório. Isso ocorre porque as contradições são ininteligíveis e sem sentido. A lei da contradição afirma que "A não é não-A", ou que algo não pode ser verdade e não ser verdade ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Alguém precisa assumir essa lei mesmo na tentativa de rejeitá-la; caso contrário, ele não pode nem distinguir entre aceitar e rejeitar essa lei. Mas uma vez que ele a assume, ele não pode mais rejeitá-la, já que ele já a assumiu. Se dissermos que a verdade pode ser contraditória, então também podemos dizer que a verdade não pode ser contraditória, uma vez que abandonamos a distinção entre pode e não pode. Se não afirmamos a lei da contradição, os cães são gatos, os elefantes são ratos, "vejo Jane correr" pode significar "eu sou casado", e "eu rejeito a lei da contradição" pode significar "eu afirmo a lei da contradição" ou mesmo "eu sou um idiota". Se não é verdade que "A não é não-A", qualquer coisa pode significar qualquer coisa e nada ao mesmo tempo, e nada é inteligível.
Visto que nenhum primeiro princípio adequado pode ser autocontraditório, o ceticismo é impossível, porque é autocontraditório. Quando usado no sentido filosófico, um "cético" refere-se àquele que afirma que "nenhum conhecimento é possível ... ou que não há evidência suficiente ou adequada para dizer se algum conhecimento é possível".[24] Ambas as expressões de ceticismo são autocontraditórias – uma afirma saber que não se pode saber nada, e a outra afirma saber que não há provas suficientes para saber alguma coisa. Se uma pessoa afirma que não se pode saber se alguém pode saber alguma coisa, então ela ainda está afirmando saber que não se pode saber se alguém pode saber alguma coisa e, portanto, ela se contradiz.
Princípios autocontraditórios são insustentáveis. O ceticismo é autocontraditório e, portanto, insustentável. Isso significa que um primeiro princípio adequado deve garantir a possibilidade de conhecimento.
Além de tornar o conhecimento possível, um primeiro princípio também deve produzir uma quantidade adequada de conhecimento. Para ilustrar, "Meu nome é Vincent", pode ser uma proposição verdadeira, mas não me diz nada sobre a origem do universo, ou se roubar é imoral. Nem sequer me dá o conceito de "origem" ou "moralidade". Além disso, embora possa ser uma proposição verdadeira, como eu sei, em primeiro lugar, que ela é verdadeira? A proposição "Meu nome é Vincent" não prova que meu nome seja realmente Vincent; ela não se justifica. Um primeiro princípio é inadequado se falhar em fornecer informações sobre epistemologia, metafísica e ética, e se falhar em se justificar.
Por pelo menos as razões acima, um primeiro princípio não pode ser baseado sobre a indução, em que as premissas não levam inevitavelmente à conclusão, como raciocinar de particulares para universais. Por exemplo, nenhuma quantidade de investigação empírica pode justificar a proposição "Todo ser humano tem um cérebro". Para estabelecer uma proposição geral como essa por meios empíricos, a pessoa deve examinar todo ser humano que já viveu, que agora vive, e como essa é uma proposição sobre os seres humanos, ele também deve examinar cada ser humano que viverá no futuro. Além disso, enquanto ele está examinando os seres humanos em uma parte do mundo, ele deve de alguma forma assegurar que a natureza do homem não tenha mudado naquelas partes do mundo cujos seres humanos ele já estudou.
Além disso, como ele prova que ele sabe que um ser humano tem um cérebro só porque acha que está olhando para ele? Ele deve fornecer justificativa para a alegação de que ele sabe que algo está lá apenas porque acha que está olhando para ele. Mas seria viciosamente circular dizer que ele sabe que algo está lá só porque acha que está olhando para ele, porque o que ele acha que está olhando está realmente lá, e ele sabe que está realmente lá porque acha que está olhando para ele. Somando-se à situação agora já impossível, para provar essa proposição geral sobre os seres humanos por sensação e indução, ele também deve examinar seu próprio cérebro.
Com base na indução, em primeiro lugar, seria impossível definir um ser humano, uma vez que o conceito de ser humano é também um universal. De fato, com base na indução, nunca se pode estabelecer qualquer proposição, muito menos uma proposição universal como "Todos os homens são mortais".
Algumas pessoas tentam resgatar a indução dizendo que, embora ela não possa estabelecer conclusivamente qualquer proposição, pelo menos pode estabelecer uma proposição como provável. Mas isso é tanto enganoso quanto falso. Probabilidade refere-se à "proporção do número de resultados em um conjunto exaustivo de resultados igualmente prováveis que produzem um determinado evento pelo número total de resultados possíveis".[25] Mesmo se admitirmos que os métodos empíricos e indutivos podem descobrir o numerador da fração (embora eu negue que eles possam fazer até mesmo isso), determinar o denominador requer conhecimento de um universal, e a onisciência é frequentemente necessária para estabelecer isto.
Visto que a probabilidade consiste em um numerador e um denominador, uma vez que o denominador é universal e, visto que os métodos empíricos e indutivos não podem conhecer universais, dizer que a indução pode chegar a um conhecimento "provável" é um absurdo. Mesmo à parte de outros problemas insolúveis inerentes ao próprio empirismo, uma epistemologia baseada em um princípio empírico não pode ter sucesso, uma vez que o empirismo depende necessariamente da indução, e a indução é sempre uma falácia formal.
Por outro lado, a dedução produz conclusões que são garantidas como verdadeiras se as premissas forem verdadeiras e se o processo de raciocínio for válido. Embora o racionalismo seja menos popular, ele é um tremendo aperfeiçoamento em relação ao empirismo, porque raciocina usando a dedução em vez de usar métodos empíricos e indutivos. Mas, ainda assim, o racionalismo não cristão não consegue estabelecer uma cosmovisão verdadeira e coerente, e examinaremos brevemente alguns de seus problemas.
O racionalismo seleciona um primeiro princípio (ou como na geometria, começa com um ou mais axiomas) e deduz o resto do sistema a partir dele. Se o primeiro princípio é verdadeiro e o processo de raciocínio dedutivo for válido, então as proposições ou teoremas subsidiários seriam todos verdadeiros por necessidade.
Um problema principal com o racionalismo não revelacional tem a ver com como ele seleciona um primeiro princípio.[26] Se o primeiro princípio é autocontraditório, então é claro que deve ser rejeitado. Mas mesmo que o princípio não seja autocontraditório, também deve ser autojustificador para evitar a acusação de ser arbitrário. Embora eu diria que apenas o primeiro princípio bíblico é autojustificador, mesmo que um primeiro princípio não bíblico seja autoconsistente e autojustificador, ele deve ser amplo o suficiente para tornar o conhecimento possível. Deve conter conteúdo suficiente para que se possa deduzir uma visão de mundo adequada. Assim, postular a proposição, "Meu nome é Vincent", como o primeiro princípio em uma cosmovisão racionalista resultaria nos fracassos mencionados anteriormente.
Ainda outro problema com o racionalismo não revelacional é que existem várias escolas de sistemas racionalistas, e seus pontos de partida são todos diferentes e incompatíveis. Qual deles está correto? Uma cosmovisão racionalista com um primeiro princípio arbitrário não pode ter sucesso. Embora a abordagem dedutiva racionalista seja muito superior à abordagem empírica indutiva, ela também resulta em fracasso. Uma vez que em algum momento uma pessoa usa uma das abordagens, ela inevitavelmente introduz os problemas dessa abordagem em sua cosmovisão, uma mistura de racionalismo e empirismo só combinaria as falhas fatais de ambos os métodos.
Então, as proposições dentro de uma cosmovisão não devem se contradizer. Por exemplo, o primeiro princípio de uma cosmovisão não deve produzir uma proposição em ética que contradiga outra proposição em metafísica, em política ou em economia.
Por esse ponto, tendo examinado as condições para um primeiro princípio adequado, os problemas do empirismo e da indução, e os problemas do racionalismo não bíblico, já temos destruído efetivamente todos os sistemas não cristãos existentes e possíveis. Eles simplesmente não podem satisfazer todos os requisitos que listamos. Isso inclui o islamismo, o mormonismo e outras religiões não cristãs que alegam ser fundadas na revelação, uma vez que, após exame, se verá que suas supostas revelações não podem satisfazer as condições.
Nossa estratégia para a apologética bíblica começa com o reconhecimento de que o cristianismo é o único sistema dedutivo com um primeiro princípio autoconsistente e autojustificador que foi infalivelmente revelado por um Deus todo-poderoso e onisciente, e que é amplo o suficiente para produzir um número suficiente de proposições para construir uma cosmovisão abrangente e coerente.
O cristianismo é a única cosmovisão verdadeira, e somente ele torna o conhecimento possível. Todos os outros sistemas de pensamento colapsam no ceticismo, mas uma vez que o ceticismo é autocontraditório, não se pode permanecer em tal posição, e o cristianismo é o único caminho para sair do abismo epistemológico.
Os argumentos clássicos para a existência de Deus não fornecem suporte positivo para toda a cosmovisão bíblica. Mesmo que fossem bem-sucedidos, eles defendem apenas a verdade de várias proposições bíblicas, tais como Deus como o criador, Deus como projetista e Deus como o legislador. Por outro lado, o racionalismo cristão avança simultaneamente todas as proposições bíblicas e todas as suas implicações lógicas. Se toda a Bíblia é verdadeira, então é claro que Deus existe – Ele é como a Bíblia o descreve, e todas as outras ideias de divindade são excluídas.
Um defeito mais sério dos argumentos clássicos é sua dependência da sensação, da indução e da ciência. Uma vez que esses métodos de descoberta são irracionais, um argumento deve falhar se depender de qualquer um deles em qualquer ponto, mesmo que chegue a uma conclusão que se assemelhe à verdade, tal como a existência de um ser supremo. Isto é, o raciocínio científico pode mostrar que é mais racional afirmar antes que negar a existência de Deus. No entanto, como o próprio raciocínio científico é falacioso, devemos rejeitar o raciocínio científico, embora afirmemos a existência de Deus. Em outras palavras, não devemos afirmar a existência de Deus com base no raciocínio científico.
Os argumentos clássicos podem permanecer úteis como um tipo de argumentos ad hominem. Isto não é a falácia do ataque pessoal irrelevante, mas o método de transformar as premissas do oponente em sua própria posição. Assim, o cristão, por uma questão de argumento, assume temporariamente as falsas premissas do não cristão, tais como a confiabilidade da sensação, a validade da indução e a racionalidade da ciência. Então, a partir dessas premissas, o cristão raciocina para conclusões absurdas, demonstrando assim a tolice das premissas não cristãs, ou raciocina para conclusões favoráveis à fé cristã, como a existência de Deus, a confiabilidade histórica da Bíblia, a ressurreição de Cristo e a superioridade da ética bíblica.
Nesse sentido negativo, os argumentos clássicos demonstram a superioridade racional da fé cristã, mesmo quando pressupostos falsos como a confiabilidade da sensação e da ciência são assumidos.[27] Uma vez que esses argumentos se baseiam em um fundamento irracional, eles não são provas positivas de qualquer coisa. É impossível alcançar um conhecimento correto de Deus acumulando argumentos clássicos. Em vez disso, se eles forem usados, sua função é destrutiva – eles derrotam o não cristão em seu próprio território, mostrando que ele está errado até mesmo por seu próprio padrão. Um argumento infalível para a fé cristã requer a revelação infalível de Deus como seu fundamento.
Provérbios 26: 4-5 oferece dois princípios que resumem a abordagem bíblica da apologética:
1. "Não responda a um tolo de acordo com a sua tolice, ou você será como ele mesmo".
2. "Responda a um tolo de acordo com sua tolice, ou ele será sábio aos seus próprios olhos."
"O tolo diz em seu coração: 'Não há Deus'" (Salmos 14: 1). A Bíblia está ciente de que existem aqueles que negam a Deus, ela diz que eles são pessoas estúpidas. O não cristão é um tolo. Ele confia em falsos princípios e suposições, como a confiabilidade da sensação, a validade da indução, a racionalidade da ciência e da experimentação, os axiomas arbitrários do racionalismo não bíblico e os textos das religiões não bíblicas. O não cristão confia nessas coisas porque ele é estúpido. Eles o levam a chegar a conclusões falsas e a defender essas conclusões. Ele acha que sua inteligência e metodologia inferiores podem descobrir a verdade sobre a realidade. Ele acha que não precisa de Deus para ensiná-lo.
O versículo 4 diz que o cristão não deve pensar como o não cristão, a fim de evitar tornar-se uma pessoa estúpida. Cornelius Van Til, Greg Bahnsen e seus seguidores cometem esse mesmo erro. Eles reivindicam que sua filosofia pressupõe Deus como a precondição da inteligibilidade para todas as coisas, e que pressiona a antítese entre o pensamento cristão e o não cristão. Isso é uma mentira, porque então eles insistem com veemência que os princípios não cristãos, como a confiabilidade da sensação, da indução e da ciência, são consistentes com os princípios bíblicos.
Em vez de rejeitar esses falsos princípios, eles os abraçam. Segundo eles, a diferença é que o não cristão não pode "explicar" esses princípios, mas o cristão pode fazê-lo com base em pressuposições bíblicas. Mas uma vez que esses princípios não cristãos são inerentemente irracionais e falsos, isso significa que eles forçam as pressuposições bíblicas a "justificarem", num sentido que endossa e, portanto, valida princípios e proposições falsos. Quando são desafiados sobre isso, alguns deles até afirmam que esses princípios não cristãos constituem a precondição para conhecer os princípios bíblicos. Por exemplo, a confiabilidade da sensação tornou-se para eles a precondição para o conhecimento da revelação.
Portanto, ao contrário de sua reivindicação, o primeiro princípio e a autoridade última de sua cosmovisão não são a revelação divina, mas a sensação humana. Assim, a filosofia deles é que as pressuposições não cristãs fornecem a precondição da inteligibilidade aos princípios cristãos. Isto é o oposto do que eles reivindicam para o seu método. Uma vez que isso equivale a um ataque contra a fé cristã, ou eles nunca estiveram interessados em defendê-la em primeiro lugar, ou em responder ao tolo de acordo com sua loucura, eles se comprometeram com as premissas do tolo e se tornaram como ele. Eles se tornaram pessoas estúpidas.
Enquanto os argumentos clássicos forem considerados como provas positivas, como se eles pudessem de fato demonstrar a verdade, ao invés de serem apenas argumentos destrutivos ou ad hominem, então seu uso também comete esse erro. Tanto a apologética clássica quanto a apologética pseudopressuposicionalista fracassam na medida em que assumem princípios não cristãos, não apenas para argumentar a fim de refutá-los, mas como princípios verdadeiros para provar a fé cristã ou para promover uma síntese entre a fé bíblica e a cristã pensamento não bíblico.
Mas podemos evitar isso. Não precisamos responder ao não cristão de acordo com seus princípios. Podemos nos recusar a aceitar as premissas de um tolo, e podemos nos recusar a raciocinar como uma pessoa estúpida. Em vez disso, a partir do fundamento infalível da revelação de Deus, podemos deduzir um sistema infalível e abrangente de conhecimento. Esse é o aspecto positivo da filosofia e apologética bíblicas.
No entanto, sem se tornar como o tolo, podemos assumir suas premissas para ver onde elas conduzem.[28] Isso é diferente da apologética clássica e do pseudopressuposicionalismo. Praticantes da apologética clássica adotam as premissas não bíblicas como verdadeiras e argumentam sobre essa base. Praticantes do pseudopressuposicionalismo fingem adotar a revelação como seu primeiro princípio, mas na realidade eles adotam pressuposições não cristãs tão tenazmente quanto os não cristãos, alegando que a revelação as "explica" – isto é, fazem sentido, valida e justifica-as. Eles até tornam alguns desses falsos princípios, incluindo a confiabilidade da sensação, a precondição para o conhecimento da revelação. Eles reivindicam "pressionar a antítese", mas na realidade eles pressionam uma síntese entre princípios bíblicos e não bíblicos, entre verdade e falsidade, Cristo e Satanás. Em contraste, nós assumimos as premissas do não cristão apenas de uma maneira temporária, e isso é feito apenas por uma questão de argumentação, com a intenção expressa de refutar todos eles.
Nós afirmamos que a ciência é irracional, de modo que ela falha como um meio de descobrir a verdade sobre a realidade, mas também podemos mostrar que o raciocínio científico favorece a fé cristã mais do que qualquer outra cosmovisão, e inflige danos a crenças e valores não cristãos.
Podemos formular argumentos históricos contra os não cristãos, sabendo que seu método de investigação histórica impede qualquer conhecimento de história em primeiro lugar. Esse é o aspecto negativo da apologética bíblica e pode acomodar argumentos empíricos e científicos. Novamente, esses argumentos não podem demonstrar a verdade positiva sobre qualquer coisa, mas eles podem mostrar que os não cristãos assumem premissas que militam contra si mesmos.
Essa estratégia dual funciona contra todas cosmovisões não cristãs, incluindo as religiões não bíblicas. Faz pouca diferença se a cosmovisão não cristã for ateísmo, agnosticismo, comunismo, niilismo, budismo, mormonismo, islamismo ou qualquer outro sistema de pensamento. O método é o mesmo. Uma vez que a Bíblia é verdadeira, e uma vez que ela condena todas as outras religiões, então todas as religiões não bíblicas são declaradas falsas pela mesma autoridade infalível que declara que a Bíblia é verdadeira. Qualquer um que desafie isso deve refutar a Bíblia, ponto em que o cristão pode empregar os argumentos transcendentais e pressuposicionalistas para defender sua fé e destruir a posição do não cristão.
Podemos demonstrar que a religião não cristã é autocontraditória. Ou podemos mostrar que ela não pode acomodar alguns dos valores éticos que ele valoriza, mas que podem existir de maneira coerente apenas na cosmovisão bíblica. Por exemplo, o budismo afirma certos princípios éticos, mas carece de qualquer base racional e autoritária para apoiá-los. Eles existem de uma maneira arbitrária nessa cosmovisão. Então, se uma religião não cristã afirma um método secular de investigação histórica, podemos usá-lo para fazer descobertas que exponham os erros históricos dessa religião. Se uma religião aceita o método científico, então podemos usar o método científico para refutá-la. Novamente, a ciência comete a falácia tríplice do empirismo, indução e experimentação, isto é, a falácia de afirmar o consequente. Então a ciência não pode provar nada. Mas podemos assumi-la, por uma questão de argumento, para refutar um sistema de pensamento que aceita a ciência como confiável.
O cristão usa tanto a argumentação positiva quanto negativa para defender sua fé e confundir os não cristãos. Paulo escreve:
As armas com as quais lutamos não são as armas do mundo. Pelo contrário, eles têm poder divino para demolir fortalezas. Nós demolimos argumentos e toda pretensão que se coloca contra o conhecimento de Deus, e tomamos cativo todo pensamento para torná-lo obediente a Cristo. (2 Coríntios 10:4-5)
Todo cristão tem o dever de defender sua fé e destruir as crenças não cristãs. Como Pedro escreve: "Esteja sempre preparado para dar uma resposta a todos que lhe pedem para dar a razão da esperança que você tem" (1 Pedro 3:15). E Judas diz: "Senti que tinha que escrever e pedir-lhe que lutasse pela fé que foi de uma vez por todas confiada aos santos". A estratégia bíblica, com o argumento pressuposicionalista como o impulso central, prepara o cristão para "demolir argumentos" e "tomar cativo todo pensamento", mesmo quando confrontar os inimigos mais astutos e hostis.
Como devemos considerar o não cristão? Salmo 14:1 diz: "O tolo diz em seu coração: 'Não há Deus'". Claro, a Bíblia não chamaria uma pessoa de tola por rejeitar Zeus,
Alá, Buda e outros falsos deuses e religiões, uma vez que a própria Bíblia os rejeita. A palavra "Deus" aqui é usada em um sentido específico, como se referindo apenas ao Deus que a Bíblia ensina. Uma pessoa é estúpida se rejeita esse Deus. Qualquer um é estúpido se rejeita o Deus cristão, ou Deus como a Bíblia o descreve. Quer sejam ou não religiosos, todos os não cristãos, por definição, rejeitam o Deus cristão. Portanto, o ensinamento bíblico é que todos os não cristãos são estúpidos.
Romanos 1: 22-25 confirma isso: "Embora eles alegassem ser sábios, eles se tornaram loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas para parecerem mortais e pássaros e animais e répteis ...." Assim, a Bíblia chama todos os não cristãos de estúpidos, sejam eles ateus, agnósticos, budistas, católicos ou muçulmanos. O Salmo 53: 2 sugere que quem não busca a Deus não tem entendimento: "Deus olha do céu para os filhos dos homens, para ver se há algum que entenda, qualquer que busque a Deus". Novamente, a Bíblia reconhece apenas um Deus como verdadeiro, e assim, buscar algum tipo de Deus, ou alguma divindade geral ou religião, não conta. A menos que uma pessoa busque o Deus cristão – a menos que uma pessoa acredite na fé cristã – ele não tem entendimento. O versículo 4 diz que os "obreiros da iniquidade" não têm "conhecimento" (KJV). Os não cristãos são estúpidos e ignorantes.
Por outro lado, a Escritura ensina: "O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; todos os que seguem os seus preceitos têm bom entendimento"(Salmos 111: 10). Provérbios 9:10 diz: "O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é o entendimento". Assim, os cristãos têm sabedoria e entendimento. Eles são pessoas inteligentes. Mas uma vez que o temor de Deus é o princípio da sabedoria, e a Bíblia reconhece apenas o Deus cristão, isso significa que os não cristãos nem sequer começaram a ter sabedoria. Eles não têm nem um pouco disso. Eles são completamente ignorantes e sem instrução.
A Bíblia diz que é por causa de sua "maldade" que os não cristãos "suprimem a verdade" (Romanos 1:18) sobre a existência e os atributos de Deus, mesmo que Ele tenha colocado em suas mentes uma revelação inescapável sobre si mesmo, e mesmo que o mundo criado e a palavra revelada testifiquem sobre Ele. Paulo escreve: "Eles sabem sobre Deus, mas não o honram nem agradecem. Seus pensamentos são inúteis, e suas mentes estúpidas estão em trevas. Eles alegam ser sábios, mas são tolos" (Romanos 1:21-22, CEV). Leia de novo: "Suas mentes estúpidas estão em trevas". Isto é o que a Bíblia diz, e o que Deus pensa, sobre os não cristãos, sobre aqueles que não creem nele, e que não o honram, agradecem-lhe e adoram-no. Todos os cristãos são obrigados a ter essa opinião sobre os não cristãos. Ou pensamos que todos os não cristãos são estúpidos e estão em trevas, ou chamamos Deus de mentiroso.
A avaliação bíblica dos não cristãos é que eles são tanto estúpidos quanto pecaminosos. Eles são intelectual e eticamente inferiores. Eles demonstram sua falta de aptidão intelectual ao falhar em concordar com a fé cristã. E ao negar a fé cristã, apesar do conhecimento inato que Deus colocou em suas mentes e apesar dos argumentos irrefutáveis da apologética bíblica, eles mostram que eles não são apenas avestruzes intelectuais, mas que eles ativamente suprimem a verdade sobre Deus. Isso é maldade no seu pior. Paulo escreve "A ira de Deus está sendo revelada do céu contra toda a impiedade e maldade dos homens que suprimem a verdade por sua maldade" (Romanos 1:18).
Nós fomos uma vez também "alienados de Deus e inimigos em nossas mentes" (Colossenses 1:21), mas Deus nos reconciliou consigo mesmo através de Jesus Cristo (v. 22). Em contraste, os nãocristãos estão "separados de Cristo ... sem esperança e sem Deus no mundo" (Efésios 2:12). Paulo escreve: "O deus desta século cegou as mentes dos incrédulos, de modo que eles não podem ver a luz do evangelho" (2 Coríntios 4: 4), e a pregação do evangelho é para "abrir os olhos e transformá-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, para que eles recebam o perdão dos pecados e um lugar entre aqueles que são santificados pela fé" (Atos 26:18).
A Bíblia descreve os não cristãos como desprezíveis, totalmente inúteis e patéticos. Nós também estávamos em tal condição. Se deixado a nós mesmos, teríamos permanecido na ignorância e maldade. Foi somente pela graça de Deus que nos escolheu para ouvir e crer no evangelho que fomos iluminados para a verdade e levados à fé em Jesus Cristo. Agora não somos mais lixo espiritual, mas cidadãos úteis do reino de Deus. Portanto, quando dizemos que os não cristãos são tolos, não queremos dizer que sempre fomos sábios, ou que éramos melhores em nós mesmos, mas foi somente pela eleição soberana de Deus que fomos salvos de um estado de estupidez e futilidade. Nós não nos tornamos cristãos porque tivemos a sabedoria de conhecer a verdade por nossa própria habilidade, mas recebemos essa sabedoria porque Deus nos escolheu para nos tornarmos cristãos, para sermos resgatados do pecado e do fogo do inferno através do sacrifício de Jesus Cristo. Sabendo disso, não há espaço para arrogância, mas somos gratos a Deus por nossa salvação, e labutamos para que outros também sejam salvos.
Em todo caso, permanece que a Bíblia caracteriza todos os não cristãos como estúpidos e pecaminosos. Assim, os cristãos devem considerar os não cristãos intelectual e eticamente inferiores. É claro que os não cristãos podem pensar que essa é uma avaliação indelicada e ofensiva, mas os cristãos não devem pensar como eles. Uma vez que a Bíblia ensina que os não cristãos são estúpidos e pecaminosos, e ser cristão é acreditar na Bíblia, então ser cristão é acreditar que todos os não cristãos são estúpidos e pecaminosos. Portanto, a menos que estejamos prontos para renunciar a Deus e à Escritura, devemos dizer com Anselmo: "Por que então 'o Tolo disse em seu coração, não há Deus' ... a não ser porque ele era estúpido e um tolo?"
NOTAS DE RODAPÉ:
[1] Uma vez que Deus controla todos os detalhes de sua criação, mesmo aqueles que negam sua existência pensam e agem apenas como Deus quer, e nesse sentido eles "servem" a seus propósitos. No entanto, eles não estão cientes do controle de Deus sobre eles e pensam que são autônomos. Seus pensamentos e ações, todos decretados por Deus, conduzem à condenação.
[2] Anselm of Canterbury: The Major Works; Oxford University Press, 1998; p. 87-89.
[3] Começar com a autoconsciência é começar com a proposição "eu existo".
[4] Os proponentes modernos de argumentos cosmológicos incluem Norman Geisler e William Lane Craig.
[5] Tomás de Aquino, Summa Theologica; P. 1, Q. 2, A. 3. Tradução pelos Padres da Província Dominicana Inglesa.
[6] Os defensores modernos de argumentos do design incluem Michael Behe e William Dembski.
[7] William Paley, Natural Theology (1802), como citado em The Existence of God, editado por John Hick; New York: Macmillan Publishing Company, 1964; p. 99-103.
[8] Em tempos mais recentes, o esforço de Kant foi emulado por C. S. Lewis, embora com uma formulação e agenda diferentes.
[9] Immanuel Kant, Critique of Practical; New York: Macmillan, 1956; p. 166.
[10] Ibid., 127.
[11] Hastings Rashdall, The Theory of Good and Evil; Oxford, England: Clarendon Press, 1907; II, p. 212.
[12] Robert Stern, Transcendental Arguments and Scepticism; New York: Oxford University Press, Inc., 2000; p. 6.
[13] Veja Vincent Cheung, Ultimate Questions.
[14] Para um exemplo, veja Vincent Cheung, "The Problem of Evil." Veja também Vincent Cheung, Ultimate
Questions e Presuppositional Confrontations.
[15] Eu tenho refutado isso em Ultimate Questions, Presuppositional Confrontations, e Captive to Reason.
[16] Gordon H. Clark, The Christian View of Men and Things (Trinity Foundation, 1998), p. 155.
[17] Merriam-Webster's Collegiate Dictionary, Tenth Edition; Springfield, Massachusetts: Merriam-Webster,
Inc., 2001.
[18] Webster's New World College Dictionary, Fourth Edition; IDG Books Worldwide, Inc., 2000.
[19] The Oxford American Dictionary ofCurrent English; New York: Oxford University Press, 1999.
[20] Merriam-Webster's Collegiate Thesaurus. O termo "teologia dogmática" é o equivalente geral de
"teologia sistemática" no uso teológico.
[21] Como em "impor a vontade ou opiniões sobre os outros"; Merriam-Webster's Collegiate Dictionary.
[22] Ed. L. Miller, God and Reason, Second Edition; New Jersey: Prentice-Hall, Inc., 1972, 1995; p. 9.
[23] Merriam-Webster's Collegiate Dictionary, Tenth Edition; Springfield, Massachusetts: Merriam-Webster,
Incorporated, 2001; "weltanschauung." The Cambridge Dictionary of Philosophy, Second Edition: "Uma cosmovisão constitui uma perspectiva global da vida que resume o que sabemos sobre o mundo"; New York: Cambridge University Press, 2001; "Wilhelm Dilthey," p. 236.
[24] The Cambridge Dictionary of Philosophy, "Céticos," p. 850.
[25] Merriam-Webster, "probabilidade."
[26] Algumas pessoas definem o racionalismo como uma abordagem que rejeita todas as revelações sobrenaturais desde o início, e isso é de fato verdade para com alguns sistemas racionalistas. Mas como uma abordagem ao conhecimento, o racionalismo não inclui uma rejeição inerente da revelação; em vez disso, aceitar ou rejeitar a revelação depende do primeiro princípio selecionado para um determinado sistema.
[27] Uma vez que a ciência está em constante mudança, as versões modernas dos argumentos clássicos são provavelmente mais úteis contra os oponentes contemporâneos, enquanto o argumento pressuposicional não requer revisão. Costuma-se dizer que a ciência tem sido e continuará a ser progressista. Esta é uma tácita admissão de que a ciência nunca esteve certa e que nunca estará certa. A Bíblia tem estado correta em tudo o que afirma desde que foi escrita pela primeira vez. Ela não precisa de mudança ou progresso.
[28] Como Paulo diz: "Eu estou falando como um tolo" (2 Coríntios 11:21).
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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010. pp. 32-51.
Traduzido por:
Cristiano Lima.
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