O ARGUMENTO PRESSUPOSICIONALISTA é um método direto e positivo para promover a verdade e a necessidade da fé cristã. É em essência uma forma de dogmatismo.
A palavra "dogmático" carrega conotações desfavoráveis no discurso coloquial. Um dicionário define "dogmatismo" como "positividade na afirmação de opinião, especialmente quando injustificável ou arrogante; um ponto de vista ou sistema de ideias baseado em premissas insuficientemente examinadas"; e um "dogma" é "um ponto de vista ou princípio posto como autoritário sem motivos adequados."[17] Embora essas definições reflitam o uso não acadêmico popular, queremos dizer algo muito diferente.
"Dogmático" pode significar simplesmente "doutrinário"[18] ou "baseado em princípios a priori, não em indução. "[19] Ambas as definições são aplicáveis em nosso contexto. Os sinônimos dessa palavra incluem "ditatorial, autoritativo, magisterial" e, em outro sentido, "dedutivo, a priori, dedutível, derivável e fundamentado".[20] A Bíblia cristã é uma revelação de Deus, e como Deus fala por uma autoridade absoluta e "ditatorial"[21], sua revelação é a precondição de todo pensamento e vida, e o conhecimento vem de deduções válidas dela.
Em God and Reason, Ed. L. Miller explica o significado de dogmatismo como uma posição filosófica:
Uma das características da tradição judaico-cristã é sua crença em uma autorrevelação divina: Deus intervém na história humana e fala; Ele desvenda a Si mesmo em uma “revelação especial”. E o conhecimento de Deus extraído de Sua revelação é um exemplo de teologia revelada. Tal teologia é algumas vezes chamada de “dogmática” (no melhor sentido da palavra) ou “confessional”, porque busca elucidar os artigos de fé (dogmas) divinamente concedidos, que toma como seus dados fundamentais e inegociáveis. O teólogo dogmático não é diferente do matemático, pois começa com certas suposições, ainda que em tal caso suposições reveladas; o sistema é limitado pela revelação, é completo e é oferecido como um package deal [grupo de coisas juntamente agrupadas, e que devem ser reunidas sempre dessa forma].[22]
O sistema cristão toma a revelação bíblica como seu primeiro princípio autoautenticador. Por autoautenticador, não estamos nos referindo a que a Bíblia se confirma em nossa experiência. Ela pode muito bem ser consistente com nossa experiência, mas se considerarmos a Bíblia verdadeira porque é consistente com nossa experiência, ou porque é consistente com nossa interpretação de nossa experiência, então ela não seria autoautenticadora. Antes, nossa experiência, ou o padrão ou princípio pelo qual interpretamos nossa experiência, seria o verdadeiro primeiro princípio. Tampouco estamos nos referindo ao testemunho interior do Espírito Santo de que a Bíblia é uma revelação de Deus, embora isso realmente aconteça com aqueles que foram escolhidos para a salvação. Pelo contrário, por autoautenticadora, queremos dizer que a Bíblia verifica e se apóia pela excelência e suficiência de seu próprio conteúdo, e que não precisa depender de premissas externas a si mesma.
A partir desse primeiro princípio da revelação bíblica, o restante do sistema segue por necessidade através de deduções válidas.
Uma vez que o primeiro princípio se confirma como verdadeiro, todas as proposições validamente deduzidas dele também são verdadeiras. Uma vez que a revelação bíblica condena todos os outros sistemas de pensamento, e tudo o que ela diz é verdade, a fé cristã é, portanto, o único sistema de pensamento verdadeiro e o padrão pelo qual toda proposição é julgada.
O método é semelhante ao racionalismo, mas há diferenças importantes. Embora o uso da dedução no racionalismo não cristão a torne superior às filosofias não cristãs que favorecem a indução, a sensação e a experimentação, ela falha como as outras porque seus primeiros princípios são arbitrários e injustificados. Por outro lado, a Bíblia possui o conteúdo para justificar a si mesma como o primeiro princípio infalível da fé cristã.
Seja como for, o dogmatismo é talvez um nome melhor do que o racionalismo despretensioso, já que transmite mais prontamente a ideia de que a cosmovisão bíblica consiste, nas palavras de Miller, de dados revelados autocontidos oferecidos como um pacote.
Alternativamente, podemos acrescentar a qualificação necessária e chamar o método de, racionalismo bíblico, fundacionalismo bíblico ou pressuposicionalismo bíblico, desde que seja claro que o pressuposicionalismo bíblico não é mo pseudopressuposicionalismo de Van Til e Bahnsen. Seu método também pode ser chamado pressuposicionalismo sincrético, pois, contrariamente à sua afirmação, ele pressiona a síntese entre o pensamento cristão e o não cristão, e oferece aos princípios não cristãos a prioridade.
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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010.
Traduzido por:
Cristiano Lima
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