Paulo diz que isso é o que a humanidade tem feito com o seu conhecimento
sobre Deus. Ele declara que algum conhecimento sobre Deus é inato, de modo que cada pessoa nasce com algum conhecimento sobre Deus, mas porque o homem é pecador, ele se recusa a reconhecer e adorar este verdadeiro Deus, e assim suprime e distorce esse conhecimento inato:
Pois a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, pois aquilo que é conhecido sobre Deus é evidente entre eles; porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis. Porque, embora tenham conhecido a Deus, não o honraram como Deus, nem lhe renderam graças; mas eles tornaram-se fúteis em suas especulações, e o coração insensato deles foi obscurecido. (Romanos 1:18-21, NASB)
As pessoas frequentemente reclamam que há evidência insuficiente sobre
Deus e o Cristianismo, mas a Bíblia diz que eles já conhecem sobre esse verdadeiro Deus, pois se recusam reconhecê-lo ou adorá-lo. O conhecimento sobre Deus é "evidente entre eles", porque Ele "lhes manifestou". O problema não é uma falta de evidência, mas uma série de pressuposições artificialmente manufaturadas que suprimem a evidência sobre Deus.
Alguns pensam que essa passagem fornece justificativa para argumentos empíricos que levam ao conhecimento de Deus. Contudo, temos estabelecido por nossas ilustrações e por exemplos bíblicos que a observação não pode fornecer nenhum significado ou informação inteligível. Portanto, a passagem não pode significar que uma observação da criação possa fornecer conhecimento sobre Deus; antes, certas ideias sobre Deus já residem na mente, independentemente de qualquer experiência ou observação.
A ilustração de assistir ao tênis também mostrou que é insuficiente ter apenas as categorias básicas necessárias à inteligibilidade, mas nossas ideias inatas devem conter conteúdos substanciais. Entretanto, se as ideias ou pressuposições inatas já contêm conteúdos substanciais sobre Deus, então o conhecimento sobre Deus não vem da experiência ou observação, mas este conhecimento já está na mente antes e à parte da experiência ou observação. Se você conhece as regras do tênis, assistir ao tênis não lhe dará informações adicionais sobre as suas regras, mas pode apenas estimular você a recordar e aplicar as regras ao observar o jogo. Da mesma forma, a experiência ou a observação, na melhor das hipóteses, pode apenas estimular a recordar e aplicar o conhecimento inato que você tem sobre Deus. Mais do que alguns comentaristas parecem concordar com essa visão até certo ponto. Aqui irei citar apenas Charles Hodge:
“Não é de uma mera revelação externa que o apóstolo está falando, mas daquela evidência do ser e das perfeições de Deus que todo homem tem na constituição de sua própria natureza, e em virtude da qual ele é competente para apreender a manifestação de Deus em suas obras”. Consequentemente, a NLT traduz, ou melhor, parafraseia, como se segue:
“Pois a verdade sobre Deus é conhecida instintivamente por eles. Deus colocou esse conhecimento nos corações deles”.
Uma passagem posterior confirma que Deus colocou algum conhecimento sobre si mesmo na mente do homem diretamente, à parte da experiência ou observação:
Pois quando os gentios, que não têm a Lei, praticam instintivamente as coisas da Lei, esses, não tendo Lei, são uma lei para si mesmos, pois mostram a obra da Lei escrita em seus corações. Disso dão testemunho a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso tudo se verá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, de acordo com o meu evangelho. (Romanos 2:14-16, NASB).
Não pense que isso significa que alguns gentios sejam inocentes - o ponto de Paulo é que ninguém é inocente. Em vez disso, o versículo 12 diz: “Todo aquele que pecar sem a Lei, sem a Lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a Lei, pela Lei será julgado”.
Paulo está argumentando que aqueles que têm a palavra de Deus (mas que não acreditam no que ela diz sobre Cristo) e aqueles que não têm a palavra de Deus são ambos culpados de pecado e sujeitos à condenação. Então ele não está dizendo que alguns ou todos os homens são salvos porque eles já conhecem a Deus, nem está dizendo que o conhecimento inato sobre Deus carrega conteúdo suficiente para a salvação, se uma pessoa apenas reconhecer o que ele conhece.
Em vez disso, o ponto é que os homens estão sem desculpas para negar o verdadeiro Deus porque eles suprimem a verdade sobre Ele. Portanto, a passagem não justifica as religiões do mundo, mas seu propósito é condenar todas as cosmovisões não cristãs, especialmente religiões não cristãs.
Nosso interesse neste ponto está no conhecimento inato sobre Deus na mente do homem, à parte da experiência ou observação. A NASB tem "instintivamente" no verso 14, o que é bom, e o NJB usa o termo "sentido inato". Mas a frase "uma lei para si mesmos" pode induzir em erro. Isso não significa que os gentios, por não possuírem a Escritura, determinem o certo e o errado por si mesmos; em vez disso, significa o que já está implícito no "sentido inato", de modo que J. B. Phillips traduz "eles têm uma lei em si mesmos". Isso confirma nossa afirmação de que existem ideias inatas na mente do homem, e que os conteúdos consistem não apenas em categorias de pensamento, mas em conhecimento real sobre Deus, tornando aqueles que o negam sem desculpa.
As pessoas devem, de fato, "ver" Deus na natureza,[3] mas estou tentando explicar por que elas não o fazem, ou por que afirmam que não o fazem.
Paulo está dizendo que você tem que suprimir e distorcer o conhecimento que já está em sua mente, a fim de rejeitar o cristianismo e afirmar uma religião, filosofia ou cosmovisão não cristã. Somente o cristianismo corresponde ao que você já conhece em sua mente, de modo que você terá que reprimir e distorcer o que você já conhece e, na verdade, enganar a si mesmo, para aceitar alguma outra coisa que não a cosmovisão ou religião cristã.
NOTA DE RODAPÉ:
[3] Charles Hodge, Romans; The Banner of Truth Trust, 1997 (original: 1835); p. 36.
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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Pressupositional Confrontations. ed. 2010. pp.7-8.
Traduzido por:
Cristiano Lima, em 17/07/2018.
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