O estudo da apologética cristã freqüentemente inclui uma discussão sobre fé e razão. Uma visão sugere que a razão pode formular argumentos que compelem o assentimento dos incrédulos, usando premissas reconhecidas por ambos os lados. Isto é, as maiores reivindicações do Cristianismo podem ser provadas como verdadeiras pela razão somente, independente das premissas bíblicas. Contudo, sob uma análise pressuposicional, pode ser demonstrado que até mesmo a própria razão requer a cosmovisão cristã como sua pré-condição, sem a qual ninguém poderá sequer ser lógico.
Lembre-se que este livro diz respeito somente ao esboço do método de apologética, ou à uma forma de argumentar em favor da verdade do Cristianismo. O método atualmente apresentado é freqüentemente chamado de apologética clássica ou apologética evidencial. Embora aderentes desta abordagem freqüentemente adotem a primeira visão de fé e razão como explicada no parágrafo anterior, o presente escritor está convencido de que ela é inadequada, e que a segunda visão é a correta.
Todavia, visto que este livro introduz a apologética evidencial, o que se segue tenta explicar ainda mais a primeira visão de fé e razão, para mostrar ao leitor como este sistema de apologética geralmente funciona. Mas, tenha em mente que sem primeiro assumir a fé cristã, até mesmo a própria razão não tem fundamento. Esta última consideração serve como um desvio da apologética evidencial para a apologética pressuposicional, mas não consideraremos a última neste livro. Agora continuaremos com a apologética evidencial.
Quando falando aos outros sobre a fé cristã, precisamos de um denominador comum com o qual ambos os lados possam contar, e ao qual ambos possam apelar. Os cristãos contam com a Escritura para informá-los sobre Deus, o universo, a natureza humana, a sociedade e todos os outros aspectos da fé e da vida. Nós consideramos a Escritura como autoritativa e infalível, pois suas palavras foram inspiradas por Deus. Deus nos diz diretamente a verdade através da Bíblia.
Contudo, problemas levantam-se quando cristãos tentam usar a Escritura em suas conversações com incrédulos ou membros de religiões não-cristãs –– a saber, estes não consideram a Escritura autoritativa e, portanto, falham em sentir qualquer impacto nos argumentos dos cristãos ao usarem a Escritura. Certamente, a maioria dos não-cristãos não tem problema com os cristãos apelarem à Escritura quando o debate é sobre o que o Cristianismo autêntico crê, mas isto não significa que eles reconhecerão o que é ensinado na Escritura como verdadeiro. Aqueles que pertencem à religiões não-cristãs, freqüentemente têm seus próprios textos sagrados confiáveis, e responderão aos apelos dos cristãos à Escritura apelando ao seu próprio livro sagrado.
Parece que, mesmo se formos usar a Escritura em nossos argumentos, devemos apelar a alguns outros denominadores comuns que temos com os não-cristãos, para levá-los a crer na reivindicação de que a Bíblia é confiável. A Escritura não pode ser o primeiro e o único denominador comum que temos com os não-cristãos, pois eles não reconhecem sua autoridade. Certamente, é possível para o Espírito Santo usar passagens da Bíblia para convencer os incrédulos e abrir suas mentes para aceitarem a posição cristã.
Portanto, precisamos de um denominador comum que seja considerado autoritativo para o incrédulo, de forma que quando o cristão demonstrar a verdade do Cristianismo usando este denominador comum, o incrédulo será forçado a abandonar o denominador comum, ou a aceitar o Cristianismo como verdadeiro. O melhor denominador comum que corresponde às exigências é a razão. A maioria dos incrédulos respeita a autoridade da razão, e muitos reivindicam que eles não são cristãos precisamente devido à sua confiança na razão.
Se puder ser demonstrado que a razão favorece as reivindicações do Cristianismo, e mostrar de fato que o ateísmo, ou qualquer outra filosofia ou religião sustentada pelo incrédulo, é falso e contraditório, então, o incrédulo deve fugir para o campo da irracionalidade (uma acusação que eles falsamente trazem contra o Cristianismo), ou concordar com as reivindicações do Cristianismo e agir de acordo com ele.
Alguns cristãos podem objetar a este ponto, dizendo que a razão é contra o Cristianismo; contudo, isto é uma mentira que incrédulos têm publicado por anos, tanto que muitos cristãos a têm aceitado como verdade. A lógica é tão essencial que é impossível argumentar contra seu uso sem usá-la. Se alguém afirma ou nega o seu uso, ela está afirmando-a. É como dizer, “Eu posso falar português” e “Eu não posso falar uma palavra em português” –– a primeira afirmação usa o português para afirmar a capacidade de alguém falar o idioma, enquanto que a última usa o português para negar a capacidade de falar português, que também tem o efeito de afirmar a capacidade de alguém de falar o português. Uma vez que alguém argumenta contra o uso da razão para defender o Cristianismo, ele já está usando a razão para falar sobre o assunto de defender o Cristianismo.
Nem todos os cristãos são contra o uso da razão porque eles a consideram uma forma ímpia de defender a fé. Embora alguns possam citar isto como sua razão, a causa real de sua preocupação descansa sobre a idéia de que o incrédulo vencerá o argumento se concordamos sobre a razão como o nosso denominador comum. Eles suspeitam que se concordarmos que crenças contraditórias devem ser falsas, então, o Cristianismo se mostrará como falso.
Esta insegurança vem da falta de informação e treinamento. Pode-se dizer com segurança que muitos parariam de se objetar ao uso da razão e da lógica como o nosso denominador comum com o incrédulo, se eles tivessem a certeza de que o Cristianismo não é contraditório e que ele pode ser demonstrado como sendo o único sistema de crença lógico, coerente e realístico que existe. Devemos perceber que a própria natureza de Deus é lógica e não-contraditória. A razão sã procede naturalmente de Deus, e qualquer discurso sobre Ele ou qualquer estudo das Escrituras deve empregar a razão e as regras da lógica para receber e transmitir idéias de uma maneira significativa e coerente. Sem a razão para confirmar nossas (e dos incrédulos) crenças, a apologética seria impossível, visto que todas as crenças seriam reduzível à preferências subjetivas, pessoais e não-demonstráveis.
Para dizer outra palavra concernente à apologética pressuposicional, pode parecer que, se a fé é a pré-condição da própria lógica, então, o denominador comum da razão entre o crente e o incrédulo desaparece; sem primeiro assumir a cosmovisão cristã, o incrédulo não tem direito de arrazoar. Mas o ponto é que o incrédulo tentar usar a lógica, e ao agir assim, revela uma inconsistência de sua parte, visto que suas cosmovisões inadequadas tornam a lógica impossível. Este é um dos argumentos disponíveis à apologética pressuposicional.
Um pressuposicionalista pode negar quer sem assumir o Cristianismo alguém pode chegar à verdade de alguma forma, e, assim, por seus defeituosos princípios básicos, a ciência sempre falha em chegar à verdade. Todavia, tal apologeta ainda pode empregar a evidência científica para sustentar sua posição como argumentos ad hominem eficazes; isto é, mesmo por pressuposições do incrédulo, o Cristianismo permanece triunfante sobre as cosmovisões oponentes. O restante deste livro continua a apresentar como um evidencialista tende a defender a fé cristã. Para entender mais com respeito a como as pressuposições de alguém afetam seu raciocínio, o leitor é encorajado a estudar meus outros escritos sobre o assunto.
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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Evidential Apologetics, capítulo 2.
Traduzido por:
Felipe Sabino, em 30/03/2005.
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