"Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia." (Hebreus 10:25, ACF)
Comecemos por afirmar as coisas com as quais estamos de acordo. Afirmamos que o próprio Deus projetou e estabeleceu a igreja, de modo que ela não é uma invenção arbitrária do homem, e que Cristo é quem edifica sua igreja, de maneira que minar seu valor e progresso é se opor ao próprio Cristo. Afirmamos que a igreja se manifesta na terra como muitas congregações locais, e que cada congregação local é considerada imperfeita, porém que sua própria imperfeição não a torna ilegítima. Essas coisas não estarão sob discussão no que se segue, de modo que, não importa o que seja dito, de maneira nenhuma deve ser entendido que esses itens sejam negados ou comprometidos.
Assim, afirmamos que a frequência à igreja, pelo menos em princípio, é desejável. Dizemos “em princípio” porque seria absurdo afirmar que a frequência à igreja é boa, independente das doutrinas e qualidades dos pregadores, membros e outras considerações. Talvez alguns se oponham a isso, e digam que a frequência à igreja é desejável e até mesmo necessária, não importa o que aconteça. Essa é uma das coisas que serão resolvidas, pelo menos em relação ao nosso texto. Em todo caso, os itens listados acima, e a legitimidade geral da membresia e da frequência à igreja não estarão sob discussão. O que estará sob discussão é o uso apropriado de Hebreus 10:25.
A Bíblia possui poder incomparável e exige respeito e obediência. Por essa razão, não é incomum as pessoas assaltá-la para promoverem seus próprios pontos de vista e interesses. Frases e sentenças que parecem utilizáveis para esse propósito são repetidas como truísmos para persuadir, manipular e até mesmo ameaçar os outros por submissão. Isso é feito com tanta frequência que há quem se queixe de que a Bíblia pode ser distorcida para endossar qualquer agenda. Mas tal observação é preguiçosa e falsa. Alguém pode falhar em notar um texto arrancado do contexto, de tal modo que ele fique sob pressão a acreditar na posição afirmada. Outro pode observar que o mesmo texto é usado para afirmar muitas posições contraditórias, mas se há um contexto para o texto que restringe seu significado, então, se queixar que o texto pode ser usado dessa forma, é ser enganado tanto quanto a primeira pessoa.
A queixa seria relevante apenas se acompanhada pela alegação de que não há contexto para qualquer texto bíblico, e que todo texto, ou pelo menos todo texto que tenha sido usado para afirmar posições contraditórias, ocorra sem qualquer contexto teológico, literário, histórico ou cultural. Entretanto, a alegação de que todo texto desse tipo ocorre num vácuo seria falsa; em vez disso, a verdade é que todo texto da Bíblia aparece em algum contexto que coloca grandes restrições em seus possíveis significados e aplicações. Se uma letra deve ser lida em relação às suas letras adjacentes para formar uma palavra, e uma palavra deve ser lida em relação às suas palavras adjacentes para formar uma frase, então uma sentença ou um parágrafo também deve ser lido em relação ao seu contexto, a fim de formar um pensamento.
Para ilustrar, há o mandamento , “Honre a seus pais,” e isso inclui a ideia de obedecê-los, de fazer o que eles dizem. Os pais são humanos e, como tais, são pecadores, como todos os homens e mulheres. Assim, não é incomum que eles manipulem seus filhos com esse texto. Mesmo pais não cristãos às vezes usam isso para impor seus maus desejos sobre seus filhos. Entretanto, esse mandamento não foi descoberto em um biscoito da sorte, mas Deus o anunciou no contexto dos Dez Mandamentos, que por sua vez foram revelados no contexto de seus poderosos sinais e prodígios em Êxodo e no contexto de toda a Lei.
A autoridade dos pais foi mantida e restringida pela Lei, e eles teriam que obedecê-la. Os próprios pais teriam sido punidos pela Lei se tivessem violado seus mandamentos. Se um pai ou mãe tivesse ordenado a seu filho que adorasse um ídolo, cometesse perjúrio ou fizesse alguma outra coisa contrária à Lei, tal instrução não teria nenhuma autoridade, e a criança não teria a obrigação de obedecê-la; em vez disso, ela teria que resistir e até mesmo denunciá-lo, a fim de que ele recebesse a punição que merecia da Lei. Assim, Paulo escreve: “Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor”. Se seus pais lhe disserem para jogar o lixo ou lavar a louça, ou algo muito mais significativo do que isso, faça-o. Mas se eles lhe disserem para adorar um ídolo, aceitar um ensinamento ou ideologia não cristã, mentir para alguém, ou ignorar o pecado, então desobedeça-os e pleitei com eles; mas se isso falhar, repreenda-os e desafie-os até a morte.
Ou que tal o provérbio: “Na multidão de conselheiros há segurança”? Usando isso, as algumas pessoas tentaram impor seus maus conselhos sobre mim. Eles não apenas me obrigaram a ouvir, mas assumiram que, a menos que o conselho deles afetassem minha decisão, eu estava rejeitando o conselho e desobedecendo a Bíblia. No entanto, em Provérbios 11:14, a declaração se aplica a um povo ou a uma nação, e em 24: 6, refere-se à guerra. Evidentemente, isso não impede que ela seja aplicada em uma escala menor, então uma consideração mais significativa é que os próprios Provérbios distinguem entre os sábios e os tolos. E diz: “Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal” (13:20). Assim, é suposto que a multidão de conselheiros é de sábios. Como 20:18 diz: “Os planos são estabelecidos por conselho; por sábia orientação, se guerreia” (ESV). Quem são os sábios? Provérbios diz que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, assim, os não cristãos nem sequer começaram a possuí-la.
A verdade é que a maioria das pessoas não são cristãs; que a maioria das pessoas que se dizem cristãs não são; que os cristãos mais genuínos não são educados na palavra de Deus; e que a maioria dos cristãos genuínos educados na palavra de Deus são tendenciosos por causa de seus desejos pecaminosos e tradições religiosas. A maioria das pessoas que oferecem conselhos, oferecem conselhos ruins, porque a maioria delas não tem ideia do que estão falando. Na multidão de tolos, há muito perigo. “O caminho do insensato parece-lhe justo, mas os sábios ouvem o conselho” (12:15). Isso é verdade, mas no contexto de Provérbios, é suposto que tal conselho é piedoso e sábio. Agora, nem todos os bons conselhos concordam, e mesmo quando concordam, isso nem sempre significa que é o conselho certo para você. Você poderia levá-lo em conta, mas depois fazer outra coisa. Porém, conselhos tolos de pessoas tolas devem ser rejeitados, não importa qual verso eles usem para manipulá-lo ou ameaçá-lo. Não sinta medo ou culpa por descartá-los. Se possível, familiarize-se com as pessoas que reverenciam a Deus, e que conhecem e acreditam nas Escrituras, e buscam conselhos delas.
Assim, descontroladamente, um verso arrancado do contexto por todo parte, nada faz para promover a verdade e a piedade; em vez disso, prejudica a fé e a vida daqueles que respeitam a Bíblia e tentam obedecê-la. Muito dano tem sido causado pelo uso indevido de Hebreus 10:25. Tem sido usado, muitas vezes sem levar em conta o contexto do versículo ou a situação do público, afim de exigir a participação e frequência à igreja, e ameaçar aqueles que se abstêm ou se retiram. Mas a razão para o abandono é primordial neste verso; de fato, a menos que nossa compreensão do verso seja completamente colorida por ele, perderíamos o seu ponto e, de fato, o ponto de tudo de aos Hebreus. O motivo do abandono é tão importante que é questionável se o verso pode ser aplicado fora do contexto. Ele restringe as possíveis aplicações.
A partir do primeiro verso de Hebreus, o escritor oferece uma demonstração meticulosa da superioridade de Cristo sobre o sistema judaico. Ele mostra que Jesus Cristo é superior a Moisés, Arão, os profetas e até mesmo os anjos, que devem adorá-lO. Ele mostra que Cristo está em uma ordem superior de sacerdócio, que Ele administra uma melhor aliança com melhores promessas, em um santuário mais excelente, e que Ele ofereceu um sacrifício superior, o qual foi completo e permanente.
A comparação é feita não contra a religião popular dos judeus, que foi corrompida com regras e tradições inventadas por homens que reivindicaram o cumprimento da Lei, mas de fato a subverteram, mas é feita contra a Lei real que o próprio Deus estabeleceu no Antigo Testamento. O escritor não sugere que a Lei foi um erro, mas que sempre foi a sombra que introduziria a realidade, isto é, Jesus Cristo: “A Lei traz apenas uma sombra dos benefícios que hão de vir, e não a sua realidade” (10: 1). Ou, como Gálatas 3:24 diz: “Assim, a Lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé”.
O fato de o argumento envolver essa comparação meticulosa com aquelas coisas que eram mais importantes para os judeus poderia sugerir que os leitores eram judeus e que sua condição era tal que eles precisavam ser lembrados da superioridade de Cristo. No entanto, um ensinamento geral sobre a superioridade de Cristo é insuficiente para estabelecer este contexto. Como às vezes ressalto, os estudiosos assumem regularmente que quando um escritor bíblico exorta seus leitores a uma doutrina ou prática, isso deve significar que eles estavam acreditando ou fazendo o oposto, ou pelo menos em risco de acreditar ou fazer o oposto. Mas isso é uma falácia, já que na realidade qualquer pessoa pode mencionar qualquer assunto a qualquer outra pessoa por qualquer motivo, ou apenas porque ela acha que é importante. Isso não significa que a Bíblia contenha materiais irrelevantes, porque toda a Bíblia é importante para os cristãos, de modo que toda ela é relevante para eles em todas as situações. O ponto é que não podemos assumir que relevância signifique que os leitores originais estavam sempre acreditando ou fazendo o oposto do que lhes foi escrito. Isso parece tornar mais difícil o aprendizado do contexto (mas o contrário só produz a ilusão de um bom entendimento do contexto), mas, ao contrário da opinião acadêmica, quase nunca é necessário conhecer a condição específica dos leitores para entender e aplicar uma passagem.
Quando dizemos a um estudante para “estudar bastante”, isso não significa necessariamente que achamos que ele seja preguiçoso. Talvez ele já esteja estudando bastante e a exortação seja um incentivo para que ele continue. Uma pessoa que ouve isso deve ter pouco problema em entender o que as palavras significam, mesmo sem qualquer conhecimento sobre o estudante. Uma vez admitido, "bastante" é relativo e pode-se medir o significado apenas se ele tiver um ponto de referência. Entretanto, esse ponto de referência não precisa ser o estudante. Se essa pessoa nos segue, em vez do estudante, ele logo entenderá o que entendemos por "bastante”, talvez até melhor do que se ela seguisse o estudante.
Do mesmo modo, não há necessidade de seguir os leitores de Paulo e Pedro para entender o que os apóstolos querem dizer. Eu posso seguir Paulo e Pedro lendo os Atos dos Apóstolos e suas muitas cartas. Todo o Novo Testamento me ajuda a entender a cultura e formação deles e, portanto, o que eles querem dizer com seus ensinamentos. De fato, poderíamos dizer “estude bastante” para ninguém em particular, e alguém que nos ouve poderia ainda ter uma ideia do nosso pensamento. Ele entenderia que isso é o que valorizamos e, novamente, poderia avaliar o que queremos dizer com “bastante”, conhecendo mais sobre nós, sem qualquer necessidade de saber mais sobre quem dizemos isso, que neste caso não é ninguém.
Por outro lado, os estudiosos da Bíblia muitas vezes são tão obcecados em pesquisar informações extrabíblicas para esclarecer sua leitura de passagens bíblicas que eles deixam de ler as próprias passagens bíblicas. Não é incomum encontrar um comentário que forneça páginas de informações históricas incertas, apenas para provar o que o versículo diz explicitamente, muitas vezes dentro da mesma sentença, ou pior, para descobrir que faz inferências falsas a partir de pesquisas já duvidosas, para chegar a uma conclusão que seja explicitamente contradita pelo verso, ou talvez a sentença seguinte na passagem. A primeira, a mais importante e também a mais negligenciada regra de interpretação bíblica é ler as palavras.
Agora, se disséssemos: “Estude bastante – pare de ser tão preguiçoso”, então alguém que ouve isso, também obtém algum conhecimento sobre não apenas o que valorizamos, mas também a condição do estudante. Isso pode ser útil, mas, novamente, é desnecessário entender a exortação para “estudar bastante.” No entanto, há declarações em Hebreus que nos fornecem essa percepção direta da condição de seus leitores. Por exemplo, 5:11 diz: "Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de explicar, porque vocês se tornaram lentos para aprender." Dizer “aprender mais rápido” não indicaria que os leitores demoram a aprender (novamente, os comentários bíblicos constantemente cometem tal falácia), mas “você demorou a aprender” sem dúvida indicaria isso. As declarações que envolvem tal descrição, se estiverem obviamente relacionadas a ela, também fornecerão informações sobre os leitores. Depois disso, quando encontramos declarações em outras partes de Hebreus que ecoam a mesma ênfase, seria razoável supor que elas também abordam a condição do público original.
Com isso em mente, a seção que começa em 5:11 indica que os leitores demoraram a progredir na fé (5: 11-14), com ênfase especial em sua falta de avanço na compreensão das doutrinas cristãs (6 : 1-3). Há uma advertência ou exortação (6: 4-8), mas o escritor observa: “Estamos convictos de coisas melhores em relação a vocês, coisas próprias da salvação” (v. 9). Então vemos isto: “E desejamos que cada um de vocês mostre a mesma sinceridade para que tenha plena certeza da esperança até o fim, para que não sejam negligentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e paciência, herdam as promessas” (v. 11-12, ESV). Se descobrissémos essa afirmação em outro lugar, não poderíamos concluir que ela foi escrita para tratar da condição específica dos leitores. Mas podemos tirar esta conclusão aqui porque a declaração aparece no contexto de uma descrição e discurso direto sobre os leitores (5:11, etc.). Depois disso, torna-se razoável supor que declarações semelhantes em Hebreus também são escritas pela mesma razão e com a mesma intenção (3:14, 4:14, etc.).
Para resumir, os leitores eram crentes e fizeram alguns progressos desde que foram convertidos, mas foram perseguidos por causa de sua fé cristã e foram pressionados a abandoná-la, e a retornar a um antigo modo de vida, muito provavelmente o modo de vida judeu. Usando um argumento teológico maduro e continuado, o escritor de Hebreus demonstra que Jesus Cristo é o superior e único caminho, e que ao invés de tornarem-se negligentes e temerosos, e de voltarem ao estilo de vida anterior, os leitores devem prosseguir adiante pela fé, e persistir até o fim.
É assim que devemos entender as declarações em torno do nosso texto: “apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel (v. 23. ...Quem rejeitava a Lei de Moisés morria sem misericórdia... Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus… e insultou o Espírito da graça? (v. 28-29) …Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados quando suportaram muita luta e muito sofrimento. ...Por isso não abram mão da confiança que vocês têm (v. 32, 35)… Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que Ele prometeu (v. 36). ... Nós, porém, não somos dos que retrocedem e são destruídos, mas dos que creem e são salvos. (v. 39).”
O tema que perpassa todas as passagens é Jesus Cristo, sem dúvida, levarmos para casa esta exortação: “Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se a direita do trono de Deus. Pensem bem Naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem” (12:2-3). Assim, o impulso de 10:25 não pode bruscamente ser sobre a igreja como tal. A mensagem de Hebreus é que os cristãos devem se apegar a Jesus Cristo, e não que eles devam se agarrar uns aos outros. Esses dois não são a mesma coisa. Os membros de uma congregação local podem permanecer juntos, e juntos podem abandonar a Cristo e seguir na direção errada, como muitas igrejas fizeram. Mas a mensagem de Hebreus exigiria que uma pessoa ficasse sozinha e se apegasse a Jesus Cristo, mesmo quando todos os outros membros de uma congregação abandonassem a fé.
Hebreus 10:25 deve ser colorido por esta mensagem e contexto, e portanto, o ponto é que os crentes não devem se afastar de uma congregação local devido ao cansaço espiritual ou medo de perseguição. Isto é, se o escritor tivesse adicionado um verso que diz: “Não deixem o país”, nesse contexto, não poderia ser interpretado como uma proibição contra viagens, mas o significado seria: “Não fujam (mesmo para fora do país) por causa de cansaço espiritual ou medo de perseguição."
Assim, os líderes cristãos barateam o versículo e desviam a atenção de seu tema principal – Jesus Cristo – quando o usam principalmente para exigir a participação e frequência à igreja. Costuma-se dizer que nenhum crente pode crescer ou permanecer fiel sem comunhão constante com outros crentes. Isso é um lixo! Há, de fato, vários versos em Hebreus que dizem aos cristãos para encorajar uns aos outros, mas a Bíblia nunca diz que ninguém pode permanecer fiel sem isso. Pelo contrário, ninguém pode ficar sem Jesus Cristo, isto é, sua graça para sustentar nossa fé Nele. E com sua força, qualquer um pode ficar sozinho, não apenas contra incrédulos, mas até mesmo contra dez mil igrejas apóstatas. Jesus Cristo é o autor e consumador da nossa fé, não a igreja ou os outros crentes. Ele pode usar outras pessoas para realizar seu propósito, mas nada na Bíblia sugere que Ele deva.
Existem ramificações significativas. Por exemplo, isso permite a possibilidade de uma pessoa suspender sua participação ou retirar sua adesão, não por cansaço espiritual ou medo de perseguição, mas precisamente devido à fidelidade a Cristo. Ninguém pode dizer a ele: “Mas a Bíblia diz para 'não abandonar a nossa congregação' ”. Não, ela não diz isso, não exatamente. O contexto é como uma frase ou declaração entre parênteses. Desse modo, o verso realmente diz: “Não abandonando a nossa própria congregação (por cansaço espiritual ou medo de perseguição)”. Claro, é possível que ele esteja usando a fidelidade a Cristo como pretexto, mas primeiro, ele pode de fato estar se retirando devido à fidelidade; e segundo, contanto que ele faça essa afirmação, mesmo que ele esteja arrumando um pretexto, ainda assim, 10:25, não se aplica direta e imediatamente a ele.
Existem muitas manifestações possíveis disso. Lembre-se de que Cristo e suas doutrinas não devem ser separados (6:1-3). Progredir em Cristo é também progredir na teologia cristã, entre outras coisas. Suponha que você seja o pastor, e um membro se queixe: “Sua pregação é tão herética e que é melhor eu ficar em casa e ler um livro”. Ele deseja ficar longe de você precisamente porque deseja se apegar a Cristo e progredir na fé. Ele não está abandonando a Cristo, mas deixando a sua igreja precisamente porque ele não quer abandonar a Cristo. Ele não está retornando para sua antiga vida, mas deixando você e indo em frente com Cristo. E ele está deixando sua igreja precisamente porque ele não tem medo de perseguição, nem mesmo perseguição de você e de sua gente.
Então você não pode usar Hebreus 10:25 contra ele, a menos que possa demonstrar que você é de fato hábil e ortodoxo nas doutrinas bíblicas e que essa pessoa não sabe do que está falando. Você pode discordar do que ele está fazendo ou do seu raciocínio, mas precisará de uma base bíblica diferente de 10:25 para apoiar sua opinião. No entanto, se ele estiver certo, então Hebreus 10:25 de fato milita contra você – você é quem não terá se apegado a Cristo, mesmo que permaneça em uma congregação, e provavelmente uma congregação de pessoas tão destrutiva e herética quanto você. Note que, porque seu verdadeiro significado tem sido obscurecido, esse texto tem sido usado pelos líderes da igreja para ameaçar os crentes por submissão sem ter que melhorar seus próprios ministérios ou permitir que as pessoas sigam a Cristo quando seus líderes têm falhado.
Se a objeção for que nós frequentamos a igreja não apenas para receber, mas para contribuir, então você permite que ele contribua? Se ele não puder progredir em Cristo sem sua igreja, e se não estiver qualificado para contribuir, então demonstre isso a ele, mas note que 10:25 ainda não se aplica. E se ele estiver certo de que sua igreja é problemática, e se estiver qualificado para contribuir, então por que ele não teria permissão para começar sua própria igreja ou ministério? Hebreus 10:25 não o impede, e não o força a ficar com a sua congregação em particular, então, novamente, isso não se aplica. Ele estaria deixando sua igreja porque é cheio de zelo e coragem, não por causa do cansaço e do medo.
Em uma era de apatia espiritual e insensibilidade, muitas congregações estão perdendo membros. Os líderes ficam nervosos e desesperados, e um tanto irritados, e ameaçam as ovelhas com versículos tirados do contexto, como Hebreus 10:25. No entanto, a verdadeira solução é declarar a mesma mensagem que o escritor de Hebreus dirigiu a seus leitores. Isto é, Jesus Cristo é superior a todas as coisas, e Ele é o único caminho para a vida, para o descanso e para a salvação. Se aqueles que rejeitaram Moisés morreram sem misericórdia, quanto mais severamente Deus castigará quem se afasta de Jesus Cristo? Não há diversidade religiosa com Deus, mas há apenas um Senhor, uma fé, um alvo. Há misericórdia em Cristo, mas nenhuma fora Dele. É Jesus Cristo, ou o sofrimento e a tortura eternos no inferno. Mas esta mensagem não serviria à suas agendas particulares e ambições ministeriais - você pode fazer isso apenas torcendo as Escrituras. Portanto, devemos continuar com Jesus Cristo e progredir na fé, com ou sem uma, e a favor ou contra uma congregação local, pois a salvação e o progresso espiritual estão em Cristo e não na igreja. Alguns líderes preferem fazer ameaças vazias do que continuar com Cristo. Eles são os únicos que serão deixados para trás.
Para que o acima exposto não seja ainda mal compreendido, uma vez que o uso tradicional foi tão solidificado na mente das pessoas que qualquer desafio contra a distorção pode ser interpretado como um desafio contra a própria igreja, enfatizarei novamente que nada do que eu disse se constitui um argumento contra a igreja, sua membresia e sua frequência; visto que endosso todas essas coisas. O argumento é contra o uso indevido de um verso, contra líderes que inventam pretextos, e contra – intencionalmente ou não – substituir Jesus Cristo pela comunhão da igreja. Vamos interpretar corretamente as Escrituras, não abandonando o contexto, como é costume de alguns. Mas focando nossa mente e energia em Jesus, retenhamos firmemente a confissão de nossa fé.
[http://www.vincentcheung.com/2011/05/25/not-forsaking-context/]
Traduzido por:
Cristiano Lima
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