terça-feira, 19 de março de 2019

LÓGICA E FALÁCIAS (2)

Tipos de falácia. Existem dois tipos de falácias, e discutiremos somente falácias que se enquadram em um dos dois tipos. Falácias formais dizem respeito mais à estrutura do argumento do que ao conteúdo. Como mencionado, um argumento pode ser válido em termos de estrutura, mas pode se tornar falso quando o conteúdo é levado em conta. Por outro lado, se a estrutura do argumento é inválida – se ele comete uma falácia formal – então, a conclusão do argumento não se segue das premissas, significando que o argumento deve ser rejeitado.

Para ilustrar uma falácia formal, revisaremos o argumento que acabamos de mencionar mais acima. Uma vez mais, o argumento é o seguinte:

     1. Se eu bato em Tom, ele ficará machucado.
     2. Tom está machucado.
     3. Portanto, eu bati em Tom.

Em termos de estrutura de argumento, ele pode ser algo assim:

     1. Se A, então B.
     2. B.
     3. Portanto, A.

A segunda premissa afirma o consequente como listado na primeira premissa. Afirmar o consequente, a menos que a primeira premissa diga “se e somente se”, em vez de apenas “se”, ignora outras causas possíveis que podem levar a B. Em outras palavras, C e D (não mencionados no argumento) podem levar também a B, e não apenas A; portanto, afirmar B não implica necessariamente A. Esse argumento contém uma falácia formal; ele é falacioso baseado em sua estrutura inválida.

Neste capítulo, estudaremos apenas falácias informais. Enquanto as falácias formais estão preocupadas com a validade do argumento, as falácias informais levam em consideração o conteúdo do argumento.

Algumas falácias comuns. O que segue são vinte e seis falácias informais que regularmente aparecem em argumentos. Saber como reconhecê-las equipará alguém a debater com outras pessoas, e o protegerá de ser afetado por falsas ideias, teológicas ou não. Existem outras falácias informais além daquelas que listei abaixo. Alguns livros-texto de lógica podem listar quarenta e cinco falácias, ou mesmo mais de sessenta.

Uma determinada ação dentro do contexto da argumentação pode ser chamada de um movimento, e as falácias que seguem podem ser consideradas como movimentos ilegítimos na argumentação. Usarei este termo às vezes quando me referindo a elas. Alguns dos seguintes exemplos podem estar relacionados a mais de uma falácia, mas cada um será visto à luz daquela sob consideração. Para manter este capítulo breve, definirei as falácias, mas não fornecerei exemplos para todas elas. Como se observará na explanação seguinte das falácias informais, alguns desses movimentos na argumentação são falaciosos somente dentro de certos contextos.

Apelo à Autoridade. O apelo à autoridade cita uma figura ou fonte proeminente como suporte de sua afirmação. Ele se torna uma falácia informal quando essa autoridade é um especialista num campo diferente. Seria um engano citar um físico para se referir à questão da economia, como se ele fosse um especialista neste campo também, e seria um engano citar um especialista em biologia num debate sobre religião. Muitos são ignorantes quando diz respeito a áreas não relacionadas com a sua especialidade, e suas visões sobre aqueles assuntos são frequentemente inferiores às dos profissionais medíocres daqueles campos.

Normalmente, a visão de celebridades, tais
como estrelas de cinema ou cantores, é citada ao se referir a assuntos tais como religião, ciência, política e economia. Assumindo que eles não têm nenhum treinamento ou qualificação relevante, o que eles pensam sobre um determinado assunto pode ser uma questão de interesse para alguns, mas não carrega nenhum poder persuasivo quando diz respeito à argumentação.

Uma autoridade nem sempre está correta,
mesmo no campo no qual é um especialista. Embora citar uma autoridade no campo sob consideração possa não ser uma falácia no sentido de tornar o argumento do orador mais crível, o argumento pode ainda estar incorreto. Tanto o orador quanto a autoridade citada podem estar errados. Em discussões sérias, é melhor não apoiar o caso todo sobre o testemunho de figuras de autoridade apenas.

Ao defender a fé, o crente demonstra que a
cosmovisão cristã inteira deve ser pressuposta para que o conhecimento e a inteligibilidade sejam possíveis, e que a autoridade da Escritura, sendo a Palavra de Deus, é o nosso primeiro princípio autoatestador. Apelar à autoridade da Escritura, portanto, não é uma falácia, pois ela é a autoridade última, com nada superior ou anterior para autenticar a sua verdade. A tarefa da apologética envolve articular e defender esse ponto.

Apelo à Força. Essa falácia usa ameaças para persuadir o rival a realizar uma ação ou adotar certa posição. Ela tenta convencer por meio da ameaça de consequências danosas, ao invés do raciocínio lógico. Não somente uma ameaça pode tomar a forma de violência física, mas pode ser também uma que pertença às finanças ou relacionamentos sociais. A ameaça de ostracismo seria uma ameaça pertencente à última categoria. Ela pode frequentemente ser bem-sucedida no domínio da situação, mas não alcança nenhuma persuasão intelectual.

Alguns podem usar esse movimento na
argumentação por diversas razões. O orador pode estar confuso sobre que fundamentos racionais existem para persuadir o outro a tomar sua posição. Ou pode parecer ao orador que seria mais rápido e convincente ameaçar o outro, em vez de dialogar pacientemente com ele.

Apelo à Evidência Futura. Quando alguém apela à evidência futura, ele está dizendo que, embora a evidência atualmente disponível não substancie ou seja insuficiente para substanciar a visão do orador, as descobertas futuras justificarão suas afirmações. Geralmente ela carrega pouca força lógica, pois a verdade dessa predição não pode ser conhecida até um tempo futuro, significando que não existe nenhuma base real para aceitar o argumento do orador no presente.

Contudo, se tem havido várias descobertas
que apontam para uma direção definida, tornando provável que certa visão seja confirmada sobre a base de evidência futura que possa aparecer, então esse movimento não deve ser considerado uma falácia. Todavia, o argumento ainda não pode ser provado como verdadeiro baseado na evidência não disponível imediatamente.

Ao debater a questão da origem do homem, os evolucionistas frequentemente cometem essa falácia dizendo que as descobertas futuras de registros fósseis ou outros achados confirmarão a teoria da evolução. Mas, baseado na evidência que temos até aqui, não é provável que a evidência futura confirme a evolução. Parece que, quanto mais evidência descobrirmos, mas improvável a evolução parecerá. Portanto, o apelo à evidência futura pelos evolucionistas deve ser considerado uma falácia. Em todo o caso, esse movimento deveria ser usado moderadamente na argumentação, se é que devesse mesmo.

Apelo à Ignorância. Uma pessoa está apelando à ignorância ao insistir que sua posição é verdadeira sobre a base que seu oponente não pode refutá-la. Algumas crenças não podem ser provadas como falsas, mas isso não significa que sejam verdadeiras. Talvez o orador esteja meramente enfrentando um oponente que não tenha o recurso, treinamento ou a inteligência para refutar a sua posição, mas isso em si não implica que o orador esteja certo. Crenças verdadeiras não podem ser provadas como falsas, mas o que não pode ser provado
como falso não deveria ser
automaticamente aceito como verdadeiro.

Apelo à Opinião Popular. Essa falácia comum tenta estabelecer sua posição como crível sobre a base que ela é aceita por muitos indivíduos, ou mesmo pela maioria. Vivemos numa geração confusa, irracional e tola. Por exemplo, muitos estudantes colegiais têm orgulho de se apresentar como pensadores independentes (embora, mesmo o valor de ser isso tenha sido ensinado a eles por outros); mas, na argumentação e discussões, eles rapidamente apelam à opinião popular como forma de fortalecer suas opiniões.

Esse movimento é uma falácia, porque a
maioria pode estar errada. Quando diz respeito a certos assuntos, a maioria pode estar mais frequentemente errada do que certa. Portanto, simplesmente porque uma posição é sustentada pela maioria não prova nada sobre a verdade de uma posição, exceto o fato que ela é sustentada pela maioria.

Esse movimento na argumentação pode ter o efeito de pressionar o ouvinte a aceitar a afirmação proposta, a que é supostamente acreditada pela maioria. Ao rejeitar a afirmação do orador, o ouvinte se arrisca em se isolar intelectual e socialmente. O apelo à opinião pública produz mais pressão emocional do que força lógica.

Apelo à Prática Popular. Essa é a falácia do “todo mundo faz isso”. Similar ao apelo à opinião popular, ele julga o que é bom ou correto baseado na disposição da maioria. Se a maioria faz algo, ou faz algo de certa forma, então, de acordo com essa falácia, isso adiciona credibilidade à prática.

O apelo à prática popular sofre das mesmas críticas que o apelo à opinião popular, ou seja, a maioria pode estar errada. Na maioria dos argumentos, a disposição da maioria não deveria ser levada em conta tão seriamente. Contudo, em algumas discussões, crenças populares podem adicionar certa credibilidade a uma posição – depende de a que o argumento se refere.

Apelo a Ditos Populares. Essa falácia apela a ditos populares para formar uma ou mais premissas num argumento. Declarações como “nenhuma dor, nenhum ganho”, “o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”, “errar é humano”, “ver é crer”, “as ações falam mais alto que as palavras”, e “uma imagem vale mais do que mil palavras” são declarações sem prova, ambíguas e normalmente tolas, que não podem contribuir em discussões racionais. Uma pessoa deve aprender a questionar esses ditos populares. É sempre verdade que quando a dor não é experimentada, nunca há algum ganho? É verdade que o poder corrompe todo o mundo? Podemos provar que todas as pessoas que já tiveram algum poder foram corrompidas? Onde está a evidência para isso? “Ver é crer” é uma posição de crença epistemológica, não uma declaração de fato. De que forma uma imagem vale mais do que mil palavas? Podemos reduzir nossos dicionários, enciclopédias, antologias literárias, ou mesmo a Bíblia, transformando todos em livros de imagens, e ainda reter a mesma quantidade de informação, com o mesmo nível de precisão?

Pode-se não pretender uma aplicação literal e universal para essas declarações, de modo que o acima exposto possa parecer injusto; contudo, muitas pessoas usam tais ditos populares como se eles pudessem ser interpretados dessa forma, e como se estivessem na mesma categoria de verdades estabelecidas. Ao lidar com tais pessoas, precisaremos desafiar as premissas fazendo perguntas similares às que apresentamos.

Uma declaração tal como “nenhuma dor, nenhum ganho” é somente uma observação que parece ser verdade em algumas situações altamente específicas. Pode haver inúmeras ocasiões nas quais muito ganho é alcançado sem qualquer dor, de modo que é tolo usar tal declaração assim:

     1. “Nenhuma
dor, nenhum ganho”.

     2. Você não está experimentando nenhuma dor.

     3. Portanto, você não obterá nenhum ganho.

Embora soe ridículo, muitas pessoas
argumentam dessa forma, mesmo dentro do contexto de discussões e debates sérios. Além do mais, muitos ditos populares contradizem outros ditos populares, e não podem ser todos corretos ou aplicáveis.

Apelo à Compaixão. O apelo à compaixão é especialmente vil e desonesto. O orador tenta focar a atenção sobre o apuro e desespero no qual ele ou outros estão, não na tentativa de estabelecer a credibilidade racional de sua posição, mas para influenciar as emoções do oponente ou da audiência, ganhar a compaixão deles, e assim adquirir a vantagem no debate. Esse tipo de argumento é usado com frequência, e em todos os tipos de situações – desde relacionamentos pessoais a ocasiões tais como negociações políticas entre duas nações. Algumas vezes, um partido forte que não está especialmente numa desvantagem pode fingir ser a vítima, ou o “azarado”, para induzir culpa e compaixão no oponente ou audiência.

Uma pessoa cometendo essa falácia não
tenta arrazoar, mas manipular. Uma mãe pode tentar induzir culpa em seu filho dizendo-lhe o quanto ela tem se sacrificado por ele, e o quanto se importa com ele. Se isso é verdade ou não, tem pouca relevância para o assunto sob discussão, de modo que não é uma tentativa de diálogo, mas de controlar e suprimir o outro.

Os cristãos geralmente apelam à compaixão. A Bíblia ensina que devemos andar em amor, e ter compaixão pelos outros. Conhecendo parte do que ela ensina, incrédulos e mesmo cristãos professos tentam se aproveitar da nossa fé. Contudo, além do ensino para sermos “inofensivos como a pomba”, a Bíblia também nos admoesta a sermos “prudentes como as serpentes” (Mt 10.16).

Um cristão pode confrontar um incrédulo
sobre um pecado particular. O último pode dizer que, embora ele possa estar errado (algumas vezes eles podem não admitir isso), o cristão tem o mandamento de “amá-lo” e, portanto, deveria tolerar seu comportamento. Às vezes, um incrédulo que não gosta do comportamento de um cristão, mesmo quando o cristão está certo, pode tomar a iniciativa contra ele, acusando-o de ser hipócrita por não andar em amor. O cristão que não conhece a Bíblia muito mais do que seu acusador pode sucumbir a esse engano e se render.

Essa estratégia é um movimento imoral,
irracional e manipulador, e não deveríamos ser dominados por ele. O amor, quando usado nesse contexto, é falsamente definido como sendo polido, de voz suave, obediente, que faz concessões e não confronta; enquanto que, de acordo com a Bíblia, o próprio ato de confrontar o pecado pode ser um ato de amor. A Escritura diz: “Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto” (Pv 27.5). E que deveríamos falar “a verdade em amor” (Ef 4.15). Somos instruídos a “não nos comunicar com as obras infrutuosas das trevas; mas, antes, condená-las” (Ef 5.10, 11).

Mesmo cristãos professos manipulam outros crentes mediante uma distorção do ensino bíblico sobre o amor, mas somos obrigados a andar em amor nos termos de Deus, não nos termos daqueles que distorcem a Escritura para tentar nos controlar. Não devemos deixar os outros fazerem os cristãos de tolos, deixando que eles roubem a nossa energia, tempo e dinheiro por meio de engano. Devemos exercer sabedoria e ceticismo saudável quando formos confrontados.

Um apelo à compaixão pode tomar a forma de “Supostamente vocês cristãos devem andar em amor. Você não me ama? Por que está falando dessa forma comigo?”. O orador não respondeu ao conteúdo do que foi dito; mas, em vez disso, questiona a atitude com a qual o crente afirma sua posição. Pode ser que o cristão não tenha sido muito duro em suas declarações, mas a outra pessoa está protegendo a área sendo questionada, e, ao mesmo tempo, recusa responder diretamente aos seus argumentos. O orador está evitando a questão ao apelar a fatores irrelevantes ao conteúdo real da discussão. Se o crente deu um argumento pobre, a outra pessoa deveria apontar sua fraqueza em termos de seu conteúdo ou estrutura, não a atitude com a qual ele apresentou tal argumento. Se o cristão ama a pessoa com a qual está falando, às vezes ele pode até mesmo precisar ser especialmente duro em sua confrontação, para expor as obras das trevas, como Paulo ordena.

Há tempos quando os ministros precisam
“repreender [suas congregações] severamente, para que sejam sãs na fé” (Tt 1.3). A definição de amor de muitas pessoas não tolera esse mandamento bíblico. O conceito de amor deles é antibíblico, tendo sua origem nos ideais humanísticos e não no entendimento correto da Escritura. O verdadeiro amor bíblico é às vezes gentil e submisso; mas, em outros momentos, duro, sem concessões e confrontador. Não está nas mãos dos incrédulos ditar para nós o que significa andar em amor numa determinada situação.

Pais, cristãos ou não, podem às vezes usar o mandamento bíblico “honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12) para manipular seus filhos. Se a ação solicitada é de fato antibíblica, o cristão não está sob obrigação de obedecer. Antes, ele tem um dever para com Deus de resistir aos seus pais nessa questão. O mandamento bíblico para honrar nossos pais não se estende a pedidos antibíblicos. Por exemplo, Mateus 10.33-37; 19.29, Marcos 3.32-35 e Lucas 9.59-60 nos instruem a considerar Jesus Cristo e o evangelho como mais importante que a família. Qualquer declaração bíblica deve ser entendida à luz e no contexto de outras partes da Escritura, e cristãos e não cristãos manipuladores não têm o direito de interpretar a Bíblia para nós, usando a maneira distorcida de pensamento deles. Novamente, precisamos honrar nossos pais somente nos termos de Deus – isto é, como definido por Deus, e não por pais manipuladores.

Sem dúvida, isso não significa dizer que não precisamos prestar atenção aos nossos pais. Esse exemplo é usado meramente para ilustrar que existem aqueles que distorcem o significado da Escritura na tentativa de fazer com que os cristãos façam o que eles querem. Devemos ser cuidadosos para que, como aqueles que temem a Deus e aos seus mandamentos, não nos tornemos brinquedos daqueles que não têm tal reverência por ele.

Outra forma de apelar à piedade relaciona o argumento de uma pessoa ao sofrimento de mães solteiras, crianças famintas, aleijados, pobres, doentes e outros grupos desprivilegiados. O orador relaciona os desprivilegiados com a sua posição, de um modo que o futuro deles dependerá do sucesso do seu argumento. Ele pode reformular seu argumento de tal modo que discordar dele é ser contra o bem-estar dos desprivilegiados.

Se o argumento está de fato relacionado com os desprivilegiados, isso não seria um apelo à compaixão e, assim, não seria uma falácia. Contudo, a menos que a relação seja autoevidente, o peso da prova está sob o orador, para fazer a conexão entre o povo desprivilegiado e o seu argumento. Quando há um apelo à compaixão sem fundamento, a outra parte deveria reconhecer e expor isso.

Num apelo à compaixão, o orador pode se
referir a um grupo em necessidade, ou pode se apresentar como vítima. Em geral, uma referência a grupos desprivilegiados não é falacioso somente se esse movimento contribuir para a lógica do argumento. O apelo à piedade é um movimento muito comum na argumentação – não seja enganado!

Raciocínio Circular. Essa falácia é chamada também de “petição de princípio”, na qual a conclusão de um argumento é assumida numa de suas premissas. Visto que o argumento está tentando provar que a conclusão é verdadeira, ele não deveria usar a própria conclusão como uma de suas premissas, nem usar uma premissa que primeiro requeira que a conclusão seja verdadeira.

Os cristãos normalmente são ridicularizados por provar a existência de Deus com um argumento circular:

     1. A Bíblia é a Palavra de Deus.

     2. A Bíblia diz que Deus existe.

     3. Portanto, Deus existe.

O argumento como declarado é circular,
pois assume a existência de Deus na primeira premissa, enquanto isso é precisamente o ponto debatido. Contudo, toda cosmovisão é baseada num primeiro princípio, ou axioma, do qual o sistema inteiro de pensamento é supostamente deduzido. Um argumento transcendental pode ser construído, de modo que a cosmovisão cristã se torne a precondição da inteligibilidade e racionalidade.

Assim, embora a premissa “A Bíblia é a
Palavra de Deus” apareça como a primeira premissa autoautenticadora, o argumento ainda é sólido e logicamente irrefutável, pois tal premissa é usada como o primeiro princípio da cosmovisão cristã, e afirmada como sendo a precondição de todo pensamento e conhecimento. Quanto a como demonstrar tal afirmação na argumentação, a pessoa deve consultar meus outros escritos.[10]

Dito isso, a falácia do raciocínio circular é geralmente cometida por argumentos e
cosmovisões não cristãos. Por exemplo, uma pessoa que afirme ser cientificamente imparcial pode favorecer uma epistemologia empírica, na qual a experiência ou sensação como uma forma de descobrir a verdade é tida como confiável. Contudo, a experiência em si não é autoatenticadora; uma pessoa não pode, por experiência, provar que a experiência é uma forma confiável de investigação antes que a experiência seja demonstrada como confiável. Se uma pessoa não mostrou ainda que a experiência é confiável, ela não pode usar a experiência como um teste para ver se a experiência é confiável. Fazê-lo é argumentar em círculo vicioso. Mas tal pensamento falacioso permeia o pensamento não cristão.

Por outro lado, dentro da cosmovisão cristã, um Deus onipotente e onisciente nos manifesta a verdade por revelação verbal. Deus, sendo o que é, autentica sua própria afirmação. Como a Escritura diz, ele não pode jurar por ninguém maior. O conteúdo do nosso primeiro princípio – isto é, a cosmovisão cristã inteira – contém o elemento necessário para torná-lo autoautenticador, enquanto o empirismo e outras teorias seculares falham em fazê-lo.

Questão Complexa. Isso é também chamado de “pergunta capciosa”. Ela apresenta ao ouvinte uma pergunta “capciosa” com uma suposição com a qual ele pode discordar. Esse tipo de pergunta contém suposições não justificadas ou não provadas.

Um exemplo comum usado para ilustrar isso é quando um advogado pergunta ao réu: “Você parou de bater em sua esposa?”. Solicita-se que o reú responda no afirmativo ou negativo, mas as duas opções produzem uma admissão de culpa. Se o réu responder no afirmativo, que ele já parou de bater em sua esposa, implica que ele já bateu nela alguma vez. Se responder no negativo, implica que ele está atualmente batendo em sua esposa. Pode ser que ele nunca tenha batido em sua esposa, mas a formulação da pergunta não permite essa possibilidade.

A mesma pergunta não seria capciosa se, no processo do interrogatório, o advogado já tivesse estabelecido que o réu tivesse batido em sua esposa. Se o advogado perguntasse: “Você já bateu alguma vez em sua esposa?”, e o reú respondesse no afirmativo, o advogado poderia continuar e perguntar: “Você parou de bater em sua esposa?”. A última seria uma pergunta honesta quando tal contexto foi estabelecido.

Algumas perguntas parecem mais acusações do que inquirições. A pergunta “que horas são?” soa como uma pergunta natural, enquanto “você é muito inteligente, não é?” seria um elogio, se estivesse num contexto apropriado e não fosse mencionado num tom sarcástico. Contudo, “você fracassou de novo, não é?” pode ser o mesmo que dizer “você fracassou de novo”, mas acusações que são camufladas como perguntas podem frequentemente, ser mais sutis do que isso.

Não somente as perguntas podem ser
carregadas de significado, mas declarações podem também conter palavras e frases que carregam conotações negativas. Elas podem ser estruturadas de modos que pareçam ser amigáveis, mas são ataques verbais na realidade. Em tais casos, o leitor deveria expor a linguagem carregada, e exigir que a pergunta ou declaração seja refraseada de modo a não carregar nenhuma insinuação negativa injustificada. Contudo, uma vez que uma posição tenha sido demonstrada como negativa, uma pessoa pode ser justificada em usar palavras e frases que reflitam isso quando se referindo a ela.

Correlação e Causação. Essa falácia confunde correlação com causação. Simplesmente porque o evento X acontece antes do evento Y, não significa que o primeiro seja a causa do último.

Há um exemplo típico usado para ilustrar
essa falácia. Um homem bebeu um tipo diferente de bebida alcoólica bem como leite em três noites consecutivas, e ficou bêbado todas essas três noites. Depois disso, ele diz às pessoas que ficou intoxicado por beber leite! O leite parece ser o fator comum em seu embebedar-se, pois ele tinha tipos diferentes de bebida alcoólica todas as noites, mas tinha leite em todas elas. Mas nós pensamos que foi o álcool que fez com que ele ficasse bêbado. O leite foi meramente uma correlação à sua intoxicação, mas não a causa.

Se o homem parasse de beber leite, ele teria continuado a ficar bêbado. O leite não é uma causa da intoxicação, e não é nem mesmo uma condição necessária para isso. Algumas vezes, há condições necessárias para algo acontecer, mas elas podem não constituir a causa suficiente. Quando alguém alega um fator ser a causa de algo, o leitor deveria considerar se isso é assim ou não, ou se é meramente uma correlação.

O empreendimento científico inteiro sofre
dos problemas descritos por essa falácia. É muito difícil, se não impossível, isolar a causa em alguma determinada
operação. Não tendo uma fundamentação na filosofia da ciência, muitos estudantes e mesmo cientistas profissionais possuem uma confidência ingênua na ciência que é totalmente injustificada.

Diversão. Essa falácia é também chamada de “red herring”, segundo a qual uma pessoa lança declarações que podem ganhar atenção, mas são irrelevantes para o assunto da discussão. Uma pessoa deveria sempre ter o assunto da discussão definido em mente ao falar com outras pessoas. Dessa forma, ele irá, com maior probabilidade, perceber uma red herring quando outra pessoa tentar distraí-lo, ou a audiência, usando tal tática.

Ao observar uma red herring, uma pessoa
pode expor a falácia e tentar forçar o oponente de volta à questão real. Por outro lado, se o oponente pode fazer a relação entre o que alguém percebe como uma diversão e o tópico corrente, ela não é uma red herring, e ele terá que lidar com os seus argumentos. Em todo caso, uma pessoa não deve permitir que um oponente desesperado crie uma distração por seus esforços para relacionar uma red herring à discussão corrente, de modo que a pessoa terá menos tempo para apresentar os seus argumentos. Se uma red herring for detectada, extermine-a rapidamente.

Equívoco. Já mencionamos a falácia do equívoco neste capítulo sem usar seu nome. Isso acontece quando um argumento muda o significado do que parece ser a mesma palavra ou termo dentro do argumento.

Considere a declaração: “Tom é um
estudante brilhante, tão brilhante que nunca liga as lâmpadas quando está no quarto”. Esse tipo de mudança no significado das palavras usadas pode ser chamado de trocadilho, em certos contextos; mas é uma falácia de equívoco quando usada num argumento. A primeira ocorrência da palavra “brilhante” pode significar “inteligente”, mas a segunda ocorrência da palavra é usada da mesma forma que quando estamos descrevendo a quantidade de luz vinda do sol ou de uma lâmpada. O que parece ser a mesma palavra significa coisas diferentes na declaração.

Equívoco é também chamado a falácia de
quatro termos. Um argumento válido pode conter três termos:

     1. Todos os cães são animais.

     2. Todos os animais são seres vivos.

     3. Portanto, todos os cães são seres vivos.

Se A representa cães, B animais, e C seres
vivos, o argumento pode aparecer na seguinte forma:

     1. Todo A é B.

     2. Todo B é C.

     3. Portanto, todo A é C.

O B na declaração (1) carrega o mesmo
significado que quando usado na declaração (2), que capacita uma relação ser formada entre A e C.

Há três termos neste argumento – cães, animais e seres vivos, com o segundo ou “meio” termo servindo como a relação entre o primeiro e o terceiro.

Agora, olhe para este argumento:

     1. Tom é uma pessoa brilhante.

     2. Um objeto brilhante irradia luz.

     3. Portanto, Tom irradia luz.

Deixemos que A represente Tom, B
brilhante, e C luz radiada de. Então, esse argumento parecerá estar na mesma forma que o anterior:

     1. Todo A é B.

     2. Todo B é C.

     3. Portanto, todo A é C.

Contudo, o B na declaração (1) e o B em (2) carregam significados diferentes. O primeiro significa “inteligente”, e o segundo refere-se à quantidade de luz que algo emite, de modo que deveríamos usar letras diferentes para representar os dois.

Deixemos que I represente inteligente, de modo que possamos declarar o argumento novamente da seguinte forma: 1. Todo A é I. 2. Todo B é C. 3. Portanto, todo A é C.

Se usarmos palavras em vez de letras, o
argumento apareceria agora como segue:

     1. Tom é uma pessoa inteligente.

     2. Um objeto brilhante irradia luz.

     3. Portanto, Tom irradia luz.

Há quatro termos neste argumento em vez
de três, e não há nada relacionando as declarações (1) com (2), ou A com C. Visto que não há nada que relacione A com C, a conclusão não segue das premissas.

Essa falácia aparece com frequência no
ensino de seitas religiosas que tentam roubar termos cristãos. Alguns membros de seitas podem insistir que eles aderem a muitas ou mesmo à maioria das crenças cristãs tradicionais, mas eles usam os termos de maneiras vastamente diferentes. Eles podem alterar as definições dos termos à medida que falam, algumas vezes até dentro da mesma sentença. Os cristãos que não estão alertas podem ser confundidos, e se sentirem perplexos em como responder. Aprender sobre essa falácia nos ajuda a entender o que eles estão fazendo, e porque a posição é logicamente indefensável.

Falácia de Composição. Essa falácia pensa erroneamente que o que é verdadeiro das partes é necessariamente verdadeiro do todo. Por exemplo, os jogadores de esportes que são altamente habilidosos como indivíduos podem não trabalhar bem o suficiente para formar um time vencedor. Resultados melhores são possíveis se esses jogadores forem misturados com aqueles que são menos habilidosos, mas que podem trabalhar melhor com eles.

Falácia da Divisão. Essa falácia assume que o que é verdadeiro do todo é também verdadeiro das partes. Alguns jogadores de um time vencedor podem ser relativamente incompetentes, mas eles são capazes de trabalhar com outros jogadores de tal modo que o time pode derrotar outro time composto de jogadores melhores.

Falácia da Regra Geral. Essa falácia assume que uma regra geral se aplicará a uma situação específica. Qualquer regra geral merecendo tal nome deveria ser aplicável na maioria dos casos, mas talvez não em todas as ocasiões. Quando aplicando uma regra geral a uma situação específica num argumento, certifique-se de que a regra se aplica; de outra forma, uma pessoa pode, no máximo, argumentar que sua aplicabilidade à situação é pelo menos provável.

Falácia das Generalizações Rápidas. Essa falácia forma falsamente uma regra geral a partir de uma quantidade insuficiente de dados ou uma interpretação incorreta dos dados. Baseado na observação de vários eventos, uma pessoa pode formar a regra geral que a maioria ou todas as situações similares ocorrerão ou resultarão numa forma similar. Contudo, os eventos observados podem ser a exceção da forma como as coisas geralmente acontecem, e, portanto, o observador pode ter derivado um princípio geral errado.

Uma pessoa pode concluir que a maioria ou todas as pessoas na profissão X são desonestas, mas ele pode ter encontrado somente quatro ou cinco membros das dezenas de milhares dentro dessa profissão. Indivíduos desonestos podem ser apenas uma minoria. O observador fez uma generalização rápida. Mesmo que o observador esteja correto, não há forma de dizer isso baseado em sua observação, e a regra geral não deveria ser aceita baseada em seus dados.

A indução é sempre uma falácia formal, pois é impossível formular logicamente certos princípios universais observando particulares. Sendo assim, toda ciência é falaciosa, e nunca pode descobrir nenhuma verdade de forma alguma. A ciência não pode ser vista como algo mais que um empreendimento pragmático. Quanto a descobrir a natureza verdadeira das coisas, ela é completamente impotente. Os universais podem apenas ser conhecidos por meio da revelação na Escritura, ou o conhecimento inato que Deus colocou na mente do homem.

Falsa Analogia. Analogias são perigosas, pois são geralmente muito ambíguas. Uma boa analogia inclui similaridades relevantes para a situação sob discussão, com diferenças que não são essenciais para a posição sendo afirmada. Se a analogia é similar à posição sendo afirmada somente em áreas irrelevantes, ou se é diferente nas partes essenciais, ela falha em defender a posição sendo afirmada.

Eu posso dizer: “Assim como você
agradeceria X por fazer algo por você, você deveria também agradecer Y por fazer algo por você”. Essa analogia é similar na parte essencial, que é a apropriabilidade de agradecer a outro, mas é diferente na parte supostamente irrelevante ao argumento, que é a identidade da pessoa. O argumento assume que o ouvinte concorda comigo em agradecer X, e afirma que a diferença entre X e Y não justifica o tratamento diferente entre os dois; portanto, assim como o ouvinte agradeceria X, ele deveria agradecer também Y sob circunstâncias similares.

Falso Dilema. Um dilema existe quando há duas escolhas, em que a negação de uma necessita da afirmação da outra. Um verdadeiro dilema poderia ser:

     1. Ou você é um homem, ou é uma mulher.

     2. Você não é uma mulher.

     3. Portanto, você é um homem.

A premissa (1) propõe duas opções. As duas opções não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Assim, assumindo que uma pessoa não seja macho e fêmea ao mesmo tempo e no mesmo sentido, esse exemplo gera um dilema verdadeiro, no qual a negação de um gera a necessidade da afirmação do outro. Um dilema vem na forma de:

     1. Ou X ou Y.

     2. Não Y.

     3. Portanto, X.

Por causa da clareza, podemos expandi-lo para:

     1. Ou X é verdade ou Y é verdade, mas não ambos.

     2. Y não é verdade.

     3. Portanto, X é verdade.

Um falso dilema pode ser um onde a
primeira premissa não dá duas opções mutuamente exclusivas. Por exemplo:

     1. Ou você é um contador, ou você é casado.

     2. Você não é casado.

     3. Portanto, você é um contador.

Sob circunstâncias usuais, isso seria um
falso dilema, pois ser casado não impede alguém de ser também um contador, e os contadores geralmente não são compelidos a permanecer solteiros.

Um argumento que falha em exaurir todas as opções possíveis pode produzir também um falso dilema. Por exemplo, considerando um estudante que teve uma nota boa num exame, podemos propor o seguinte dilema:

     1. Ou o estudante é inteligente, ou ele é um trapaceiro.

     2. O estudante não é inteligente.

     3. Portanto, ele é um trapaceiro.

A forma do argumento é válida, mas as
premissas não são necessariamente verdadeiras. Assumindo que a premissa (2) seja verdadeira, que o estudante carece de inteligência, o argumento apenas permite a possibilidade de desonestidade. Contudo, outras explicações podem ser sugeridas, tais como a possibilidade de que, embora o estudante não seja inteligente, ele tivesse estudado diligentemente para o exame, e, portanto, obteve uma nota alta. Essa é uma explicação possível não considerada no argumento. Portanto, o argumento produz um falso dilema.

Ao encontrar um falso dilema, uma pessoa
pode neutralizá-lo mostrando que as opções não são mutuamente exclusivas, ou que o argumento ignora outras possibilidades.

Falácia da Aposta. A falácia da aposta é interessante. Ela falsamente assume que o resultado de um evento afeta a futura probabilidade do resultado de um evento semelhante, quando a probabilidade dos resultados é independente em cada ocorrência.

No contexto de apostas, alguém imagina
que, quanto mais vezes alguém perder, mais provável é que ganhe na próxima vez. Isso não é verdade se a probabilidade de ganhar e perder, em cada ocorrência, é independente das outras ocorrências. Após perder várias vezes num jogo, a probabilidade de ganhar no próximo jogo permanece a mesma se as cartas forem independentes das outras.

Culpa por Associação. Essa falácia atribui características a objetos ou pessoas baseada nas pessoas, eventos ou coisas com as quais estão relacionadas. Assumir que uma pessoa de um grupo exibe certas características pode ser um exemplo dessa falácia.

Uma falácia similar é a falácia da genética,
segundo a qual, por exemplo, uma ideia pode ser criticada por causa de sua origem. Embora uma fonte confiável possa produzir ideias que recebem automaticamente maior credibilidade, isso não significa que essas ideias sejam corretas, e as ideias se originando de uma fonte não confiável não são necessariamente incorretas.

Xingamento. Essa é uma falácia comum cujo uso é, com frequência, afirmado equivocadamente e considerado como constituindo um argumento. Uma pessoa cometendo essa falácia pode tomar uma afirmação usando palavras carregadas com conotações negativas contra as outras pessoas ou sua posição sem oferecer um argumento lógico. Em outras palavras, em vez de tentar persuadir por meio do uso da argumentação racional, o debatedor rotula a outra pessoa ou sua posição com nomes que carregam conotações negativas.

Por exemplo, alguém pode fazer uma
consideração com respeito à outra pessoa, suas crenças, ou suas ações, e quando o último tentar fazer uma defesa racional, o primeiro pode chamar o último de “sensível” ou “defensivo”. Essa é a forma covarde de interação social. O primeiro se comprometeu a um debate por suas considerações iniciais. O último não precisava tolerá-las em silêncio, especialmente se os comentários forem hostis, acusatórios e falsos. O acusado deveria receber a permissão para responder. Se ele responde, deveria ser permitido também que ele o faça bem. Se fizer bem, isso significa que seu discurso seria latente de argumentos fortes, lógica irrefutável e evidência sólida.

A menos que a pessoa que traz o assunto
seja algum tipo de tirano social, ele deveria ter a cortesia de permitir que a pessoa que ele acusou ou ridicularizou responda e refute suas alegações. Se a pessoa faz uma defesa racional, usando argumentos lógicos e citando evidência em apoio, o primeiro deveria ou aceitar a resposta e retratar os seus comentários, ou, se discordar, deveria apresentar um contra-argumento.

Chamar alguém que responda bem de
sensível” ou “defensivo” não responde ao argumento, e mostra desrespeito grosseiro para com aqueles que tomam o tempo, cuidado e esforço para responder às considerações feitas com respeito a ele. A pessoa é de fato sensível ou defensiva, ou é o caso de a pessoa ter respondido tão bem que esmagou o seu acusador? O acusador, tentando evitar o embaraço, evita a questão com essa falácia do xingamento.

Aqueles que usam o xingamento podem
dizer que não é o caso de eles não permitirem que a outra pessoa responda, mas que a pessoa forneceu uma resposta muito extensa a alguns comentários inocentes.

Isso é dizer que a resposta é desproporcional às simples considerações. Contudo, foi a primeira pessoa que trouxe a questão, e, portanto, ela é responsável por responder qualquer contra-argumento que o último apresente. Em vez de acusar a última pessoa com nomes ambíguos e sem fundamentação, eles são obrigados a continuar com uma resposta à refutação, ou devem retratar os comentários originais. Uma pessoa que não está preparada para suportar as consequências de suas palavras deveria permanecer calada.

Estou lidando com essa falácia com certo
detalhe, como fiz com o apelo à piedade, pois como o apelo à piedade, essa falácia é frequentemente usada contra o cristão. Em vez de responder nossos argumentos, os incrédulos nos chamam de “mente fechada”, “intolerantes”, “rígidos”, “dogmáticos”, e assim por diante. Embora a ação de xingar não apresente de fato um argumento, uma pessoa pode pegá-lo e analisar tal xingamento. A acusação de ser “mente fechada”, por exemplo, pode ser formulada neste argumento:

     1. Todos aqueles que têm mente fechada estão errados.

     2. O Cristianismo é mente fechada.

     3. Portanto, o Cristianismo é errado.

Quando formulado de uma forma
semelhante a esta, o argumento exibe vários defeitos fatais:

(1) A primeira premissa precisa ser provada, e a expressão “mente fechada” precisa ser definida. Por que é errado ser mente fechada? Após a pessoa articular claramente seu argumento sobre a razão para rejeitar as visões de mente fechada, ele deve proceder para demonstrar que o Cristianismo é mente fechada.

(2) O argumento de mente fechada não aborda a questão da verdade. Os cristãos sustentam certas crenças porque
consideram-nas verdadeiras. Ser aberto a possibilidades que não a verdade é o mesmo que ser aberto à falsidade e engano, que é tolice. Se alguém deseja desafiar o Cristianismo, a pessoa deve refutar os argumentos e a evidência em nosso favor, em vez de tentar fugir da questão real nos chamando de nomes feios.

(3) Os crentes afirmam a cosmovisão cristã porque eles creem que ela é exclusivamente verdadeira. Sobre essa
base, podemos chamar os indivíduos de “mente aberta” de ingênuos e estúpidos,
pois eles aceitam a primazia da “tolerância” à custa da verdade.

(4) Aqueles que nos chamam de mente fechada são eles mesmos mente fechada, pois não permitem a possibilidade de que ser mente aberta seja errado. Eles são fechados para a visão que uma pessoa que tenha descoberto a verdade deve ser mente fechada.

(5) O ato de xingar meramente coloca rótulos derrogatórios sobre as pessoas – ele não oferece argumentos reais. O que alguém chama de mente fechada, outro pode chamar de decisivo, resoluto, firme, preciso e específico. O que alguém chama de sensível, outro pode chamar de observador. O que alguém chama de defensivo, outro pode chamar de responsivo. Pode ser possível substituir cada rótulo negativo com cinco positivos, e o processo inteiro não equivale a muito. Precisamos mais do que xingar para defender ou refutar argumentos.

Aqueles que apoiam a homossexualidade
podem chamar aqueles que se opõem a ela de “homofóbicos”. Se isso é apenas um som para identificar aqueles que se opõem  à homossexualidade sem qualquer significado inerentemente negativo, e a palavra serve a mesma função que X ou Y, então tudo bem. Mas esse não é o caso, assim como a palavra “estuprador” não
pode ser neutra. Muitos tomam a palavra “homofóbicos” como significando aqueles que temem ou odeiam homossexuais. O termo implica que nem sempre aqueles que sejam contra a homossexualidade
temem ou odeiam os homossexuais. Isso precisa ser estabelecido, em vez de assumido sem argumento.

Chamar alguém de homofóbico não é o
mesmo que estabelecer um argumento quanto a por que a homossexualidade é uma orientação sexual aceitável. Aqueles que se opõem à homossexualidade podem tão facilmente rotular os homossexuais e aqueles que apóiam os mesmos de “heterofóbicos”, e os cristãos podem chamar todos aqueles que se opõem ao Cristianismo de “cristofóbicos” ou “teofóbicos”. Contudo, nenhum desses argumentos é legítimo; eles são apenas nomes.

Quando uma pessoa está sendo confrontada com um movimento de xingamento na argumentação, ela deveria expô-lo como tal, e demandar ouvir um argumento usando linguagem não carregada, apoiado, em vez disso, pela razão e evidência.

Ataque Pessoal. Pessoas que podem não parecer qualificadas para abordar certo tópico podem às vezes fazer declarações verdadeiras com respeito ao mesmo. O movimento de ataque pessoal na argumentação dirige o assalto para a pessoa, em vez de suas visões. Isso é geralmente falacioso, especialmente quando alguém está atacando o outro sobre áreas não relacionadas ao tópico.

Se a discussão tem a ver com política econômica, atacar o casamento de uma pessoa falha em abordar a questão. Mesmo quando alguém tem atacado o outro com sucesso sobre uma questão relacionada ao tópico, é ainda possível para a pessoa fazer contribuições valiosas para a discussão. Um doutor que fuma, ou que pratica algum outro hábito usualmente considerado não saudável, pode, todavia, ter muito a oferecer em termos de advertência sobre a saúde de alguém. O doutor pode fracassar em aderir às suas próprias sugestões, mas isso não significa que suas visões sobre o assunto sejam necessariamente erradas ou desinformadas.

Algumas pessoas usam seus fracassos e
deficiências como credenciais que as qualificam como autoridades.  Uma pessoa pode tentar dar a outra pessoa um conselho de casamento. Quando o último protesta que o primeiro fracassou em seu próprio casamento, a pessoa alega que são os fracassos e os problemas em seu casamento que lhe concedem experiência valiosa, qualificando-o a dar conselhos a outros.

Uma pessoa precisa considerar essa afirmação cuidadosamente. Por esse tipo de raciocínio, alguém que tenha falhado no negócio uma vez está qualificado para aconselhar outro que está apenas iniciando, mas implica também que uma pessoa que tenha fracassado no negócio cinquenta vezes é ainda mais qualificada? O fracasso numa área não torna alguém um expert; todavia, alguém que tenha fracassado, mas agora teve sucesso, pode, de fato, ser capaz de dar algumas sugestões valiosas. Em todo caso, deveríamos avaliar qualquer conselho de outros com cautela. Ataques pessoais não deveriam ser
rejeitados sempre como falaciosos, especialmente quando a credibilidade da pessoa é importante para a força do argumento. Num tribunal de julgamento, o testemunho de um perjuro condenado deveria provavelmente ser considerado menos crível que o de alguém com nenhum registro, e que não tenha motivo ou disposição aparente para mentir. Contudo, mesmo um mentiroso compulsivo pode dizer a verdade. Portanto, embora possamos determinar a razoabilidade de crer em certa pessoabaseado em sua credibilidade, não podemos julgar se o que ele diz é verdade ou mentira sobre essa base.

Quando confrontado com um ataque pessoal irrelevante, o leitor deveria expor isso como tal, e declarar que a acusação pessoal não tem nada a ver com a disputa em progresso. Contudo, quando o leitor é confrontado com um ataque pessoal relevante, ele deveria ou mostrar que o ataque não é factual, ou que seu argumento deveria ser aceito neste caso particular a despeito do ataque pessoal.

Evidência Seletiva. Essa falácia é também chamada de “petição especial”. Uma pessoa vê frequentemente esse tipo de falácia em argumento em favor da evolução. Eles podem apresentar argumentos que parecem, pelo menos para eles, apoiar suas visões sobre o assunto, mas fracassam em apresentar e reconciliar todas as outras evidências. Mas essa falácia não aparece apenas na ciência, mas em todos os tipos de argumentos, tais como discussões sobre eventos históricos.

Derrapagem. Um argumento derrapagem[11] diz que se algo é verdadeiro, ou é aceito como verdadeiro, ele começará uma cadeia de eventos que leva a algumas consequências lógicas ou reais negativas. Isto é, se A é verdade, ele conduzirá a B, que conduzirá a C, que, por sua vez, conduzirá a D, e assim por diante. Esse movimento é uma falácia quando o debatedor exagera os resultados da premissa desafiada e força o argumento para um fim negativo, mas não é uma falácia lógica se a premissa de fato levar às consequências projetadas.

Um exemplo de um argumento derrapagem
pode ser:

     1. Se Tom não dormir o suficiente, ele ficará irritadiço.

     2. Se Tom ficar irritadiço, ele baterá em alguém.

     3. Se Tom bater em alguém, a pessoa ficará seriamente machucada.

     4. Se a pessoa ficar seriamente machucada, Tom irá para a cadeia.

     5. Se Tom for para a cadeia, ele não terminará a faculdade.

     6. Se Tom não terminar a faculdade, ele não se tornará um cientista.

     7. Se Tom não se tornar um cientista, ele não inventará o dispositivo que salvará o planeta.

     8. Se Tom não inventar o dispositivo que salvará o mundo, este planeta será destruído.

     9. Portanto, se Tom não dormir o suficiente, este planeta será destruído.

O cenário acima é logicamente possível,
mas parece tão improvável que fracassa em persuadir. Se o debatedor verdadeiramente crê no argumento, ele deveria trazer argumentos para apoiar suas premissas.

Espantalho. A falácia espantalho ocorre quando uma pessoa propõe uma versão falsa e geralmente mais fraca da visão do oponente, e procede para demolir essa má representação. Mesmo que a pessoa tenha sucesso em destruir o espantalho, ela não refutou o seu oponente. Esta falácia ocorre quer em razão de o debatedor
ter entendido incorretamente o seu oponente, ou ter achado uma má representação mais fácil de refutar do que a posição real do oponente. Se a audiência não é astuta o suficiente, ela pode pensar que o debatedor refutou com sucesso seu oponente quando não fez tal coisa de forma alguma.

Ao debater com um membro de uma religião ou seita não cristã, o cristão pode ser acusado de cometer a falácia espantalho. Isso acontece por várias razões: (1) o cristão pode ter de fato representado incorretamente a posição da seita; (2) a pessoa está mentindo; isto é, o cristão refutou claramente as crenças da seita, e o membro da seita está agora se escondendo por detrás de uma escusa espantalho, esperando que isso o proteja da injúria; (3) o cristão não representou incorretamente a posição da seita, mas o membro da seita nem mesmo entende a posição de seu próprio grupo, e, ao ver sua posição derrotada, ele pensa que sua visão deve ter sido má representada; (4) comparado ao Cristianismo, a maioria das seitas colocam pouca ênfase sobre os detalhes e técnicas do seu ensino, com o resultado que os membros são normalmente muito diferentes em suas visões, mesmo com respeito às suas crenças centrais. O cristão pode ter representado corretamente as crenças que algumas pessoas dentro do grupo sustentam, provavelmente mesmo a versão oficial, mas não as crenças pessoais do seu oponente imediato.

As razões acima para ser acusado de
cometer a falácia espantalho não se aplicam somente às conversas com membros de seitas, mas também em muitas outras situações. Por exemplo, correspondendo a (3), uma pessoa pode nunca ter verbalizado suas próprias crenças, nem mesmo para si mesmo; portanto, quando sua visão, como percebida por outro, foi refutada, ele sente que deve ter sido mal representado, quando isso pode ou não ser o caso.

Ao ser acusada de cometer a falácia
espantalho, a pessoa deve examinar se ela de fato representou incorretamente o oponente. Se sim, peça que o oponente esclareça sua visão e declare novamente o argumento para que possa encará-lo com honestidade. Quando lidando com seitas, um membro pode insistir: “Meu grupo não crê nisso”. Quando isso acontecer, peça ao membro da seita: “Tudo bem, diga-me no que você crê”. Faça perguntas para ajudar a entender o que ele está dizendo. Então, repita para fazê-lo se comprometer a uma posição, dizendo: “Simplesmente para assegurar que entendi no que você crê, você está dizendo que…”. Quando o oponente confirmar que sua visão foi corretamente entendida, a pessoa pode passar a refutá-la.

Às vezes é preferível que uma terceira parte esteja presente, de modo que o membro da seita não será capaz de alterar sua visão quando ela for refutada, ou se esconder por detrás de uma falácia tipo espantalho novamente. Embora isso possa parecer drástico, às vezes pode ser necessário, para o membro da seita, comprometer-se com certa posição escrevendo, de modo que ele não possa alterar o que disse logo após ter sido derrotado pelo cristão. Embora o membro de seita esteja sendo discutido aqui, o mesmo se aplica a todos os não cristãos – muitos tendem a usar a falácia espantalho como uma desculpa quando não podem suportar os argumentos do cristão.

Quando os membros de seita acusam os cristãos de terem cometido uma falácia espantalho, deveríamos tomá-la seriamente, sabendo que nós também somos com frequência mal representados. Deveríamos dar-lhes a oportunidade de esclarecer sua posição, e refutar as versões oficiais e pessoais do que eles creem, assim como aqueles que representam incorretamente o Cristianismo devem nos dar a mesma oportunidade. Contudo, podemos também ser falsamente acusados de ter cometido esta falácia, de modo que não deveríamos admitir isso mui rapidamente quando acusados de tal, especialmente quando tivermos feito uma pesquisa extensiva sobre as crenças do oponente.

Conclusão. Estudamos vinte e seis falácias lógicas comuns. Alguns dos exemplos dados acima podem parecer simplistas, mas os princípios ensinados neste capítulo podem ser aplicados a argumentos muito mais complexos. Argumentos são geralmente mais complicados, mas trabalhamos com exemplos simples neste capítulo para assegurar que os próprios princípios foram entendidos.

Existem dois princípios que devemos lembrar quando aplicando a lógica às conversações do dia-a-dia. Esses podem ser chamados de o princípio da probabilidade e o princípio da cortesia.

O Princípio da Probabilidade. Com frequência, vemos argumentos dedutivos tais como o seguinte:

     1. Todos os homens são mortais.

     2. Tom é um homem.

     3. Portanto, Tom é mortal.

Esse é um argumento válido. Se for verdade que todos os homens são mortais, e Tom é verdadeiramente um homem, não há conclusão possível além da que Tom é mortal. Contudo, mesmo com argumentos
tão obviamente verdadeiros como esse, a verdade da conclusão pode às vezes ser somente provável, ou, às vezes, mesmo extretamente provável, mas ainda não certa.

Para ilustrar, a premissa (1) é geralmente
tomada como certa; mas, na verdade, não podemos estar certos sobre sua verdade baseados na experiência somente. Para estabelecer uma declaração tal como (1) baseado na experiência e observação com certeza, devemos observar a morte de todo ser humano na história, a morte daqueles vivos no presente, e o próprio observador deve morrer.

Premissas baseadas na experiência ou
observação, como nas investigações científicas, são, na melhor das hipóteses, suposições, e nunca podem chegar a conhecer a verdade absoluta sobre nenhuma questão. Mas, visto que a ciência não pode nem mesmo provar o empirismo, estritamente falando ela não pode nem mesmo formar afirmações que sejam suposições. A única epistemologia que torna o conhecimento possível é a cosmovisão cristã, na qual um Deus Todopoderoso e Todo-conhecedor é dito revelar verdades a nós por meio da revelação verbal.

A menos que a cosmovisão cristã seja
pressuposta, nenhum argumento é certo ou mesmo provável. Todavia, se formos, bem ilegitimamente, conceder que a verdade possa ser conhecida sem primeiro pressupor a cosmovisão cristã, o princípio de probabilidade nos diz que muitos argumentos são prováveis, mas não certos; porém, para propósitos práticos, aceitamos as premissas como verdadeiras, bem como as conclusões que necessariamente seguem delas. Mas numa situação em que a certeza é requerida, podemos desafiar as premissas que são apenas prováveis. Portanto, isso não é dizer que nunca desafiamos premissas prováveis, mas que geralmente não o fazemos por propósitos práticos.

Alguns argumentos podem ser considerados como certos. Por exemplo, se eu digo que:

     1. Todas as dez moedas em meu bolso são de 25 centavos.

     2. Estou tirando uma moeda do meu bolso.

     3. Portanto, a moeda que estou tirando deve ser de 25 centavos.

Esse é um argumento válido. A conclusão
deve ser verdadeira se as premissas são verdadeiras, e a premissa (1) pode ser verificada. Eu mesmo coloquei as moedas no bolso, sabendo que todas elas eram de 25 centavos, ou posso tirá-las e examinar cada uma delas para confirmar a primeira premissa. Mas, sem dúvida, sem pressupor a cosmovisão cristã, mesmo tais procedimentos estão condenados pelos defeitos inerentes no empirismo.

Outro exemplo de um argumento que é
baseado em certas premissas e fornece certa conclusão pode ser:

     1. Um solteiro é um homem não casado.

     2. Tom é solteiro.

     3. Portanto, Tom é um homem não casado.

Parece que não há forma de esse argumento ser errado – ele é verdadeiro por definição. Todavia, mesmo definições, lógica e gramática são incertas, a menos que a cosmovisão cristã seja pressuposta, de modo que a mente do Deus onipotente e onisciente possa garantir que as leis do pensamento são uniformes e constantes.

O Princípio da Cortesia. Há vezes quando alguém ouvirá um argumento pobre dado em suporte de uma posição, mas ele é capaz de construir um mais forte para ele, talvez devido ao conhecimento e recursos superiores. O oponente pode estar endossando a visão correta, ou pelo menos uma provável, mas ele não sabe como melhor argumentar a favor dela.

Em tais casos, o argumento fraco que a
pessoa dá não deveria ser usado contra ele, a menos que aconteça dentro do contexto de um debate. A menos que esteja num debate, uma pessoa não deve humilhar a outra simplesmente quando observa uma falácia em seu raciocínio. Mesmo os experts podem cometer falácias lógicas, às vezes, por várias razões, tais como a predisposição para com uma determinada posição, ou pura negligência.

Se a pessoa não estiver numa situação hostil, ele deveria gentilmente apontar a falácia, e dar à outra pessoa uma oportunidade para modificar o argumento antes que uma refutação seja oferecida. O oponente pode escolher retratar o seu argumento, ou revisá-lo para eliminar a falácia, se possível. É razoável oferecer esta oportunidade ao outro quando estivermos numa discussão amigável, e não num debate acalorado.

A proficiência com os princípios da lógica começa se familiarizando com o material deste capítulo. Ao analisar agumentos que encontramos por meio do procedimento sugerido e procurando por falácias, a pessoa alcançará um ponto no qual o processo inteiro se tornará natural e intuitivo. Ela será capaz de lidar logicamente com argumentos mesmo durante uma conversaçao ou debate acalorado com outra pessoa. Uma pessoa pode extrair exemplos de argumentos se praticar escrutiná-los a partir de textos, conversações pessoais.

Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Deus e o Mal.

Traduzido por:
Felipe Sabino de Araújo Neto e Marcelo Herberts

1ª edição, 2010

Revisão: Wendell Lessa V. Xaxier