sexta-feira, 17 de agosto de 2018

ESCRITURA: Suficiente Contra o Cessacionismo – Vincent Cheung


Embora você diga que não consegue perceber nenhum erro no raciocínio, a sua linguagem deixa uma distância entre você e esse argumento para o cessacionismo. Então, eu não estou certo se você concorda com ele, ou se você está somente me perguntando a respeito. Por uma questão de conveniência, eu responderei como se você fosse quem estivesse fazendo o argumento, de forma que quando eu disser “você”, pode não querer dizer você pessoalmente, mas um cessacionista que usa essa objeção.

Mesmo se você discorda dessa objeção, eu ainda te contarei como responsável pela sua falta da habilidade de refutar algo tão absurdo assim, e por falhar em sequer sugerir qualquer possível falha nisso. O fato de que você foi treinado num seminário o torna ainda mais culpado. Jesus disse, “mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão” (Lucas 12:48). Não há desculpa para falhar em levantar alguns dos pontos que eu menciono abaixo. Como os seus professores cessacionistas, você negligencia mesmo o básico do seu treinamento, e você deixa o fardo de defender o poder de Deus em operação no seu povo comigo. Isso é inaceitável. Se você está convencido do cessacionismo, então construa o seu caso em favor dele. Se você não está convencido, então com todo esse treinamento, pelo menos faça um esforço para apontar possíveis falhas no cessacionismo conforme você me pergunta a respeito.

A minha réplica não é um ataque a um espantalho. Você foi quem me enviou esse argumento. Eu chamo sua atenção quanto a isso porque o argumento é tão estúpido, que quando eu expuser o quão estúpido ele é, eu não quero que você use isso como uma desculpa esfarrapada. Cessacionistas com frequência se queixam sobre um espantalho quando eles perdem, e eles sempre perdem. Cessacionistas são ESTÚPIDOS, não mal-entendidos. Eles não conseguem imaginar como eles poderiam perder tão facilmente e decisivamente, e assim, eles pensam que eles devem ter sido mal entendidos. Mas nós os entendemos claramente, e vemos que eles são tolos incrédulos e desobedientes.

Embora nem todo cessacionista use os mesmos argumentos estúpidos, todos os seus argumentos são estúpidos como este, e eles às vezes contradizem um ao outro. Eu posso responderqualquer argumento cessacionista, mas eu estou respondendo o que me foi enviado. Nenhum cessacionista deveria queixar-se de que esse não é o seu argumento. Se não é o seu argumento, então não é o seu argumento. Eu provavelmente respondi o seu próprio argumento estúpido em outro lugar. Agora, eu estou respondendo o que me foi enviado, mas ainda, ele de fato acarreta algumas questões relevantes para a maioria dos argumentos cessacionistas. O que eu digo pode ser adaptado a muitos argumentos cessacionistas.

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Sumarizemos os seus pontos. O argumento cessacionista é baseado na suficiência da Escritura. Você alega que uma Bíblia suficiente deveria tornar desnecessária a profecia, e se uma profecia somente repete ou aplica o que a Bíblia diz, então não é uma profecia no sentido bíblico, mas só um lembrete do que a Bíblia diz. Esse é um argumento familiar e, assim, eu não repetirei todos os detalhes. Você menciona o que a Bíblia diz, “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17). Essa é uma passagem significante para a doutrina, mas a sua inferência é falsa.

Paulo estava falando com Timóteo, não com você. É claro, isso se aplica a todos nós por extensão. O princípio se aplica a toda Escritura e a qualquer coisa que seja Escritura, de modo que é correto afirmar isso sobre a nossa Bíblia cristã. Contudo, Paulo estava se referindo a qualquer “Escritura” que Timóteo tinha. Você não pode tornar isso idêntico ao que você tem agora – você tem mais. Você menciona que Segunda Timóteo é considerado um dos últimos documentos do Novo Testamento, mas isso é irrelevante. Para usar a afirmação de Paulo dessa maneira a fim de tornar a “Escritura” nesse versículo idêntica à Bíblia cristã completa, esta não apenas deve ser o documento final, mas deve ser a sentença final da Escritura. Ademais, para que a “Escritura” nesse versículo seja idêntica ao que nós temos, Timóteo deveria ter tido acesso à Bíblia cristã em sua forma completa. A menos que esse seja o caso, seria irrelevante mesmo se essa fosse a sentença final do último documento da Bíblia. Timóteo pelo menos não tinha acesso a Segunda Timóteo enquanto Paulo o estava escrevendo! Na verdade, é provável que Paulo tivesse em mente apenas o que Timóteo pode acessar em sua infância, uma vez que o versículo anterior diz, “desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15).

O meu ponto é que a Escritura já era suficiente bem antes de 2 Timóteo 3:16-17 ter sido escrito, mas visto que ela não havia sido terminada, Deus continuou a escrevê-la. Esse é o porquê da suficiência e da finalidade da Escritura serem duas doutrinas diferentes. A Bíblia cristã não é apenas suficiente para nos equipar para toda boa obra, mas é mais do que suficiente para isso. A Escritura era suficiente antes de estar completa. Se o cessacionista usa a suficiência da Escritura para minar a continuação da profecia, ele deve primeiro usar a suficiência da Escritura para minar toda a Escritura que foi produzida após a infância de Timóteo – isso incluiria a própria segunda carta a Timóteo. Portanto, usar a doutrina da suficiência da Escritura contra a continuação da profecia é primeiro um repúdio à Escritura. Antes de qualquer debate acerca da continuação de qualquer coisa, o argumento deve primeiro prevenir tanto a completude como a compilação da Escritura. Quando você não faz isso, da perspectiva cristã, você está arruinado. Terminou para você. Você é anti-evangelho. Você é o herege contra-cristão. Salve a si mesmo antes fingir ser um teólogo e criticar outras pessoas.

Por esse ponto, nós já refutamos a objeção, com o bônus de que o cessacionista é acusado de pecado, de heresia, de rejeição da Escritura, e logo, de renunciar a fé cristã. Nós terminamos, e podemos parar aqui se desejarmos. Mas eu vou tomar essa oportunidade para discutir problemas adicionais desse argumento.

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A forma como o cessacionista formula e aplica a doutrina da suficiência da Escritura o imerge em todo tipo de problemas. Você pelo menos leu o restante de Segunda Timóteo? Que tal 2:21? Este diz, “Se alguém se purificar dessas coisas, será vaso para honra, santificado, útil para o Senhor e preparado para toda boa obra.”. Você vê o problema? “Preparado para toda boa obra”. O cessacionista sequer precisa da Bíblia? Eu poderia me divertir um pouco com isso, mas nós ainda temos muito a cobrir, então falaremos sobre profecia.

Você leu Primeira Timóteo? Paulo escreveu, “Timóteo, meu filho, dou-lhe esta instrução, segundo as profecias já proferidas a seu respeito, para que, seguindo-as, você combata o bom combate, mantendo a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé” (1 Timóteo 1:18-19). E depois, ele escreveu, “Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos dos presbíteros.” (1 Timóteo 4:14). Timóteo estudou a Escritura muitos anos antes daquele ponto (2 Timóteo 3:15), uma Escritura que Paulo declarou suficiente (2 Timóteo 3:16-17). Se Timóteo nunca tivesse recebido uma profecia, nós diríamos que ele poderia ter vivido sem ela, mas ele recebeu. Uma profecia foi declarada a Timóteo, e Paulo disse a Timóteo para usá-la, para combater o bom combate com ela. O apóstolo não via nenhum conflito entre isso e a suficiência da Escritura.

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Então, você alega que, se uma profecia fala somente de uma informação que está na Bíblia, então ela não seria do tipo de profecia na igreja antiga, mas seria um mero lembrete do Espírito Santo. Por ora, procedamos com essa limitação, que uma profecia falará apenas o que está na Bíblia. Isso significa que ela não seria como o tipo descrito na Bíblia, o tipo experienciado pelos discípulos antigos.

Eu sei de alguém que começou a pregar quando ele tinha dezesseis anos, diretamente para pessoas que tinham entre trinta e cinco a setenta e cinco. Ele ensinava sobre muitos tópicos da Bíblia, e aconselhava esses adultos acerca de qualquer coisa, desde como criar filhos, abuso de drogas, e até disfunção sexual, nunca tendo experienciado essas coisas. Ele nunca foi instruído a como interpretar a Bíblia, como pregar, ou mesmo como discorrer sobre um tópico. Ele aprendeu, mas Deus o ajudou a começar. Quando ele preparava uma mensagem, ele às vezes ele se via a si mesmo numa visão falando em um culto no porvir, e quando o tempo chegava, ele simplesmente agia de acordo com o que ele tinha visto. Toda vez era preciso e bíblico. Ele começou no ministério logo após a sua conversão, e assim, ele ainda não havia lido toda a Bíblia. Às vezes, quando ele estava pregando ou aconselhando, ou respondendo a interferências importunas, ele recitava passagens bíblicas inteiras que ele nunca havia lido, porque ele as leu a partir de uma visão de como ele falaria. O povo pensava que ele havia memorizado as passagens, mas algumas vezes aquela era a primeira vez que ele as leu.

Em um de seus encontros, quando o povo começou a chegar e esperar por ele, ele estava orando em outro lugar do prédio. Duas pessoas no auditório estavam conversando sobre um certo tópico bíblico, e uma delas perguntou a outra sobre uma série de questões. Então, o pregador chegou para falar. Em aproximadamente dez minutos do seu sermão, ele de repente parou e se virou para as duas pessoas. Ele as olhou e passou alguns minutos abordando um tópico diferente, e então, retornou para o seu sermão. Pareceu ser uma divagação. Depois, lhe disseram que ele respondeu às questões que uma das pessoas havia perguntado ao seu amigo antes do culto, na mesma ordem que ele perguntou para ele. Houve inúmeros outros casos. Em todo caso, o homem não disse nada que já não estava na Bíblia, mas era uma manifestação evidente do profético, e teve o efeito que a profecia deveria produzir: “E os segredos do seu coração serão expostos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus, exclamando: ‘Deus realmente está entre vocês’” (1 Coríntios 14:25). Portanto, mesmo quando a profecia está limitada à informação bíblica, não necessariamente quer dizer que é um mero lembrete do ensinamento bíblico.

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Isso é para mostrar que o ponto trai a sua ignorância espiritual (1 Coríntios 1:21), mas a verdade é que também te coloca num monte de apuros. Se a profecia não contém nenhuma informação além do que já está na Bíblia, e essa não é o tipo de profecia demonstrada na Bíblia, então isso pode ser usado contra a própria Bíblia. Muitas proposições da Bíblia repetem as mesmas palavras ou ideias contidas em porções anteriores da Bíblia. Quantas vezes uma pessoa poderia dizer, “a sua misericórdia dura para sempre”(Salmos 118), antes de parar de ser profético? De acordo com você, a segunda vez já seria diferente. Quando Jesus pregou em Nazaré, ele leu de Isaías 61 antes de adicionar, “hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”. De acordo com você, Lucas 4:18-19 não era profético, mas na melhor das hipóteses, um lembrete incitado pelo Espírito, mas Lucas 4:21 era profético, pois era informação nova. Quando Pedro pregou no dia de Pentecostes, ele citou de Joel 2 e alguns outros textos. De acordo com você, as principais porções de seu sermão não eram proféticas, mas eram apenas lembretes incitados pelo Espírito.

E quanto a todas as outras vezes que Jesus citou as Escrituras? E quanto a todas as outras vezes que os apóstolos copiaram as Escrituras em suas cartas? De acordo com você, somente as suas exposições e outras revelações eram inspiradas, mas as suas citações das Escrituras não eram. Se nós também descartarmos aquelas partes em que a Bíblia repete as suas próprias ideias, ainda que não sejam as palavras exatas, então a Bíblia se torna ainda mais fina. Por exemplo, a despeito das palavras usadas, só a primeira vez que a Bíblia afirma a deidade de Cristo seria profética. Todas as instâncias subsequentes seriam apenas lembretes. Isso quer dizer que o cessacionista que usa esse argumento nega centenas de porções da Escritura, as relegando a lembretes desnecessários. Por outro lado, eu digo que todas as vezes que a Bíblia repete as suas próprias palavras e ideias estas são inspiradas e proféticas.

O cessacionista faz pelo menos três ataques contra a Escritura nesse único argumento que supostamente defende a Escritura. Primeiro, contrário à própria alegação da Bíblia, ele declara que a Bíblia nunca foi suficiente até a sua conclusão. Segundo, porque a Bíblia de fato se declara suficiente antes da sua conclusão, mas o cessacionista alega que o que quer que esteja além do suficiente é desnecessário, e não está na mesma classe da profecia bíblica, ele declara que todas as porções da Escritura produzidas depois da infância de Timóteo são desnecessárias e não-inspiradas. Terceiro, por ele alegar que a profecia que repete a informação contida nas Escrituras está numa classe diferente ou menor do que a profecia das Escrituras, ou até mesmo que não seja uma profecia de forma alguma, ele declara que todas as porções das Escrituras que repetem as palavras ou ideias que já estavam contidas em porções anteriores das Escrituras são desnecessárias e não-inspiradas. Qualquer uma dessas ofensas, se tornadas claras ao cessacionistas, e se ele se recusa a se arrepender, é uma base suficiente para excomunhão.

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Eu perguntei se você leu as cartas de Primeira e Segunda Timóteo, e parece que você não leu. Mas você sequer leu o versículo que usou? Leiamos novamente: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”. Oh, você está em tantos apuros.

Você usa isso para supostamente defender a Escritura, mas qual é o proveito se você se recusa a fazer o que a Escritura diz? Paulo disse que a Escritura é útil para o ensino, não somente para você argumentar que ela é útil para o ensino, mas para você começar a ensinar. Qual é o proveito, se você declara que a Escritura é útil para o ensino, e então dá meia volta e começa a ensinar o ateísmo? Ele disse que é útil para a educação na justiça, não somente para você argumentar que ela pode servir a esse propósito, mas para você começar a se educar na justiça. Qual é o proveito, se você declara que a Escritura é útil para educação na justiça, e então dá meia volta e pratica assassinato e adultério? Você seria como alguém que se olha em um espelho. Você vê o que você gosta, e você vê o que precisa fazer. Mas no momento em que você se vira, você esquece tudo a respeito disso, e continua com as suas próprias ideias e objetivos. Isso acontece de novo e de novo em seus estudos, diálogos, e atividades religiosas. Você pensa que você é espiritual e fiel às Escrituras, apenas porque você está constantemente se engajando com a palavra de Deus, mas você não é um praticante da Palavra de Deus. Você se engana a si mesmo (Tiago 1:22-25).

A Escritura é suficiente “para toda boa obra”. Quais são essas boas obras? Você sequer se importa? Você não pensou nisso, hum? Para esse versículo colocar um fim na profecia, ele deve excetuar a profecia como uma boa obra. No entanto, a Escritura explicitamente declara a profecia como boa obra. Atos 2 diz que o Espírito de Deus foi derramado, e como um resultado disso, produziu visões, sonhos e profecias em seu povo (v. 16-18). E Pedro disse que esse mesmo “dom do Espírito Santo” – o Espírito que produz visões, sonhos, e profecias – permaneceria disponível para as futuras gerações (v. 38-39). Paulo instruiu até mesmo os coríntios instáveis a desejarem os dons espirituais e, em seu contexto, especialmente o dom da profecia (1 Coríntios 14:1). Ele acrescentou: “Portanto, meus irmãos, busquem com dedicação o profetizar e não proíbam o falar em línguas” (1 Coríntios 14:39). A Escritura é suficiente para oferecer uma base para profecia, e é suficiente para que não haja desculpa para evitá-lo ou proibi-la.

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O cessacionista está em muito mais apuros do que isso. O argumento se opõe à profecia com base na suficiência da Escritura, mas profecia não é a única obra que o cessacionista se recusa a realizar. E quanto a curar os enfermos? Eu não estou dizendo sobre orar pelos enfermos, mas sim curá-los. A Bíblia não nos diz para orarmos pelos enfermos e, então, vermos o que acontece. A Bíblia nos diz para curarmos os enfermos pelo poder de Deus, para orarmos por eles de maneira que eles receberão a cura, de maneira que eles não mais estarão enfermos (Tiago 5:15). Por que você se importa com o fato da Escritura ser suficiente para as boas obras, se você se recusa a realizar as boas obras que ela ordena? Você não deveria estar envergonhado pela doutrina da suficiência e embaraçado demais para mencioná-la, ao invés de estar usando-a para minar outras pessoas?

Você se refere a João 14:26, onde é dito que o Espírito nos lembrará do que a Escritura ensina. Agora, deixe o Espírito te lembrar do que Jesus disse em apenas alguns versículos antes disso: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (João 14:12). Jesus disse que os cristãos farão as mesmas obras e obras maiores que as dele, e eu mostrei em outro lugar que ele se referia a milagres (João 14:11). A Escritura é suficiente para te equipar a fim de realizar essas obras, mas, e se a suficiência da Escritura é somente uma ideia para você, ou apenas uma ferramenta para debates, ou uma desculpa para incredulidade, então qual é o proveito? Homem, ela é desperdiçada em você! E quanto a Mateus 21:21? Jesus disse que se você tiver fé, você pode ordenar que até mesmo uma montanha se mova do caminho. Em vez de discutir sobre isso, por que você não aceita isso e ajuda a libertar alguém de sua opressão? Ela é um desperdício em você! A Bíblia diz, “ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças”. Por que você não ensina isso a alguém, para que ele possa receber a cura? É suficiente para trazer cura. Mas em você ela é um desperdício!

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Você menciona algo sobre pregar o evangelho com base no que a Escritura ensina sobre isso, mas a Bíblia também te ensina sobre curar os enfermos e profetizar. Mas se você se recusa a obedecer a Bíblia nessas coisas, por que você precisa obedecê-la quando ela diz para você pregar? Para você, a Bíblia é suficiente, mas não autoritativa. Você não é seletivo somente sobre o que você aceita da Bíblia, mas é seletivo sobre como você aplica essa doutrina da suficiência. Você usa a suficiência da Escritura, não como uma base para fé e instrução, mas como força para seu argumento, a fim de defender e justificar a si mesmo. Seu porco desobediente e hipócrita! Por que você o chama de Senhor, mas se recusa a fazer o que ele diz (Lucas 4:46)? A Bíblia chama isso de uma base suficiente para a danação, mas mesmo se nós fingirmos que não, é pelo menos uma base suficiente para excomunhão (Mateus 7:23).

Se a Bíblia é suficiente, então faça o que ela diz. Se a Bíblia é suficiente, então creia no que ela promete. Se a Bíblia é suficiente, então você não deveria precisar que alguém como eu te CHUTASSE a fim de que você creia e obedeça o que ela diz. Se a suposição é que se a Bíblia é suficiente então nós não precisamos mais de profecia, mesmo que a Bíblia ordene a profecia, então isso poderia se aplicar a outras coisas que a Bíblia ordena e, ainda mais, a coisas que a Bíblia não ordena. Pode se aplicar à pregação, ordenação, igrejas e denominações, credos e consílios, e seminários. Você pode dizer que essas coisas me ajudam a seguir a Bíblia, mas se a Bíblia é suficiente, então eu não preciso realmente dessas coisas, preciso? Se a suficiência da Escritura ainda permite que eu recuse o que ela ordena – isso é o que você diz –, então quanto mais eu posso recusar o que ela não ordena? Como você pode justificar os seus credos, suas denominações, e seus seminários? Se eu posso ler a Bíblia, e isso é suficiente, por que eu preciso te ouvir pregar? Por que você prega? É porque a Bíblia te diz para “pregar a Palavra”? A Bíblia te diz para fazer toda uma série de coisas que você se recusa a fazer, que você rejeita mesmo em princípio, então que direito você tem de me dizer alguma coisa?

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Esse é o coração do cessacionismo – incredulidade e provocação. A Bíblia é uma base suficiente para condenar qualquer pessoa cessacionista, refutar qualquer credo cessacionista, dissolver qualquer denominação cessacionista, excomungar qualquer ministro cessacionista, e acabar com qualquer professor cessacionista. Se o cessacionista deseja usar a suficiência da Escritura para tomar uma coisa de mim, então eu usarei a mesma doutrina, do jeito que ele usa, para tomar tudo dele. Se você quer cancelar o que a Bíblia ensina acerca de profecia, então eu cancelarei a sua salvação. Se você quer cancelar o que a Bíblia ensina acerca de cura, então eu cancelarei a sua denominação. Eu posso sozinho destruir todas as suas práticas, todas as suas doutrinas, todos os seus credos, todas as suas igrejas e denominações, todos os seus seminários – tudo. Só restará o cessacionismo – uma doutrina de que Deus não faz nada para ele e que ele não pode fazer nada para Deus. Com nada além da Bíblia, eu tenho autoridade suficiente para demandar o arrependimento de qualquer pessoa ou grupo, e se este se recusar, posso demandar sua expulsão ou dissolução. Eu não tenho nenhum poder para coagir, mas a Bíblia é suficiente, e assim, quando eu promover um caso bíblico, será um caso com peso suficiente, de forma que será a Palavra de Deus sobre ele, e ela os contará como responsáveis quando eles desobedecerem o que eu disser a partir da Bíblia. Isso é o quanto eu creio na suficiência da Escritura.

Se você defende uma Escritura que você se recusa a obedecer, então a Escritura é só um monumento, uma decoração. É um símbolo, umslogan, não a Palavra de Deus. Assim como o cessacionista se voltou contra a Escritura, a Escritura se voltou contra o cessacionista. A suficiência da Escritura não é um refúgio para o apóstata, mas é um lembrete de seu ódio por Deus. O argumento cessacionista baseado na suficiência da Escritura contra-explode nele, porque revela o fato de que ele é seletivo sobre o que aceita da Bíblia, e que ele desenvolve sua mente quanto ao que crerá e realizará a parte da Escritura. O cessacionista conspira com Satanás e tenta opor a Escritura contra a Escritura, e contra o próprio Deus. Os fariseus alegavam reverenciar a Escritura, mas quando a Palavra de Deus veio até eles como uma pessoa, os testou e os expôs, eles a mataram em nome da Escritura. Qual é o proveito de você alegar que irá por todo do mundo pregando o evangelho com base na ordenança bíblica, quando na verdade você tornará as pessoas duas vezes mais filhas do inferno do que você?! Precisamente porque a Escritura é suficiente, eu defenderei o que ela ensina e promete. Eu conspirarei com a Escritura contra o cessacionista.

Nós afirmamos novamente que nós cremos na suficiência das Escrituras. A Bíblia é suficiente para definir e ensinar na doutrina, na correção, no conselho, no treinamento, e nos equipar para toda boa obra. Logo, em princípio, não é “necessário” para Deus ensinar uma doutrina a qualquer pessoa, ou prover qualquer direção por meio do que nós chamamos de revelação sobrenatural. Se uma pessoa tem perfeito conhecimento da Escritura e perfeita obediência à Escritura, então, em princípio, a vida dessa pessoa agradaria a Deus, e ele nunca cometeria pecado. Nós concordamos que ninguém possui conhecimento perfeito ou obediência perfeita, mas o ponto é que a Escritura é suficiente, de modo que não há desculpa para ignorância ou desobediência. É possível para uma pessoa passar toda a sua vida tomando as suas decisões com base na Bíblia apenas. Ela poderia nunca receber uma profecia e ainda tomar as decisões corretas. Nesse sentido, a Bíblia é suficiente e outras coisas são desnecessárias, mas o fato dessas coisas serem desnecessárias não significa que elas estão erradas ou que elas cessaram.

Para usar outra ilustração, em princípio, é possível que uma pessoa nunca fique doente. Um dia, quando ela estiver muito velha, ela adormecerá e o seu espírito retornará a Deus. Para ela, a cura será desnecessária, mas isso não nos diz nada sobre a cura estar disponível, ou sobre ser correta ou errada. Muitas pessoas nunca receberam uma profecia, mas muitas pessoas também nunca aceitaram a Escritura pela qual elas alegaram viver e defender. Quando Deus nos revela mais do que é suficiente por causa de sua graça, então eles opõem sua graça contra sua graça, e usam isso para suprimir o seu poder. Esse é o condenável legado demoníaco do cessacionismo.

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Extraído de:
http://www.vincentcheung.com/2017/02/02/scripture-sufficient-against-cessationism/

Traduzido por:
Dione Cândido Jr.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

A CLAREZA DA ESCRITURA – Vincent Cheung

Os cristãos devem evitar dois extremos em relação à clareza da Escritura. Alega-se que a Escritura é totalmente obscura para a pessoa comum, de modo que apenas um grupo de profissionais da elite pode interpretá-la. A outra visão alega que a Escritura é tão simples que nada nela é difícil de entender, e que nenhum treinamento em hermenêutica é necessário para manusear o texto.  Por extensão, a exposição de um teólogo experiente não é mais confiável do que a opinião de uma pessoa inexperiente.

A posição anterior isola a Escritura da população em geral e impede que alguém desafie as interpretações dos profissionais. Mas a outra posição também é perigosa. A Bíblia não é tão simples que toda pessoa possa interpretá-la com igual facilidade e precisão. Referindo-se aos escritos de Paulo, o apóstolo Pedro diz: "Suas cartas contêm algumas coisas que são difíceis de entender". Ele adverte que "pessoas ignorantes e instáveis ​​torcem" as palavras de Paulo, "como fazem com as outras Escrituras, para sua própria destruição" (2 Pedro 3:16). 

Muitas pessoas gostariam de pensar em si mesmas como competentes em assuntos importantes, tais como teologia e hermenêutica, mas em vez de orar por sabedoria e estudar a Escritura, elas apenas assumem que são tão capazes quanto os teólogos ou seus próprios pastores. Esse modo de pensar resulta em confusão e desastre. Qualquer um pode ser ensinado a entender melhor a Bíblia. Não é necessário ser treinado por professores e seminários. É até possível ser autodidata, aprender com os livros, ou até como diz Paulo, ser ensinado por Deus. De um jeito ou de outro, uma pessoa deve ser ensinada e treinada. A educação, diligência, reverência e o dom divino de alguém contribuem para sua capacidade de interpretar e aplicar a Bíblia.

Há aqueles que consideram uma educação no seminário como o único treinamento adequado. Certamente, muitos deles são estudantes de seminário e graduados, e essa afirmação eleva sua espécie a uma forma de sacerdócio exclusivo. Mas é puro lixo e não há razão para que alguém a aceite. Na verdade, o próprio fato de que eles adotam essa invenção humana mostra que a educação no seminário é inadequada e que eles permanecem grosseiramente incompetentes e não espirituais. O Espírito Santo não está morto, e não há nada na Bíblia que exija que Ele ensine seu povo através de seminários, ou mesmo através de igrejas. Qualquer um que afirme o sacerdócio de todos os crentes, que somente Cristo é o mediador entre Deus e o homem, deve também concordar que é possível alguém pegar a Bíblia e ser guiado à verdade por Deus sem nenhum mestre humano.
Só porque a igreja é uma instituição ordenada por Deus não significa que ela seja outro mediador entre Deus e o homem junto com Jesus Cristo. Ela faz o que Deus diz que ela faz e não mais. No entanto, permanece o ponto de que, não importa como isso aconteça, uma pessoa deve receber um ensino confiável sobre as doutrinas e a interpretação da Escritura.
Qualquer um que afirme uma interpretação deve ser capaz de fornecer uma explicação sóbria, reverente e lógica para ela.

Isso não é para minar o lugar dos pregadores e teólogos, mas para manter seu papel como servos de Cristo, e não como uma elite de crentes.
De fato, embora muitas passagens da Bíblia sejam fáceis de entender, algumas delas requerem diligência e sabedoria extra para interpretar. É possível para uma pessoa ler a Escritura e obter dela suficiente compreensão e conhecimento para a salvação, embora às vezes alguém precise da ajuda de um crente fiel:

     Então Filipe correu para a carruagem, ouviu o homem lendo o profeta Isaías e lhe perguntou: "O senhor entende o que está lendo? "
Ele respondeu: "Como posso entender se alguém não me explicar? " Assim, convidou Filipe para subir e sentar-se ao seu lado. (Atos 8: 30-31)

Também é possível aprender os princípios básicos da fé cristã lendo a Bíblia sem ajuda humana. Mas algumas passagens podem ser difíceis de entender. Nesses casos, uma pessoa pode pedir a assistência de pregadores e teólogos para explicar as passagens, mas devemos insistir que eles nunca são necessários em qualquer caso particular, uma vez que somente Cristo é o verdadeiro professor e mediador.

Neemias 8:8 afirma o lugar do ministério de pregação: "Leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido." A autoridade final repousa nas declarações da Escritura e não nas interpretações dos estudiosos. A Bíblia nunca está errada, embora nossa compreensão e inferências dela às vezes possam ser inválidas.[13] Por essa razão, toda igreja deve treinar seus membros em teologia, hermenêutica e lógica, para que possam manusear melhor a palavra da verdade.

Portanto, embora a doutrina da clareza da Escritura conceda a toda pessoa o direito de ler e interpretar a Bíblia, ela não elimina a necessidade de mestres na igreja, mas sim afirma sua importância. Paulo escreve que Deus estabeleceu o ofício ministerial de mestre e que Ele nomeou pessoas para cumprir a função (1 Coríntios 12:28). Mas Tiago adverte que muitos não devem estar ansiosos para assumir esse ofício:

     "Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor." .(Tiago 3: 1).

Em outro lugar, Paulo escreve:
"Não pense de si mesmo mais do que deveria, mas pense de  si mesmo com um julgamento sóbrio." (Romanos 12: 3). O ofício é uma responsabilidade séria. É perigoso reivindicá-lo por orgulho ou ambição. Quanto àqueles a quem Deus escolheu e dotou para serem ministros da doutrina, eles são capazes de lidar com as passagens mais difíceis na Escritura, e podem extrair insights valiosos que podem confundir a outros. Efésios 4:7-13 refere-se a esse ofício como um dos dons de Cristo para sua igreja e, portanto, os cristãos devem valorizar e respeitar aqueles que estão em tal ministério.

Esta geração despreza a autoridade. As pessoas odeiam ser instruídas sobre o que fazer ou o que acreditar, embora pensem dessa forma em parte porque elas têm sido instruidas a assim fazer. A maioria das pessoas não respeita nem mesmo a autoridade de Deus ou da Escritura, muito menos a autoridade da igreja e de seus ministros. Consideram sua opinião tão boa quanto a dos apóstolos, ou pelo menos a dos pregadores e dos teólogos. Sua religião é democrática, não autoritária. Mas a Bíblia ordena aos cristãos que obedeçam a seus líderes:

     Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês. (Hebreus 13:17)

Todo cristão tem o direito de ler a Bíblia e seguir diretamente a Deus, com Cristo como seu único mediador. Mas isso não deve se traduzir em desafio ilegítimo[14] contra o ensino aprendido dos estudiosos ou a autoridade dos líderes da igreja.

NOTAS DE RODAPÉ:

[13] No entanto, isso não transforma a interpretação em uma questão de mera opinião, já que a validade das inferências das Escrituras é uma questão objetiva - isto é, a lógica é objetiva - de modo que todas as interpretações podem ser provadas ou refutadas com uma definição objetiva.

[14] Visto que não há diferença entre obedecer a Deus e obedecer às Escrituras, e visto que a Escritura é o nosso contato direto com a vontade revelada de Deus, o objeto imediato de nossa lealdade é a Bíblia (Atos 17:11), pela qual podemos testar os ensinamentos e práticas daqueles com instrução e autoridade na igreja. Sendo assim, ensinamentos e práticas que negam as doutrinas bíblicas constituem base suficiente para se desafiar a autoridade humana. "Devemos obedecer a Deus antes que aos homens!" (Atos 5:29)

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010. pp. 27-29.

Traduzido por:
Cristiano Lima, em 15/08/2018.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A NECESSIDADE DA ESCRITURA – Vincent Cheung

A Bíblia é necessária para informações precisas e autorizadas sobre as coisas de Deus. Visto que a teologia é central para tudo do pensamento e da vida, a Escritura é necessária como fundamento para tudo da civilização humana. Aqueles que rejeitam a Bíblia, ainda assim, continuam a assumir princípios cristãos para governar seu pensamento e sua vida, embora se recusem a admitir isso.  Uma tarefa do apologista cristão é expor a suposição implícita de premissas bíblicas dos não cristãos, apesar de sua rejeição explícita a elas. Mas, na medida em que qualquer cosmovisão exclui consistentemente premissas bíblicas, ela se degenera em ceticismo e barbarismo.

A revelação bíblica é o único  primeiro princípio justificável do qual se pode deduzir informações sobre questões últimas tais como metafísica, epistemologia e ética. O conhecimento pertencente a categorias subsidiárias, tais como política e biologia, também se limita a proposições dedutíveis da revelação. Sem a revelação como ponto de partida, o conhecimento é impossível. Qualquer outro primeiro princípio não se justifica e, portanto, um sistema que depende dele não pode sequer começar.

A Escritura é necessária para definir todo conceito e atividade cristã. Ela governa todos os aspectos da vida espiritual, incluindo pregação, oração, adoração e orientação.
A Escritura também é necessária para a salvação, uma vez que a informação necessária para a salvação é revelada na Bíblia, e deve ser comunicada a uma pessoa para que ela receba a salvação.
Paulo escreve: "as Sagradas Escrituras ... são capazes de torná-lo sábio para a salvação pela fé em Jesus Cristo" (2 Timóteo 3:15).

Uma seção anterior mostra que todos os homens sabem que o Deus cristão existe e que Ele é o único Deus. Os homens nascem com esse conhecimento. Embora esse conhecimento seja suficiente para condenar a incredulidade e a desobediência, é insuficiente para a salvação. Uma pessoa adquire conhecimento sobre a obra de Cristo diretamente da Escritura, ou indiretamente, quando alguém prega ou escreve sobre a fé Cristã com base na Escritura.

Portanto, a Bíblia é necessária para o conhecimento que leva à salvação, instruções que levam ao crescimento espiritual, respostas às questões últimas e ao conhecimento sobre realidade.
Ela é a precondição necessária para todo conhecimento e para qualquer apreensão racional de Deus e do universo.

Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010. pp. 26-27

Traduzido por:
Cristiano Lima, em 13/08/2018.