sábado, 30 de junho de 2018

CATIVO PELA RAZÃO – Vincent Cheung

[O que segue é uma correspondência editada sobre apologética]

     Gordon Stein perguntou a Greg Bahnsen o que poderia ser um motivo suficiente para convencê-lo que o Cristianismo é falso. Eu não lembro de Bahnsen sendo muito convincente nesta questão.

     Como você lidaria com essa pergunta?

Num sentido, essa questão é difícil de ser respondida. É difícil porque uma vez tendo chegado à minha posição atual sobre as questões filosóficas e sobre a abordagem apologética, qualquer tentativa de conceber como o Cristianismo poderia ser refutado ou eu ser convencido de que ele é falso exigiria em primeiro lugar uma aceitação plena do Cristianismo. Visto que é verdade que as pressuposições da cosmovisão bíblica são as pressuposições necessárias para todo e qualquer pensamento e conhecimento, então é impossível para mim até mesmo conceber que o Cristianismo possa ser refutado.

Bahnsen disse certa vez que se alguém realmente desenterrasse os ossos de Jesus, ele admitiria que o Cristianismo é falso. Sim, se você realmente encontrar os ossos de Jesus, provando que ele nunca levantou dos mortos, podemos dizer tal coisa. Mas isso é quase irrelevante, pois à parte da cosmovisão cristã, como você pode ter uma epistemologia que permita discernir todas as palavras e conceitos da expressão “os ossos de Jesus”, e uma epistemologia que possibilite a você realmente identificar os ossos?

Ou seja, mesmo se admitirmos que tendo encontrado os ossos de Jesus, o Cristianismo é falso, tendo em vista o que já estabeleci em outro lugar, precisamos também admitir que, se o Cristianismo é falso, não podemos de forma alguma identificar os ossos de Jesus. De fato, estabeleci que mesmo dando as pressuposições corretas pelas quais o conhecimento é possível, todos os métodos científicos e empíricos são inerente e logicamente falaciosos, de modo que qualquer conclusão derivada do uso destes métodos é no melhor dos casos opiniões injustificadas, e não conhecimento. Portanto, o Cristianismo não pode jamais ser refutado por qualquer método científico ou empírico, e os ossos de uma pessoa não podem de forma alguma ser infalivelmente identificados, não importa como.

Assim, a pergunta é difícil apenas no sentido que não podemos dar o tipo de resposta que seria esperado por um incrédulo. Mas então, a expectativa do incrédulo é baseada na sua epistemologia irracional, e assim eu não estou racionalmente obrigado a considerá-la. Talvez a resposta mais simples e verdadeira a essa pergunta fosse: “Eu irei crer que o Cristianismo é falso se você puder provar que ele é falso”; ou, sendo mais exato, “Eu irei crer que o Cristianismo é falso se você puder provar aquilo que é verdade ser falso”.

Em outras palavras, eu insisto que é logicamente impossível refutar o Cristianismo, ou mesmo iniciar uma refutação a ele, pois refutar o Cristianismo implicaria estabelecer uma contradição lógica, o que é impossível. É claro, qualquer um pode fisicamente dizer o que quiser, mas isso não implica existir algum sentido nessas palavras, e estou dizendo que nenhum argumento contra o Cristianismo pode ter qualquer sentido que seja.

O máximo que posso fazer é ouvir o incrédulo quando ele tenta refutar o Cristianismo, pois eu nem mesmo posso imaginar como eu faria isso por mim mesmo. Novamente, é claro que os incrédulos podem ter várias idéias, e podem tentar vários argumentos, mas isto porque eles são estúpidos e não percebem que os seus argumentos são um absurdo completo, até que alguém um pouco mais instruído venha chamar a atenção deles para esse fato, e mesmo assim, podem continuar tão cegos que ainda não se dêem conta do seu erro.

Em meus livros, demonstrei estar consciente das questões relevantes e das objeções dos incrédulos, e de como eu responderia a elas. Eu expliquei com clareza nos meus escritos o meu método de apologética, e como esse método pode defender a cosmovisão cristã e refutar os seus oponentes. Portanto, eu não estou partindo do ponto de vista de um fideísmo não-racional ou irracional. Antes, o Cristianismo é tão racionalmente necessário que eu não posso sequer conceber o início da sua refutação sem que o meu próprio sistema de apologética imediatamente derrote a minha tentativa. Então, o incrédulo precisará dar o melhor de si sem o meu auxílio.

Algumas pessoas afirmam que se uma reivindicação não é logicamente falseável, então igualmente não pode ser logicamente estabelecida, ou que não tem qualquer sentido. Mas isto depende do que estamos falando e porque tal coisa não é falseável. E se é o caso que isso não é falseável porque é necessariamente verdadeiro? Se algo é necessariamente verdadeiro, então não é falseável; se algo é falseável, então não é necessariamente verdadeiro. A nossa reivindicação racionalmente justificada é que o Cristianismo é necessariamente verdadeiro.

Agora, se uma pessoa reivindica que nada é necessariamente verdadeiro, então esta reivindicação em si não é necessariamente verdadeira. Essa pessoa precisa oferecer um argumento demonstrando que é necessariamente verdadeiro que nada é necessariamente verdadeiro, mas se o seu argumento é correto, então ele refuta a si mesmo (o que significa que é impossível construir um argumento válido a partir dessa conclusão), e se o seu argumento não é válido, então ele falha em provar a sua conclusão (que nada é necessariamente verdadeiro).

Mas por que precisaríamos aceitar em primeiro lugar qualquer versão do princípio da falseabilidade? Trata-se apenas de uma “bela” desculpa por fracassar em refutar o Cristianismo. Não é minha culpa que os incrédulos sejam intelectualmente débeis. Se não podem competir, que permaneçam fora do ringue ao invés de inventar princípios estúpidos para se justificar.

A minha resposta à sua questão é exatamente o que deve acontecer se é o caso do Cristianismo ser verdadeiro e eu ser cristão. Isto é, a minha mente está atrelada à Palavra de Deus, e tornada cativa pela verdade, de forma que eu não vejo escapatória, mesmo porque não busco uma escapatória. Se eu posso ver uma saída ou se eu desejo uma saída, então ou o Evangelho não tem o poder que reivindica ter, ou não sou realmente um cristão.

Se o incrédulo tem a verdade, então ele teria que demonstrá-la; ele teria que fazer isso sem a minha ajuda. Mas como ele poderia fazer isso sem ser impedido desde o início pelo nosso método bíblico de apologética e pela nossa argumentação pressuposicional?

A verdade é que ele também está cativo pelo Logos de Deus, e pelo seu conhecimento inato dos atributos e das leis de Deus, pelo qual a sua mente pode apenas funcionar nos termos de Deus, mesmo enquanto rebelde contra Cristo, a Razão. Ele está enganado ao pensar que é um “pensador livre”, mas a única coisa da qual está correndo é da Razão – ainda que não possa nunca escapar dela, pois a Razão o esmagará a todo momento, e acabará triturando os seus argumentos fúteis até virarem pó.
 
(Captive to Reason, p. 9-11)

Tradução: Marcelo Herberts
Via: Monergismo.com

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