sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A INSPIRAÇÃO DA ESCRITURA – Vincent Cheung

A Bíblia é a revelação verbal de Deus. É Deus nos falando. É a voz de próprio Deus. A própria natureza da Bíblia indica que a melhor maneira de comunicar a revelação divina é por meio de palavras. Conhecemos a Deus estudando as palavras de Deus, isto é, as palavras da Bíblia. Ela é a fonte mais precisa, acurada e abrangente de informações sobre Deus disponível para nós.

     Toda Escritura é soprada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja plenamente preparado para toda boa obra (2 Timóteo 3:16-17).

Todas as palavras da Bíblia foram sopradas por Deus.[2] Ele fez com que os escritores humanos registrassem as palavras exatas que Ele queria usar para comunicar seus pensamentos. Essa é a doutrina da INSPIRAÇÃO DIVINA.

A Escritura, ou a Bíblia, consiste do Antigo e Novo Testamentos, sessenta e seis documentos no total, funcionando como um todo orgânico. O apóstolo Pedro, certamente, reconhece o Antigo Testamento como Escritura.

     Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles (2 Pedro 3:15-16).

Ele explica que os homens que escreveram as Escrituras foram "impelidos pelo Espírito Santo", de modo que nenhuma parte dela "teve sua origem na vontade do homem", ou veio pela "própria interpretação do profeta" (2 Pedro 1:20-21). Da mesma forma, os apóstolos escreveram sob a inspiração do Espírito.

A Bíblia é uma revelação verbal exata de Deus, de modo que Jesus disse: “Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra” (Mateus 5:18). Deus exerceu um controle tão preciso sobre a produção da Bíblia que o seu conteúdo, até a própria letra, é o que Ele desejava colocar por escrito. A Bíblia revela a natureza e a mente de Deus de uma maneira exata e unívoca.

Há a objeção de que essa alta visão das Escrituras implica uma teoria do ditado da inspiração bíblica, e uma vez que os vários documentos nas Escrituras parecem refletir as diferentes personalidades, cenários e estilos literários dos escritores, a teoria do ditado deve ser descartada, e assim também a inspiração divina é excluída. No entanto, essa é uma objeção não inteligente. Os cristãos lutam para negar a teoria do ditado, mas não há nada intrinsecamente absurdo ou impossível sobre ela. Deus poderia ter ditado seus pensamentos para refletir uma variedade de personalidades e estilos literários para atender seus propósitos e manifestar sua multiforme sabedoria. Não há necessidade de renunciar ao princípio do ditado, uma vez que não há nada de errado com ele.
E como indicado pelos próprios profetas, partes significativas da Bíblia foram de fato ditadas e escritas. Talvez o exemplo mais proeminente seja os Dez Mandamentos – o próprio Deus escreveu nas tábuas enquanto falava, mas Moisés também registrou as palavras exatas que Deus falou. Muitas passagens ditadas são encontradas e claramente identificadas em Isaías, Jeremias, Ezequiel, muitos dos outros profetas e em todas as passagens em que as palavras de Deus são identificadas como citações diretas.

Dado o poder e a sabedoria de Deus, a objeção contra o ditado é irrelevante e é imediatamente derrotada. É uma reação impensada à doutrina da inspiração baseada no preconceito e falsas suposições sobre como Deus deve se revelar em palavras, ou se Ele escolheu o ditado, como deve ter ocorrido. Mas a habilidade de Deus desafia as restrições humanas.

Essa é uma questão de interesse sobre se a inspiração divina aconteceu dessa ou se aconteceu de alguma outra maneira, mas não há problema inerente com o ditado.

Em qualquer caso, uma alta visão da Escritura não implica que tudo dela tenha sido revelado por ditado. E mesmo quando o ditado ocorreu, Deus não ditou sua palavra aos profetas e apóstolos como um homem ditaria suas cartas a uma secretária. Uma pessoa pode assumir que o ditado é a mais alta forma de inspiração, uma vez que é a situação humana mais familiar na qual um escritor registra as palavras exatas de outra pessoa. No entanto, o ditado nesse contexto humano não representa a forma mais elevada de inspiração.

Um homem pode ditar suas palavras para a secretária, mas ele não tem controle sobre os detalhes da vida da secretária – seu nascimento, família, educação, personalidade, circunstâncias e até seus próprios pensamentos. Em contraste, a Bíblia ensina que Deus exerce controle total sobre todos os detalhes de sua criação, na medida que até os pensamentos dos homens estão sob seu controle.[3] Isto é verdade com relação aos escritores bíblicos. Deus então ordenou, dirigiu e controlou os pensamentos e vidas de seus instrumentos escolhidos, que quando a hora chegou, suas personalidades e cenários eram perfeitamente adequados para escrever aquelas porções das Escrituras que Ele havia designado para elas:

     Disse-lhe o SENHOR: “Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o SENHOR? Agora, pois, vá; eu estarei com você, ensinando-lhe o que dizer” (Êxodo 4:11-12).

     A palavra do Senhor veio a mim, dizendo: “Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações”... O Senhor estendeu a mão, tocou a minha boca e disse-me: “Agora ponho em sua boca as minhas palavras” (Jeremias 1:4-5,9).

     Irmãos, quero que saibam que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana. Não o recebi de pessoa alguma nem me foi ele ensinado; ao contrário, eu o recebi de Jesus Cristo por revelação.... Mas Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça. Quando lhe agradou revelar o seu Filho em mim para que eu o anunciasse entre os gentios... (Gálatas 1:11-12, 15-16).

Deus não encontrou as pessoas certas para escrever a Escritura, mas criou as pessoas certas para escrevê-la e depois fez com que a escrevessem[4]. No momento da escrita, o Espírito de Deus as controlou de uma maneira tão deliberada e completa que elas escreveram materiais que eram além do que sua inteligência natural poderia conceber. O resultado foi a revelação verbal de Deus, e foi a própria letra que Ele desejou pôr por escrito. E por seu controle da natureza, da história e da humanidade, Ele tem preservado seu livro este dia.

Portanto, a inspiração da Bíblia não se refere apenas aos tempos em que Deus exerceu controle especial sobre os escritores, embora Ele de fato exerceu esse controle, mas a preparação começou antes mesmo da criação do mundo. Deus controla cada detalhe de cada pessoa e, portanto, de todo escritor bíblico, e não apenas quando eles se sentaram para escrever a Escritura. Em comparação, o mero ditado é mais fraco e implica uma visão mais baixa da Escritura, uma vez que atribui a Deus menos controle sobre o processo.

Essa visão da inspiração explica o assim chamado "elemento humano" na Escritura. Os documentos bíblicos refletem os vários cenários sociais, econômicos e intelectuais dos autores, suas diferentes personalidades e seus vocabulários e estilos literários únicos. Esse fenômeno é o que se esperaria, dada a visão bíblica da inspiração, na qual Deus exerceu completo controle sobre suas vidas, circunstâncias, até seus próprios pensamentos, e não apenas sobre o processo de escrita. Portanto, o "elemento humano" nas Escrituras é parte do que Deus pretendeu produzir, de modo que ele não prejudica a doutrina da inspiração, mas é consistente com ela e é explicado por ela.

NOTAS DE RODAPÉ:

[2] A palavra traduzida "dada por inspiração de Deus" (KJV) ou "inspirada por Deus" (NASB) é theopneustos. Ela significa expiração (expirar) em vez de inspiração (inspirar), de modo que a NIV a traduz como "soprada por Deus". Embora “inspiração” seja um termo teológico aceitável, referindo-se à origem divina da Escritura, e como tal permanece útil, ele não consegue transmitir o significado literal de theopneustos.

[3] A Bíblia nega que o homem tenha "livre arbítrio". Embora a vontade do homem exista como uma função da mente, ela não é "livre" no sentido de poder operar fora do constante e completo controle de Deus.

[4] Alguns chamam essa posição de INSPIRAÇÃO ORGÂNICA, mas outros consideram o termo ambíguo ou enganoso. O ponto é que Deus não meramente sugeriu ou ditou palavras aos escritores, mas controlou todos os detalhes de seus pensamentos e vidas. A doutrina bíblica da inspiração é muito mais ambiciosa que o mero ditado.

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010. pp. 16-19.

Traduzido por:
Cristiano Lima, em 09/08/2018.














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