sábado, 15 de dezembro de 2018

UNIÃO HIPOSTÁTICA  — Vincent Cheung


[...] De maneira semelhante, a formulação doutrinária para a pessoalidade e encarnação de Cristo afirma que Ele é um em um sentido e dois em um sentido diferente. Isto é, Ele é uma pessoa que possui duas naturezas. Para garantir a clareza e coerência dessa doutrina, precisamos definir os termos e relacioná-los à doutrina da Trindade. O modo como o termo "natureza" é usado na doutrina da encarnação é semelhante ao modo como "essência" é usado para a Trindade. Eles se referem à definição de algo, e a definição de algo se refere aos atributos ou propriedades de algo. Uma "pessoa" é novamente definida pela consciência ou intelecto.

Na Encarnação, Deus Filho assumiu uma natureza humana ou atributos humanos. As naturezas divina e humana não se combinaram nem se misturam, de modo que os dois conjuntos de atributos permaneceram separados. Sua natureza divina não foi diminuída por sua natureza humana, e sua natureza humana não foi deificada por sua natureza divina. Uma vez que a natureza divina não foi modificada pela natureza humana, como de fato a natureza divina não pode ser modificada, essa formulação doutrinária reafirma a imutabilidade de Deus, o Filho. E, de fato, uma natureza humana não pode ser deificada e nem a ela pode ser conferida divindade. Uma vez que a divindade é eterna, se a princípio uma pessoa não é divina, ela nunca poderá se tornar divina.

Deus, o Filho, assumiu uma natureza humana, e uma natureza humana deve incluir uma alma ou mente humana. Embora uma "pessoa" seja definida em termos da mente ou do intelecto, a doutrina é que Cristo permanece uma pessoa, embora possua duas naturezas. Isto é assim por causa da definição de uma pessoa como um sistema de consciência, e por causa da natureza da relação entre a mente divina e a mente humana.

Primeiro, devemos insistir que Cristo é uma "pessoa", porque a Bíblia nunca se refere a Ele como "eles", como às vezes faz com a Trindade. Baseado no modo que a Bíblia se refere a Ele, o modo que Ele se refere a si mesmo, e da maneira que Ele se comporta, não há razão para pensar que Ele não é uma pessoa. Assim, há uma necessidade de chegar a uma formulação que retenha a visão de que Cristo é uma pessoa, embora tenha dois centros de consciência. Essa necessidade não é arbitrária, mas é necessária pelos dados bíblicos.

A formulação adequada é afirmar que Deus, o Filho, assumiu uma natureza humana, incluindo uma mente humana, de tal maneira que a mente humana é contida pela mente divina, embora as duas não estejam de forma alguma misturadas ou confusas. Enquanto a mente divina tem controle completo sobre a mente humana, a mente humana não tem acesso livre à mente divina, mas recebe informações e capacidades especiais apenas conforme concedidas pela mente divina.

Na Trindade, existem três sistemas de consciência trabalhando em uníssono, cada um participando plenamente dos atributos divinos. Quando Deus, o Filho, assumiu uma natureza humana, ele também assumiu um centro humano de consciência. Mas permanecem apenas três centros de consciência na Trindade, porque a natureza humana de Cristo não foi deificada. Ela não foi acrescentada à Trindade como tal, uma vez que o humano não pode se tornar divino.

Não há nada intrinsecamente impossível sobre isso, e se esta é a única formulação que acomoda os dados bíblicos, então é a posição correta.

Qualquer objeção baseada na suposição de que atributos divinos e humanos necessariamente contradizem um ao outro quando possuídos pela mesma pessoa, não leva em conta que os dois conjuntos de atributos permanecem separados em Deus o Filho, no sentido de que eles não estão misturados. Por exemplo, embora a natureza divina de Cristo seja onisciente e onipotente, sua natureza humana não é. E isso continua sendo verdade hoje. Seus atributos divinos não deificaram seus atributos humanos, e seus atributos humanos não diminuíram seus atributos divinos. Não há nenhum ponto em que os dois conjuntos de atributos colidam e, portanto, não há lugar ou ocasião para a contradição.

Assim, a doutrina é imune à acusação de contradição, mas é estabelecida se houver uma base bíblica para afirmar que Cristo é tanto Deus quanto homem. [...]

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010. pp. 141-142.

Traduzido por:
Cristiano Lima.

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