segunda-feira, 30 de julho de 2018

A REVELAÇÃO ESPECIAL DE DEUS – Vincent Cheung

Esta é a sua REVELAÇÃO ESPECIAL. Ela contém informações ricas e precisas sobre Deus e as coisas que Ele decidiu que deveríamos aprender. É da Bíblia que obtemos conhecimento necessário para a salvação. É da Bíblia que chegamos a conhecer a mensagem sobre Jesus Cristo, que precisamos ser salvos do pecado e do inferno, e como podemos ser salvos através dele:

      Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu. Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. ( 2 Timóteo 3:13-15)

É possível ao homem conhecer a Deus por meio de sua revelação, porque Deus fez o homem à sua própria imagem, de modo que há um ponto de contato entre os dois, apesar da transcendência de Deus. Animais e objetos inanimados não podem conhecer a Deus da maneira que o homem pode, mesmo se eles fossem apresentados com sua revelação verbal, uma vez que eles não podem recebê-la e entendê-la.

Deus escolheu revelar informações para nós através da Bíblia – em palavras e não em imagens ou experiências; falar ao invés de mostrar. Sua revelação para nós é de natureza racional e intelectual, e não mística ou empírica. A comunicação verbal é superior porque pode ser precisa, acurada e extensiva. Uma vez que a Bíblia assume essa forma de comunicação, um sistema teológico digno deve ser derivado de proposições bíblicas, e não de uma base não verbal, como sentimentos e experiências religiosas, ou construções irracionais, como as teorias científicas.[5]

Todo sistema de pensamento começa com um primeiro princípio, e nessa base deriva o resto por raciocínio indutivo ou dedutivo, ou uma combinação dos dois. A indução é uma falácia formal, uma vez que devido à forma ou estrutura do processo de raciocínio, a conclusão nunca é um resultado logicamente necessário das premissas. A falácia ocorre quando alguém raciocina a partir de particulares para universais. Agora, o raciocínio com base em dados empíricos requer a indução, uma vez que as sensações são particulares, e toda cosmovisão deve conter conceitos e proposições universais, como homem, carro, vermelho, tamanho e assim por diante. Portanto, a indução e o empirismo são irracionais, e um sistema que coloca qualquer dependência sobre ambos deve inevitavelmente entrar em colapso no ceticismo. O ceticismo é a posição de que o conhecimento é impossível, mas é autocontraditória, pois sustenta que podemos conhecer que não podemos conhecer.

A dedução é a única forma válida de raciocínio. Ela procede a partir das premissas para conclusões por necessidade lógica. No entanto, como o raciocínio dedutivo nunca produz informações que já não estejam implícitas nas premissas, o primeiro princípio de um sistema dedutivo deve conter todas as informações para o resto do sistema. Isso significa que um primeiro princípio que é muito estreito deixará de fornecer um número suficiente de proposições para produzir uma cosmovisão abrangente e coerente, ou um sistema de pensamento capaz de responder a todas as questões necessárias. Assim, o conhecimento é impossível com base na indução, empirismo ou qualquer princípio inicial inadequado.

Mesmo que um primeiro princípio pareça ser suficientemente amplo e conter informações suficientes para construir uma cosmovisão, deve haver justificativa para ele, ou alguma razão para afirmá-lo em detrimento de outro. A justificação para um primeiro princípio não pode vir de uma autoridade superior ou de uma premissa anterior, pois então não seria o primeiro princípio. Uma autoridade ou premissa inferior dentro do sistema não pode justificar o primeiro princípio, uma vez que é sobre este primeiro princípio que essa autoridade ou premissa inferior depende. Portanto, um primeiro princípio de um sistema de pensamento deve ser autoautenticado – ele deve permanecer sob sua própria autoridade.

A Bíblia é a autoridade final do sistema cristão; portanto, nosso primeiro princípio, nosso ponto de partida, ou a base de nosso pensamento, é a própria Bíblia. Isso pode ser expresso por qualquer proposição que represente todo o conteúdo da Bíblia, como "A Bíblia é a verdade" ou "A Bíblia é a palavra de Deus".

Embora argumentos empíricos, indutivos e científicos tenham sido formulados em apoio à revelação bíblica, e, embora pareçam ser fortes, dadas as suposições empíricas, de modo que nenhum não cristão inclinado empiricamente possa refutá-los, o cristão deve considerar esses argumentos como não confiáveis – como  tenho discutido extensivamente em outro lugar – todos os métodos empíricos, indutivos e científicos são irracionais e impedem a descoberta da verdade.[6] Além disso, se dependêssemos de argumentos e procedimentos empíricos para justificar a Bíblia, as suposições empíricas seriam, então, como um juíz da própria palavra de Deus, de modo que a Escritura deixaria de ser a autoridade suprema em nosso sistema. Como Hebreus 6:13 diz: "Quando Deus fez a sua promessa a Abraão, por não haver ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo". Como Deus possui a autoridade última, não há autoridade superior pela qual se possa declarar a Bíblia como infalível e inerrante.

Dito isso, nem todo sistema que reivindica autoridade divina tem dentro de seu primeiro princípio o conteúdo para justificar a si mesmo. Um texto sagrado pode contradizer a si mesmo e se autodestruir. Outro pode admitir dependência da Bíblia cristã, mas a Bíblia condena todas as outras supostas revelações. Em qualquer caso, a Bíblia é verdadeira, e reivindica exclusividade, então todos os outros sistemas de pensamento devem ser falsos.
Portanto, se alguém afirma uma cosmovisão não cristã – qualquer cosmovisão diferente do cristianismo bíblico – ele deve ao mesmo tempo rejeitar a Bíblia.

Isso gera um conflito entre as duas visões de mundo. Quando isso acontece, o cristão pode ter certeza de que seu sistema de pensamento é impermeável aos ataques de outros, mas o próprio sistema bíblico fornece o conteúdo tanto para a defesa quanto para o ataque. O cristão pode destruir a cosmovisão não cristã questionando os primeiros princípios e as proposições subsidiária do sistema. O primeiro princípio do sistema contradiz a si mesmo? Ele não consegue satisfazer seus próprios requerimentos?[7] O sistema desmorona porque assume a confiabilidade da sensação, da indução e do método científico? Suas proposições subsidiárias contradizem umas às outras? Ela toma emprestadas premissas cristãs não dedutíveis de seu próprio princípio primeiro? O sistema fornece respostas coerentes para as questões últimas e necessárias, tais como as relativas à epistemologia, metafísica e ética?[8]

O primeiro princípio, o ponto de partida, ou a fundação do sistema cristão é a Bíblia. A partir desse primeiro princípio, o teólogo constrói um sistema abrangente de pensamento. Na medida em que seu raciocínio estiver correto, toda parte do sistema é deduzida por necessidade lógica do primeiro princípio infalível, e é, portanto, igualmente infalível.
E uma vez que a Bíblia é a revelação verbal de Deus, que exige nossa adoração e comanda nossa consciência, um sistema de teologia validamente deduzido da revelação é autoritativo e obrigatório. Portanto, na medida em que este livro for fiel em apresentar o que a Escritura ensina, ele representa o que os cristãos se têm se comprometido a acreditar e no que todos os homens devem acreditar, porque ele representa verdades universais e objetivas que Deus revelou.

NOTAS DE RODAPÉ:

[5] A ciência é irracional porque comete as falácias do empirismo, da indução e da afirmação do consequente (experimentação).

[6] Veja Vincent Cheung, Ultimate Questions, Presuppositional Confrontations, e Captive to Reason.

[7] Por exemplo, um princípio que afirme que toda afirmação deve ser verificada empiricamente não pode ser verificado empiricamente. O princípio destrói a sí mesmo.

[8] Para instruções sobre filosofia e apologética bíblicas, veja Vincent Cheung, Ultimate Questions, Presuppositional Confrontations, Apologetics in Conversation, e Captive to Reason.

_________________
Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Systematic Theology. ed. 2010. pp. 7-9.

Traduzido por:
Cristiano Lima, em 30/07/2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário