quarta-feira, 30 de setembro de 2020

16. MUDANÇA INTERNA E CONDUTA EXTERNA



Já escrevi a você sobre o assunto da tentação e, claro, a melhor coisa a fazer é combatê-la por meio da oração, da meditação bíblica e da leitura extensiva da palavra. Negativamente, podemos nos livrar de algumas das coisas externas que nos tentam, embora meu amigo tenha dito que algo deve ser resolvido de dentro para fora e não de fora para dentro. 



Há alguma verdade em dizer que a santidade é operada de dentro para fora e não de fora para dentro. No entanto, sem saber mais sobre o que a Bíblia diz, isso pode se tornar enganoso, então vamos levar algum tempo para considerar isso. 

Jesus diz em Mateus 12:33-35:  "Considerem: uma árvore boa dá bom fruto; uma árvore ruim, dá fruto ruim, pois uma árvore é conhecida por seu fruto. Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração. O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas, e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más." Ou seja, você não muda o fruto por afetar a árvore, mas é a árvore que determina o tipo de fruto que é produzido. 

Então, ele diz em outro lugar: "Será que vocês ainda não conseguem entender?... Não percebem que o que entra pela boca vai para o estômago e mais tarde é expelido? Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e são essas que tornam o homem ‘impuro’. Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias.Essas coisas tornam o homem ‘impuro’; mas o comer sem lavar as mãos não o torna ‘impuro’ ”(Mateus 15:16-20). Por si só, rituais, cerimônias e tradições religiosas não podem tornar uma pessoa espiritualmente limpa ou impura. Se o coração de uma pessoa está cheio de injustiça, um mero lavar das mãos não fará nada para melhorar sua condição. Assim, o crescimento em santidade não pode consistir apenas em reformar o comportamento exterior. 

Por outro lado, a Bíblia se refere a um aspecto despir / vestir da santificação cristã. O crente rejeita o que é mau e assume o que é bom. À medida que ele resiste às tentações e busca a santidade, ele deve realizar as ações externas apropriadas. 

Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento dos seus corações. Tendo perdido toda a sensibilidade, ele se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza.

Todavia, não foi assim que vocês aprenderam de Cristo. De fato, vocês ouviram falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus. Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.

Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo. "Quando vocês ficarem irados, não pequem". Apazigüem a sua ira antes que o sol se ponha, e não dêem lugar ao diabo. O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.

Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem. Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção. Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo. (Efésios 4.17-32)

Primeiro, há uma diferença fundamental entre não cristãos e cristãos. Os não cristãos são caracterizados pela "futilidade de seu pensamento". Eles estão "obscurecidos em seu entendimento". Mas os cristãos foram iluminados com "a verdade que está em Jesus". A santificação bíblica, então, também visa a este nível fundamental, de modo que os cristãos devem se despojar de seu antigo ser e se renovar em suas mentes, a fim de se revestir de um novo ser (v. 22-24). Portanto, a obra do Espírito Santo na mente, fazendo com que os crentes se conformem e se desenvolvam cada vez mais à imagem de Cristo, é a essência da santificação. 

Mas Paulo não pára por aqui. Este princípio de santificação opera nos crentes para produzir mudanças em seu comportamento, habilitando-os e motivando-os a adotar novas ações e hábitos. Portanto, eles não apenas "abandonam a falsidade", mas agora "falam a verdade" (v. 25). Eles não apenas evitam "conversas prejudiciais", mas agora falam "o que é útil para edificar os outros" (v. 29). Eles não apenas "se livram de ... toda forma de malícia", mas agora se tornam "bondosos e compassivos uns com os outros" (v. 31-32). 

Um contraste especialmente ilustrativo é a instrução de Paulo para abandonar o roubo (v. 28). Parafraseando Jay Adams, que aplica esse princípio no aconselhamento: "Quando um ladrão não é mais um ladrão? Não é quando ele para de roubar, já que nenhum ladrão rouba constantemente. Ele pode estar fazendo uma pausa. Ele pode até estar tentando parar. Mas ele ainda é um ladrão e vai roubar novamente. Um ladrão deixa de ser ladrão apenas quando pára de roubar e começa a trabalhar, compartilhar e atender às necessidades de outras pessoas. Só então a mudança pode ser genuína e permanente." O ato de roubar vem do coração, talvez por cobiça ou algum outro motivo maligno. Portanto, a essência da mudança certamente está na obra do Espírito Santo, aplicando o poder e o preceito de Deus ao coração. Mas então o ladrão deve realmente parar de roubar e começar a trabalhar, e ele não pode começar a trabalhar sem realizar algumas ações externas apropriadas. 

Uma vez que isso é parte integrante do processo de santificação, e não apenas o resultado final, essas ações externas devem ser implementadas desde o início. Aqui está um corretivo para o mal-entendido que pode surgir de uma visão incompleta da santificação. Embora a santificação seja, em certo sentido, operada de dentro para fora, ações santas são exigidas no início como parte integrante do processo de mudança. Uma implicação importante é que nunca há desculpa para continuar a pecar ou negligenciar as boas obras. 

Aplicando isso à nossa própria luta contra as tentações, além da obra interna do Espírito Santo, haverá uma mudança em nosso comportamento externo. A mudança externa não é puramente negativa, mas deve haver um desenvolvimento positivo correspondente. Nosso foco e energia não são direcionados apenas para interromper algo negativo, mas também para iniciar e continuar algo positivo. Nós não apenas nos "despimos" de palavras e ações más, mas agora nos "vestimos" de palavras e ações santas. Assim, a maldade não é apenas abandonada, mas é substituída pela justiça, tanto em nosso pensamento quanto em nossa conduta. O mesmo princípio se aplica quando estamos aconselhando e corrigindo outros cristãos. Devemos fazer mais do que dizer a eles para abandonar o pecado, mas também devemos encorajá-los e ajudá-los a substituí-lo e buscar a justiça. Frequentemente, isso envolverá algumas ações externas concretas.

Certamente, há também o perigo de contornar a transformação interna em favor de reformar apenas a conduta externa, caso em que nenhuma santidade verdadeira e duradoura é alcançada, resultando em autoengano e hipocrisia.  O problema ocorre, entretanto, apenas quando ignoramos parte do ensino bíblico sobre o assunto.  Em nossa passagem de Efésios, Paulo contrasta a diferença espiritual / intelectual básica entre cristãos e não cristãos.  Sua instrução para reformar a conduta externa é baseada neste fundamento.  Fazemos essas mudanças porque conhecemos "a verdade que está em Jesus". 

Portanto, ao falar sobre este princípio de santificação para alguém, primeiro assumimos a regeneração, que é um ato soberano de Deus pelo qual ele muda a disposição básica de uma pessoa do mal para o bem, de um pecador para um santo e de uma filho  de Satanás para um filho de Deus.  Claro que uma árvore boa produzirá bons frutos — o problema é como uma árvore ruim pode se tornar boa.  A Escritura ensina que isso não pode ser feito tornando o fruto bom, visto que é a árvore que produz o fruto, e não o contrário — de alguma forma, uma árvore ruim deve se tornar uma árvore boa.  Como isso pode ser feito?  Uma árvore pode mudar sua própria natureza?  Ou, como Jeremias 13:23 diz: "Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês que estão acostumados a praticar o mal."

Por outro lado, "O que é impossível aos homens é possível a Deus" (Lucas 18:27).  Então o que é? A verdadeira santidade se torna possível apenas quando Deus soberanamente — à parte da decisão e do esforço humano — escolhe mudar a natureza de uma pessoa.  E assim a verdadeira santidade pertence somente aos cristãos, àqueles a quem Deus escolheu para si e preordenou para realizar boas obras (Efésios 2:10).  Todos os não cristãos permanecem na futilidade e nas trevas.




Nenhum comentário:

Postar um comentário