quinta-feira, 12 de julho de 2018

O ARGUMENTO TRANSCENDENTAL PARA O MATERIALISMO[24]

          Ele disse que vai usar o argumento transcendental para o materialismo. Ou seja, devo usar minha boca física para dizer "lógica". Eu devo usar meu corpo físico para estar no debate.

O argumento não provaria o materialismo, mesmo que fosse sólido, porque sua conclusão é menor do que o materialismo. O materialismo afirma que a matéria física é a realidade ou substância primária ou mesmo única, que não há mente ou espírito incorpóreos. O argumento não chega a essa conclusão e nem sequer menciona ou implica isso.

Tudo o que esse argumento faz é sugerir que há um mundo físico e que, quando falamos, o fazemos através de corpos físicos. É isso que o argumento alega, mas nem mesmo prova essa modesta conclusão. Ele não prova que haja um mundo físico. Ele implora a questão afirmando que devemos usar os corpos físicos para falar e estar presentes em um debate, uma vez que assume sem garantia que estamos em um mundo físico em vez de um mundo puramente mental. Ele não mostra que pensamos com cérebros físicos e apenas com cérebros físicos. Não oferece nada para contradizer minha posição que pensamos com nossas mentes incorpóreas e que os cérebros não "pensam" de forma alguma.

Na minha visão, que há um mundo físico não é uma conclusão derivada da sensação ou intuição, mas uma conclusão deduzida das Escrituras. Por "Escrituras", quero dizer a "Palavra de Deus", ou revelação verbal da mente de Deus. Isso significa que não estou falando principalmente do livro físico, como em papel e tinta, mas do conteúdo intelectual não físico representado pelo livro físico.

É claro que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas estritamente falando, a Palavra de Deus não é física, e sim intelectual, já que estamos nos referindo a uma porção da mente de Deus que Ele nos revelou. Se você roubar minha Bíblia e cortá-la em um milhão de pedaços, você destruiria o livro físico, mas não destruiria a Palavra de Deus. É essa Palavra intelectual e indestrutível que é o Primeiro Princípio do meu pensamento.

O conteúdo intelectual da minha Cosmovisão, ou a Palavra de Deus, reside em Cristo, o Logos divino e, de acordo com a providência ordinária de Deus, é comunicado diretamente à minha mente por ocasião das sensações visuais que ocorrem quando leio a Bíblia, mas a parte das sensações visuais em si mesmas. As sensações proporcionam a ocasião para Deus agir em minha mente, mas em si mesmas não comunicam nenhuma informação.

Esta é uma forma de ocasionalismo. Não é inteiramente nova, mas se sobrepõe à teoria da iluminação de Agostinho, à "visão em Deus" de Malebranche e a várias formas da "doutrina do logos". No entanto, a minha não é idêntica à deles. É mais bíblica na medida em que é conscientemente colocada sobre um fundamento exegético, e evita as suposições não bíblicas em outras versões do ocasionalismo. Além disso, eu a aplico consistentemente a todos os aspectos da realidade. Mas, na verdade, não é nada além da implicação necessária da doutrina bíblica da providência de Deus sobre cada detalhe de sua criação.

Eu posso derrotar esse tipo de argumento, propondo que podemos estar tendo o debate em um mundo puramente mental, ou em um sonho. Como podemos saber o contrário? Desde que minha filosofia não depende de sensação ou indução, isso não me prejudica em nada. Posso usar os mesmos argumentos com o mesmo efeito, quer eu esteja ou não debatendo no mundo mental ou no mundo físico. No entanto, como meu oponente é empirista ou materialista, ele depende do mundo físico e de uma epistemologia física, de modo que ele precisa primeiro provar que estamos tendo o debate em um mundo físico.

NOTA DE RODAPÉ:

[24]  O que se segue é uma correspondência editada. É a minha resposta ao assim chamado o “argumento transcendental para o materialismo"

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Captive to Reason. ed. 2009. pp. 29-30

Traduzido por:
Cristiano Lima, em 11/07/2018

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