sexta-feira, 22 de junho de 2018

O AXIOMA DE GABRIEL – Vincent Cheung

"Como será isso", perguntou Maria ao anjo, "desde que sou virgem?"

O anjo respondeu: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; Porque para Deus nada é impossível.".

"Eis aqui a serva do Senhor", respondeu Maria. "cumpra-se em mim segundo a tua palavra". Então, o anjo a deixou. (Lucas 1: 34-38)

Aqui, Deus envia o anjo Gabriel para dizer a Maria que ficará gravida e dará à luz uma criança. Não será uma criança comum. Como o Filho do Altíssimo, ele será divino. E como ele nascerá através de uma mulher, ele também será humano. Ele será a encarnação da deidade. De acordo com a promessa de Deus, ele tomará posse permanente do trono de Davi. E, ao contrário daqueles que o prefiguraram, este rei nunca morrerá, e seu reino nunca cairá.

Maria está perplexa. Ela não pergunta sobre este Filho do Altíssimo ou pelo trono de Davi ou pela permanência do reino. Mas, ela diz: "Como será isso, desde que eu sou uma virgem?". Nos tempos passados, Deus capacitou mulheres estéreis a conceber, ele fez Abraão e Sara férteis na sua velhice. No entanto, conceber sem a participação de um homem é algo que nunca tinha sido feito. Não há precedentes, mesmo nos registros dos atos de Deus.

Gabriel começa com uma resposta relativamente específica: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra". Não é uma explicação detalhada ou mecânica, mas ele deixa claro que este será um ato do poder divino, fazendo referência específica ao papel do Espírito Santo. Ele também conta a Maria sobre Isabel, que, naquele momento, estava grávida de seis meses, embora estivesse estéril anteriormente. Então, o anjo apela a um princípio básico que abrange ambos os acontecimentos: "Porque para Deus nada é impossível".

Isso nos mostra algo sobre o método e o conteúdo de seu pensamento. O plano da salvação agora se sobrepõe a uma questão de biologia ou, em um nível mais básico, a uma questão de possibilidade. Para discursar sobre isso, Gabriel primeiro menciona o que Deus está prestes a fazer e o que Deus já fez. Embora isso seja significativo, seu último apelo não é feito para os atos de Deus na história passada e futura, mas ao seu conhecimento da natureza de Deus, afirmado em uma proposição abrangente e resumida, que é inteligível, mesmo que o ato seja diferente da história das ações divinas. Não depende da história da redenção; antes, a história da redenção é explicada por isso e depende disso. Quanto ao conteúdo, é simplesmente assim: "Porque para Deus nada é impossível". Esta é uma excelente teologia.

As objeções contra a onipotência divina cometem falácias categóricas, entre outras coisas. "Deus pode criar uma rocha tão grande ou pesada que ele não possa levantar?" é um desafio superado, mas vem em diferentes formas e isso ilustra o fracasso das outras tentativas. Este, também, é um justo padrão de ensino, uma vez que oferece a oportunidade de seguirmos Gabriel em seu apelo a um axioma básico da natureza divina, ou seja, a Bíblia ensina que "Deus é espírito"; portanto, tamanho, peso e outras propriedades físicas não se aplicam a ele, e quando ele move uma pedra, ele não a "levanta". O desafio comete um erro categórico e reflete a ignorância costumeira de não-cristãos.

Então, eles perguntam se Deus pode realizar uma contradição, tipo "Deus pode criar um círculo quadrado? "Isso é respondido observando a natureza de uma contradição, de modo que, devido a contradição ser o que é, essa tentativa também comete uma falácia categórica. Uma contradição, na verdade, não é nada. Isto, muitas vezes, é obscurecido pelo fato de que ainda podemos dizê-la. Para ilustrar esse ponto, nós podemos pronunciar frases sem sentido, suponha que eu pergunte: "Deus pode andar com uma omelete de chave de gato porta super?" Até eu não sei o que isso significa. Não consigo conceber uma omelete de chave de gato porta super, nem sei se é algo para andar com alguém. Posso afirmar a questão, mas é sem sentido, e porque não tem sentido, não é uma questão que se aplica à capacidade de Deus. Da mesma forma, embora possamos dizer absurdos como "um círculo quadrado" ou "uma rocha que não é rocha", isso não significa nada. Não são coisas para serem criadas, nem quem fala sobre elas sabe o que elas querem dizer. Nós sustentamos que a onipotência divina é um conceito coerente e real.

Quando o homem abandona os axiomas da revelação ou as proposições básicas sobre a natureza de Deus, poder e sabedoria, seu intelecto despenca das alturas do céu até as profundezas do inferno. Agora seu pensamento se parece com os animais ao invés dos anjos, e ele se esforça, cada vez mais, para tornar-se estúpido. Quando confrontado com questões de possibilidade, ele apela às suas sensações, observações, experimentações e coisas semelhantes. Isso coloca um falso, artificial e estreito limite naquilo que ele poderia considerar possível - não porquê a realidade seja tão estreita quanto o não-cristão pensa, mas porquê sua mente é muito pequena e sua inteligência bastante débil. Sem axiomas verdadeiros e básicos para ancorar seu sistema, e sem métodos parecidos para guiar o seu pensamento, toda a sua ciência e filosofia são falsas e são produtos de arbitrariedade, conjecturas e especulações. Todos os seus argumentos são falaciosos e sua aprendizagem consiste de fantasias em vez de descobertas.

A verdadeira religião primeiro se preocupa consigo mesma e não com a dignidade e o progresso do homem, mas com a majestade e o poder de Deus. Esta é uma condenação contra todas as filosofias dos homens e muitas escolas e tradições teológicas. Pode parecer óbvio que, quando pensamos em Deus, devemos assumir que ele pode fazer todas as coisas, e que esse princípio básico deve determinar nossa idéia do que é possível. Mas, isso não é óbvio para todos. Ao invés de começar com o poder de Deus, há aqueles que começam a pensar, mesmo quando se trata de teologia, com o que eles consideram como habilidades, descobertas e experiências dos homens. Eu digo "o que eles consideram", porque eles sempre se confundem mesmo com respeito às habilidades, descobertas e experiências dos homens.

Deus é o fundamento da teologia, e uma vez que isso é estabelecido, o resto das doutrinas são afirmadas sem nenhuma tensão ou contradição. Estas são doutrinas como a inspiração, preservação e a canonização da Escritura, a criação do homem e do mundo, a ressurreição de Cristo e do seu povo e a predestinação dos indivíduos para o céu e o inferno. Como Paulo disse: "Pois quê? julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?" (Atos 26:8). E Jeremias disse: "Ah Senhor DEUS! Eis que tu fizeste os céus e a terra com o teu grande poder, e com o teu braço estendido; nada há que te seja demasiado difícil" (Jeremias 32:17). O fundamento dessas afirmações é que nada é impossível para Deus.

O último apelo de Gabriel é um princípio sobre a natureza e o poder eterno de Deus e não sobre a história da redenção ou sobre o progresso da revelação. O ensino e sua aplicação não podem ser restringidos por eras e épocas. Deus pode fazer qualquer coisa que ele quiser e quando ele quiser. Se ele não faz nada, não podemos fazê-lo fazer algo. Se ele faz alguma coisa, não podemos detê-lo.

Que ninguém lhe perturbe, portanto, com doutrinas que impõem limitações fabricadas à soberania e à onipotência de Deus. Podemos ter confiança nas doutrinas da fé cristã. Elas são imunes às refutações baseadas em axiomas não-cristãos e conceitos de possibilidade. E como Deus é transcendente e imanente, podemos ter confiança na capacidade de Deus de cuidar, proteger e cumprir suas muitas promessas preciosas em nossas vidas.

Fonte: Sermonettes, Vol 2, Vincent Cheung, 4-6

Tradução: Eric N. de Souza

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