quinta-feira, 21 de junho de 2018

OCASIONALISMO: UMA QUESTÃO DE METAFÍSICA – Vincent Cheung

Quando me refiro ao ocasionalismo (falo apenas por minha versão), estou falando primeiramente sobre metafísica, não epistemologia. Quando eu o aplico na epistemologia, é a metafísica da epistemologia, ou o aspecto metafísico da epistemologia.
Parece muito pouco frequente encontrar um filósofo que inclua uma metafísica da sua epistemologia - não uma metafísica a parte da sua epistemologia, mas uma metafísica da sua epistemologia. No entanto, a metafísica é essencial, porque o conhecimento não acontece sem a realidade (por definição, nada acontece sem a realidade), de modo que a visão do conhecimento está incompleta e, de fato, impossível sem uma visão da realidade, e esta visão da realidade deve ser coesa à visão do conhecimento. Podemos argumentar sobre qual precisamos falar primeiramente, mas, finalmente, precisamos de ambas, e elas precisam concordar entre si e apoiar uma à outra.
O empirista afirma que o conhecimento vem da sensação, mas metafisicamente, como isso pode acontecer, e como isso acontece? Que tipo de mundo é este, em que o que ele diz é possível e verdadeiro? Esta deve ser uma realidade em que é possível e verdadeiro a sua teoria do conhecimento, e sua teoria do conhecimento deve ser capaz de explorar e explicar essa visão da realidade. Se ele falhar em metafísica ou epistemologia, ou se ele falhar quando relacionando as duas, então ambas, a metafísica e a epistemologia, irão desmoronar.
Isso é simples. Há duas coisas. Elas são duas grandes coisas. Elas são duas grandes coisas diferentes. Mas mesmo isso parecendo grande para algumas pessoas, para que elas assumam para si a tarefa de pontífice, contudo elas não podem sequer distinguir e manter o controle sobre estes tópicos grandes-demais-para-falhar. Existem ainda algumas pessoas que, achando-se inteligentes, declaram que meu ocasionalismo é como o empirismo, ou apenas o empirismo disfarçado, já que às vezes falo sobre o que pode acontecer numa mente quando ocorre uma sensação. Ora, embora o ocasionalismo lhes seja estranho, parece que eles também são ignorantes sobre o empirismo, porque se eles entendem de ocasionalismo ou empirismo, seria impossível fazerem uma crítica assim.
Sob o empirismo, o conhecimento vem das sensações, e as sensações são basicamente confiáveis (seja lá o que isso signifique). Sob o ocasionalismo, nada provém das sensações e quais delas vem à mente não tem nada a ver diretamente com as sensações, pode ser completamente diferente, independente de, e mesmo contrário aos objetos e eventos que ocasionaram as sensações. Na verdade, um pensamento pode ocorrer na mente sem as sensações correspondentes, ou dez mil sensações podem ocorrer sem qualquer pensamento chegar à mente. Como isso é empirismo? Talvez eles tenham dificuldade com isso porque a questão da metafísica, ou da metafísica da epistemologia, nem mesmo ocorreu a eles, e seja o que for que eu diga, eles ainda estão detidos na avaliação da aquisição de conhecimento, enquanto estou falando sobre um tópico diferente. Eu estou oferecendo algo que eles não percebem que precisam.
Sob o empirismo, se você vê um carro vermelho, você pensa estar supondo que você vê um carro vermelho, e você pensa isso porque você tem a sensação de que você vê um carro vermelho. Sob o ocasionalismo, se você olhar para um carro vermelho, na ocasião em que isso acontece, o pensamento que pode ocorrer em sua mente é de que você vê um elefante verde, ou de que você sente cheiro de café, ou de que você realmente vê um carro vermelho, ou nenhum pensamento pode ocorrer de todo. Não tem nada a ver com que se o pensamento é verdadeiro ou falso, e não tem nada a ver com julgar se o pensamento é verdadeiro ou falso. Deus causa dois eventos independentes, mas na mesma “ocasião”, para que eles pareçam estar relacionados, quando na verdade não são relacionados em si mesmos. Como isso é empirismo?
Você se pergunda, se isso não tem nada a ver com julgar um pensamento, então o que é bom? Mais uma vez, nós não estamos falando sobre esse tópico. Isso é metafísica. Eu estou falando sobre ser e causa. É uma descrição de como algo acontece, e como ocorre alguma coisa. Essa é a mesma descrição que eu utilizo para a vontade humana, a colisão de objetos, a digestão de alimentos, e tudo o que acontece na realidade. Deus faz com que cada coisa aconteça, e cada coisa não está relacionada à outra coisa, exceto pela relação aparente de que Deus arranja, quando ele causa, com que duas coisas ocorram na mesma “ocasião”. Não é epistemologia como tal, mas deve ser aplicado à epistemologia, porque a realidade inclui o conhecimento, e o conhecimento precisa “acontecer” na realidade, assim como alguma coisa precisa acontecer na realidade.
Ocasionalismo, de imediato, não tem nada a ver com ser algo é verdadeiro ou falso, bom ou mau. Ele só tem a ver com o fato de que algo acontece. Podemos tomar uma analogia a partir da diferença entre a física e a ética. A física pode descrever como uma pessoa que pega uma faca e a pressiona contra outra pessoa. Mesmo “pessoa” e “faca” não estando estritamente sob a física iremos permitir os verbos, nós podemos dizer, “A pega B, e pressiona B contra C”. Isso não tem nada a ver com o bem e o mal. É apenas uma descrição de um evento. Você não pode nem mesmo chamar isso de “matar” a menos que você traga biologia dentro disso. Alguém poderia perder o ponto se ele acusa essa declaração da física como uma teoria defeituosa da ética, visto que não lhe diz se o evento é bom ou mau. Qualquer teoria da física seria imune a uma crítica tão absurda assim, pois seria um erro categórico. Você poderia chamá-lo de assassinato somente sob a ética, e faria este julgamento de acordo com os princípios morais de sua visão de mundo.
A física e a biologia são necessárias para este caso de ética, e assumidas, mesmo se não mencionadas, visto que um caso de assassinato deverá acontecer na realidade. O ocasionalismo descreve, a partir da perspectiva metafísica, porque você pode ter um pensamento quando ocorre uma sensação, mas não aborda diretamente a questão de saber se o pensamento é verdadeiro. Ele está falando de metafísica. A verdade é avaliada por um outro conjunto de princípios, tais como as leis da lógica e os axiomas de um sistema. Se você não pode julgar algo como verdadeiro pelos princípios epistemológicos da sua visão de mundo, então você não os conhece como verdade de acordo com sua visão de mundo. Você poderia, no entanto, ainda mantê-lo conforme a sua opinião.
Por alguma razão, parece que muitas pessoas não têm a capacidade mental em considerar eventos como eventos. Assassinato, conforme assassinato, é eticamente errado, mas é possível falar sobre o assassinato como um evento partindo apenas de perspectivas metafísicas, físicas e biológicas. Assim eu me refiro a Deus como “o autor do pecado” sob a perspectiva da metafísica ou da ontologia, porque ele é o autor de cada objeto e de cada evento neste sentido. De alguma forma, essas pessoas não envolvem suas mentes em torno disso. No entanto, isso não é algum espetáculo secundário da teologia, mas a base de tudo. Se você não reconhece esse ponto, então, em princípio, não pode avançar para qualquer outra coisa no seu sistema.
Assim como aquelas pessoas que não podem distinguir metafísica de epistemologia, ou conceber a necessidade de metafísica para a epistemologia, parece que alguns cristãos não têm a capacidade mental para distinguir entre teologia/metafísica e soteriologia/ética, e concebem a necessidade de uma teologia/metafísica para soteriologia/ética. Pessoas os perguntam sobre uma questão de metafísica, como se o homem dispõe de livre-arbítrio, e eles respondem com algo de soteriologia, como dizer que a verdadeira liberdade é a obediência a Deus. Isso, entretanto, não aborda o tema. Eles necessitam de inteligência para fazer distinções categóricas básicas. Essas pessoas não são qualificadas para julgar o que eu digo.

Extraído de: http://www.vincentcheung.com/…/occasionalism-a-matter-of-m…/
Traduzido por Dione Junior

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