(O que se segue é uma resposta editada a uma pergunta de um leitor, me enviada há algum tempo atrás. A pergunta foi trazida no contexto de minha Systematic Theology, mas é também relevante para a entrada anterior no blog, Van Til and Common Ground).
Eu afirmo que o homem tem um conhecimento inato de Deus, com claridade e conteúdo suficiente, de forma que ele não tem escusa para negar a existência de Deus ou desobedecer-Lhe.
Contudo, eu nego que um sistema de teologia possa ser baseado em nosso conhecimento inato de Deus. Ou, para dizer de outra forma, eu nego que o nosso conhecimento inato de Deus possa ser o primeiro princípio da cosmovisão bíblica — há conteúdo, claridade e objetividades insuficientes, entre outras razões.
Este é o porquê eu nunca apelo à intuição para justificar qualquer parte da minha teologia ou para fazer apologética. Um entendimento acurado do conteúdo e da extensão do nosso próprio conhecimento inato de Deus vem, antes de tudo, da revelação verbal.
Para dizer isto de uma outra forma ainda, embora eu afirme que temos um conhecimento inato de Deus, eu não baseio nossa fé e certeza ou a nossa teologia e apologética neste conhecimento inato; antes, devemos basear estas coisas na revelação verbal.
Eu “apelo” ao conhecimento inato em meus escritos, mas eu nunca faço isto como se a verdade do Cristianismo descansasse sobre isto como o seu fundamento, ou como se este conhecimento inato fosse em si mesmo a prova de que o Cristianismo é verdadeiro. De outra forma, isto se tornaria um apelo à intuição humana, e o argumento se tornaria subjetivo.
Antes, eu apelo a este conhecimento inato somente para explicar o porquê as pressuposições bíblicas não são negadas na prática, mas são implicitamente assumidas até mesmo por incrédulos, e para explicar em que sentido temos um fundamento comum ou um ponto de contato com os incrédulos quando pregando o evangelho para eles.
Assim, embora eu afirme que a Escritura seja deveras logicamente inegável, quando eu uso “inegável” no contexto da discussão do conhecimento inato do homem, a ênfase então não está sobre a inegabilidade da Escritura, mas que algumas premissas bíblicas centrais não podem se negadas na prática, a despeito das reivindicações ao contrário dos incrédulos.
Assim, nos referimos ao conhecimento inato não para provar a Escritura (antes, é a Escritura que prova o conhecimento inato), mas somente para explicar por que podemos nos comunicar com incrédulos e como nos relacionar propriamente com eles.
Em outras palavras, quando estamos falando do conhecimento inato de Deus, estamos considerando o aspecto estratégico da apologética, e não estritamente o aspecto racional. Que a Escritura é logicamente inegável é demonstrado engajando-se os próprios conteúdos da Escritura, e não do conhecimento inato do homem.
Algumas pessoas têm falhado em notar esta distinção em meus escritos (ou equivocadamente pensam que eu tenho falhado em fazer esta distinção em meus escritos), de forma que elas falsamente me acusam de ser incoerente sobre este ponto (isto é, como se eu negasse a intuição e então apelasse a ela). Antes, no meu sistema de teologia e apologética, (se não fosse o fato de que a Escritura o ensina) podemos jogar fora o conhecimento inato do homem e ele permanecerá essencialmente não afetado (embora alguns ajustes práticos seriam precisos), visto que ele não depende do conhecimento inato do homem.
Então, você escreve: “Estou pensando que talvez o que seja suprimido é o conhecimento inato de Deus que está escrito em todo coração do homem”. Isto está exatamente correto. Mas você poderia gostar de saber o porquê isto ainda é chamado de conhecimento, se ele é suprimido ao ponto de ser negado. A explicação é que apenas porque você conhece algo não significa que você conscientemente pense sobre ele em todo tempo. Contudo, se você conhece algo, isso implica que ele pode potencialmente ser recordado.
Isto tem similaridades com o que as pessoas querem dizer quando elas se referem à memória reprimida, embora eu seja cauteloso quanto às implicações que podem vir do uso desta palavra. Quando chega ao conhecimento inato de Deus, a Escritura ensina que os pecadores conhecem a Deus em suas mentes, mas que eles têm, de uma maneira moralmente culpável, suprimido ou reprimido este conhecimento. Greg Bahnsen chama isto de o “auto-engano” do pecador.
Na regeneração, o pecador eleito é despertado, como se de um sono profundo, para a sabedoria e conhecimento, e para a luz de Cristo e da Verdade:
“Mas, tudo o que é exposto pela luz torna-se visível, pois a luz torna visíveis todas as coisas. Por isso é que foi dito: Desperta, ó tu que dormes,, levanta-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti” (Efésios 5:13–14)
Para ler mais sobre o conhecimento inato de Deus, e suas implicações e usos, por favor, veja minha Systematic Theology, Ultimate Questions, e Presuppositional Confrontations.
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Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto. Cuiabá-MT, 29 de Junho de 2005.
Via: http://www.monergismo.com/
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