sábado, 21 de julho de 2018

O ARGUMENTO TRANSCENDENTAL – Vincent Cheung

O ARGUMENTO TRANSCENDENTAL, às vezes chamado de argumento abdutivo, argumenta a partir de um  conhecido ou reconhecido Y para uma precondição necessária X. Ou, como Robert Stern explica:

Como uniformemente apresentado, geralmente se diz que os argumentos transcendentais são distintos ao envolver um certo tipo de afirmação, a saber: "Para Y ser possível, X deve ser o caso" onde Y é um fato indisputável sobre nós e nossa vida mental (por exemplo, que temos experiências, usamos a linguagem, fazemos certos julgamentos, temos certos conceitos, realizamos certas ações, etc.), mas exatamente o que é substituído por X, é onde está aberto a debate nesse estágio. [12]

Um aspecto do sistema bíblico de apologética envolve discutir que dado qualquer Y, a precondição necessária X é a cosmovisão bíblica.

Por exemplo, a ciência assume a uniformidade da natureza (Y), mas ela não pode provar esse princípio — ele é assumido irracionalmente. A cosmovisão bíblica (X) é a precondição necessária para tornar essa suposição inteligível.[13] Agora, a cosmovisão bíblica, na verdade, nega a uniformidade da natureza, mas afirma a doutrina da providência ordinária. Ou seja, é Deus quem controla o mundo, e Ele o faz de maneira regular, embora Ele seja livre para se desviar de sua prática usual sempre que desejar. Em todo caso, uma vez que a cosmovisão bíblica é a precondição necessária para a suposição de qualquer regularidade no mundo, ela é uma pressuposição necessária que torna a ciência inteligível. Isso não significa que a ciência seja racional ou que suas teorias e conclusões sejam verdadeiras, mas significa que ninguém pode sequer dar sentido à ciência, a menos que os princípios bíblicos sejam pressupostos. A implicação é que a ciência nunca pode refutar a Escritura ou até mesmo argumentar contra ela.

A revelação bíblica gera um tipo particular de argumento transcendental que é irrefutável, uma vez que no processo de argumentação ela mostra que a cosmovisão bíblica (X) é aplicável a todo e  qualquer Y. O que quer que seja afirmado como verdadeiro ou inteligível no contexto do debate, a cosmovisão bíblica é sua precondição necessária.
Isso é verdade até mesmo em relação a argumentos contra o cristianismo — sem que a cosmovisão bíblica seja a pressuposição, nenhuma objeção contra o cristianismo sequer é inteligível.[14]
Isso ocorre porque qualquer argumento, seja lá o que for que ele prove, é necessariamente precedido por princípios sobre epistemologia, metafísica, lógica, linguística e assim por diante — coisas que, em primeiro lugar, tornam o argumento possível ou inteligível. E podemos argumentar que apenas a Bíblia fornece esses princípios necessários. Mas, uma vez que a Bíblia é reconhecida como verdadeira, então obviamente nenhuma objeção contra ela pode ser verdadeira.

O movimento transcendental na apologética bíblica é, estritamente falando, mais uma estratégia ou método do que um argumento. Embora ele seja popularmente creditado a Cornelius Van Til e Greg Bahnsen, suas tentativas é um completo fracasso. Mesmo quando alegam defender a fé cristã, eles tentam proteger muitos princípios não cristãos, e o método deles é de colocá-los em uma base cristã para que eles possam "dar conta" deles.
Assim, eles fazem Deus e as Escrituras cúmplices da falsidade, e fundem Cristo e Satanás em um matrimônio profano. Eles, juntamente com seus seguidores, até mesmo têm tornado o argumento contra a fé cristã pela insistência de que algumas pressuposições não cristãs, incluindo a confiabilidade da sensação, fornecem a precondição necessária para nosso conhecimento da Escritura.[15] Esse sistema sincrético equivale a um ataque à fé cristã forçando juntos princípios cristãos e não cristãos, muitas vezes a favor dos últimos.

Além disso, é discutível que eles têm produzido apenas palpites e sugestões da aplicação do método transcendental, e certamente nada perto de uma demonstração suficiente. Por outro lado, Gordon H. Clark realizou essa tarefa com admirável sucesso e eficácia:

     "Os problemas da história, da política e da ética, como tem sido argumentado, exigem para sua solução certos pressupostos teístas. Aparentemente, o melhor procedimento geral para quem deseja recomendar o teísmo cristão é mostrar que outras formas de teísmo são misturas inconsistentes. Se algumas de suas proposições deveriam ser levadas às suas conclusões lógicas, naturalismo e eventualmente ceticismo resultariam; enquanto que, se justiça deve ser feita à possíveis interpretações de suas outras afirmações, o cristianismo teria que ser assumido.[16]

NOTAS DE RODAPÉ:

[12] Robert Stern, Transcendental Arguments and Scepticism; New York: Oxford University Press, Inc., 2000; p. 6.

[13] Veja Vincent Cheung, Ultimate Questions.

[14] Para um exemplo, veja Vincent Cheung, "The Problem of Evil." Veja também Vincent Cheung, Ultimate
Questions e Presuppositional Confrontations.

[15] Eu tenho refutado isso em Ultimate Questions, Presuppositional Confrontations, e Captive to Reason.

[16] Gordon H. Clark, The Christian View of Men and Things (Trinity Foundation, 1998), p. 155.

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Extraído de:
CHEUNG, Vincent. Sytematic Theology. ed. 2010. pp. 39-41.

Traduzido por:
Cristiano Lima, em 21/07/2018.

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